quinta-feira, 26 de junho de 2008

Quimeras Economicistas (parte I)

Existe Equilíbrio de Mercado?

O tal equilíbrio de mercado é uma criação ideológica que remonta a noção de "mão-invisível" criado por Adam Smith (cônego presbiteriano), que defendeu a classe emergente ligada ao comércio que se fazia representar na Câmara dos Comuns Inglesa, contra os privilégios dos Lordes e do Rei Inglês. Por ser, na origem, um conceito quase religioso foi paulatinamente substituído pela idéia de mercado "homeostático" (de homeostasia corporal), que tendia naturalmente ao equilíbrio. Este equilíbrio só era obtido se cada um dos agentes econômicos buscasse maximizar o lucro (self-interest), dito de outra forma, o cônego em questão advogava a mais incrível contradição: os homens dando vazão ao seu egoísmo e competindo entre si, produziriam o melhor para a sociedade: a riqueza das nações.


A "mola" do sistema é o lucro (egoísmo) e não o mercado (conseqüência).

O sistema capitalista não foi teorizado e depois inventado - uma boa teoria que se maculou em má prática. O sistema foi se constituindo e, ao mesmo tempo, surgiram teorias em sua defesa e umas poucas para criticá-lo. A concorrência perfeita - paraíso da econometria e dos discursos ideológicos mostrou-se pouco aplicável. A quimera mutante capitalista se impunha aos inebriantes sonhos de perfeição teórica – constituíam-se oligopólios, cartéis, monopólios, monopsônios, etc. Longe do equilíbrio, o “Leviatã” capitalista vive crises cíclicas. O tão decantado equilíbrio fez-se flôr-do-vento - inflação, hiperinflação, sub-emprego, desemprego em massa, trabalho semi-escravo, má distribuição de renda, miséria e desperdício. O "crack" da Bolsa de Nova York foi sintomático e não à toa surgiram as políticas intervencionistas (dos Estados nas economias) e salvacionistas para o capitalismo autofágico. Onde estaria o equilíbrio de mercado?


As duas grandes guerras mundiais e as guerras posteriores salvaram o sistema (do egoísmo), mas a que preço? O eixo capitalista desloca-se de continente, europa para o USA.


A frase o "equilíbrio de mercado é uma forma de igualdade no pensamento capitalista" supõe que a plutocracia produz justiça social. Será possível o impossível? Lembro-me do Sr. Delfim Neto, economista da ditadura propor que a economia era como um bolo, precisava primeiro crescer para depois ser dividido. Como qualquer economista ele sabia que o "bolo" nasce dividido entre salários e lucros, qual seria então a motivação daquele discurso?


A observação atenta e isenta dos fatos da realidade e da trajetória histórica do capitalismo leva-nos a conclusão inexorável de que o equilíbrio de mercado é uma peça ideológica forjada para ocultar os desequilíbrios que o sistema capitalista cria. O equilíbrio e a “homeostasia” capitalista não passam de ficção, ideologia com o intento de justificar o sistema de competição selvagem, da apropriação privada da riqueza social (lucro) e manutenção do "status quo" - da riqueza de poucos se fazer pela miséria de muitos.


Em resumo, o paradigma básico do sistema não mudou, continua sendo o lucro (apropriação privada da riqueza coletiva, ou seja, egoísmo institucionalizado). Os desequilíbrios econômicos e ambientais, as assimetrias sociais e culturais não condizem com alguma noção de igualdade ou de equilíbrio, concorda?


Aratish