quinta-feira, 29 de maio de 2008

Tolerância já não basta, precisamos Viver as Diferenças

Após assistir a 1ª parte do vídeo sobre o Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras, conversarmos com Pai Rivas por telefone sobre o assunto e esse contato permitiu desdobramentos interessantes dos quais gostaria de dividir e dar continuidade nas listas.

Todo o trabalho do Centro de Cultura Viva é fruto direto da percepção da humanidade como uma realidade plural em todos os seus sentidos. As afinidades espirituais e materiais, suas relações sociais, suas histórias definem como as comunidades se formam e habitam os dois lados da vida. Assim, para o Centro de Cultura Viva reunir a Pajelança, Caatimbó, Toré, Encantaria, Terekô, Mabassa e tantos outros elementos ligados a Tradição Afro-brasileira é necessário refletir sobre o convívio pacífico de todos.

Para ajudar essa reflexão, Pai Rivas lembra que não é de hoje que temos no conceito de "Tolerância com as Diferenças" uma referência para a busca da Paz em seus diversos e complementares aspectos. Todavia só ela não é suficiente para atender nossa necessidade coletiva de harmonia, equilíbrio e estabilidade seja espiritual ou material.

Assim Pai Rivas identifica três níveis de compreensão sobre o assunto.

Androgônico. Tolerar a Diferença. Cabe ao indivíduo entender e admitir o outro com seu arcabouço de pensamentos, sentimentos e ações. É uma percepção positiva.

Cosmogônico. Respeitar a Diferença. Mais do que tolerar, o indivíduo compreende que o conjunto pensamento/sentimento/ação do outro faz parte da diversidade humana e do ângulo de interpretação de cada um. Encontramos a percepção relativa.

Teogônico. Viver a Diferença. Nesse estágio, o indivíduo se integra harmonicamente à pluralidade sem perder suas características ou, dito de uma outra forma, reforçando o elo pelas semelhanças. Estamos falando de uma percepção superlativa.

Essa visão didática também demonstra que os níveis androgônico e cosmogônico estão mais relacionados ao "estar" tolerante e respeitoso. São condições passíveis de mudança a qualquer momento. Já o nível teogônico se relaciona ao "ser", pois afinal viver é algo inerente ao Espírito.

Quando citamos as diferenças, não nos referimos as desigualdades. A "diferença" nos leva a pensar em elementos dentro de um mesmo plano. A "desigualdade" remete elementos em planos diferentes. Pai Rivas exemplifica através das cores. Dizer que o azul não é igual ao amarelo demonstra uma diferença. Afirmar que o azul é melhor que o amarelo incita a desigualdade.

Uma outra forma de entender o conceito é observar que a Diferença gera Diversidades e a Desigualdade gera Adversidades.

Talvez alguns irmãos listeiros estranhem esses conceitos. Podem até mesmo vir a perguntar se Pai Rivas está se contradizendo, pois até ontem defendia com segurança o conceito de Tolerância com as Diferenças.

Com naturalidade respondemos que estas palavras estão complementando o entendimento inicial. Não é a toa que Pai Rivas afirma para seus filhos espirituais pararem de ouvi-lo no dia que ele começar a repetir as mesmas coisas. Afinal, a Umbanda é uma Unidade Aberta e em constante construção.