Aranauan, Saravá, Axé!
Por que você fica tanto tempo no terreiro? Seu pai/mãe de santo é mais importante do que eu? O que você faz com essas guias no pescoço? Você não acha sua postura fanática?
Essas são algumas perguntas, talvez todas elas, que o adepto da vida religiosa afro-brasileira precisou responder pelo menos uma vez. Pai Rivas, em seu vídeo publicado neste link http://sacerdotemedico.blogspot.com.br/2013/06/religioes-afro-brasileiras-iniciacao-e.html, coloca de forma clara os motivos, as premissas, as consequências que estas perguntas estimulam.
Tal certeza se deve ao fato de nosso Mestre apresentar nos vídeos anteriores pontos sobre epistemologia e doutrina das religiões afro-brasileiras. Agora, expõe elementos da ética que norteiam o estilo de vida do povo de santo. As religiões afro-brasileiras, por meio da Iniciação, permitem um autoconhecimento e uma percepção ampliada do seu adepto. Ao realizar tal processo, compreende que interessa muito mais o que ele é e não do que ele precisa parecer que tem. Naturalmente se afasta de hábitos e costumes que massificam, que homogeneízam o povo como massa de manobra.
Assim surge o preconceito contra o povo de santo. Sim, somos preconceituados por sermos negros, mestiços, analfabetos, por sermos pobres... Mas no fundo é porque agimos de forma diferente, não aceitamos e repetimos como papagaios os valores que são comercializados no mundo. Pois se não bastasse o capitalismo selvagem comercializar bens e serviços, o desejo, os sentimentos e até a religiosidade tornaram-se alvos da indústria mercadológica.
A Iniciação nas religiões afro-brasileiras, portanto, apresenta-se como verdadeiro antídoto à filosofia das massas. Dentro da camarinha, ao fazer uma amacy, ao avançar por quaisquer das etapas de uma vida iniciática, despertamos para o mundo. Nossas escolhas são mais claras e, naturalmente, não seguem o status quo. Sentimo-nos melhores por isso, em última instância, ritualizamos a teologia da felicidade.
Claro que existem problemas que surgem no seio das religiões afro-brasileiras. As pessoas que frequentam os nossos terreiros estão na sociedade. Portanto, não é incomum verificarmos que alguns preferem a manutenção da moral vigente ao estilo de vida da sua casa de iniciação. Isso acontece em todas as Escolas. Natural, todos os terreiros estão de portas abertas para o povo, sem distinções. Sendo assim, surgem vez ou outra alguns que tentam transformar uma linguagem religiosa como melhor que as demais. Querem repercutir dentro do povo de santo a filosofia das massas, homogeneizar todos para serem a elite. Não podemos olvidar os fatos.
Mas a Iniciação, elemento central, trabalha o individuo sem esquecer o coletivo. Somos interdependentes e ritualizamos isto. Logo, voltamos para a sociedade e fazemos a diferença na medida exata que nossa maturidade espiritual permite. Aos Babalawos, a sociedade como um todo, aos neófitos os núcleos familiar e profissional. Todos têm lugar e função.
Não é difícil depreender que mais do que falar ou repetir padrões, que só reflete uma zona de conforto, cabe ao adepto das religiões afro-brasileiras ser o mesmo dentro e fora do terreiro, mudar o mundo porque – de fato – mudou a si mesmo: de dentro para fora, respeitando as diferenças sempre. E deixa a Gira girar!
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