Ile Oka 7 Estradas local de encontro do povo de axé
Abaixo, as palavras de Obalolá, sobre algumas das experiências vivenciadas ontem.
Blog voltado para exposição de idéias sobre o movimento umbandista e sua influência na sociedade.
Aranauan,
O paradigmático vídeo de hoje apresenta o impactante título "A voz da primeira Iniciada na Umbanda Esotérica" (https://www.youtube.com/watch?v=l0tOpxcI7Zg). Trata-se de um adendo à trilogia que se encerrará em breve.
Seu conteúdo permite muitas reflexões significativas, afinal 2 sacerdotes falam ao público com uma consistência que possibilita uma discussão teológica de alto nível. As palavras da primeira Iniciada da Umbanda Esotérica no 7º grau do 2º ciclo, Yamaracyê, nos colocam para pensar que não é mais possível olvidar que a religião é uma construção humana, mesmo que haja fé no sobrenatural. Em sendo humana, está submetida a todos os contextos sócio-culturais da sua época.
No ocidente e, em especial, no Brasil a cultura cristã católica marca o fazer social e religioso. As primeiras umbandas reconhecidas pela academia como tal são, inclusive, cristãs, praticada por uma classe média etnocêntrica e/ou por setores da elite. Estes valores cristãos, que diferem muito do Cristo, são reflexos de um preconceito sem precedentes e de consequências sociais gravíssimas. Sobre misoginia, vale lembrar que a mulher adquiriu o direito ao voto recentemente, e até os dias de hoje, possui salário no mercado brasileiro inferior ao homem mesmo em igualdade de cargo e função. Sobre a homofobia, uma agressão ao núcleo familiar idealizado cristão. Vide a dificuldade de casais homossexuais adotarem filhos, mesmo com a enorme quantidade de crianças desamparadas pelos pais biológicos, e outros direitos que são garantidos aos casais heterossexuais.
Na UE, em particular, as influências também aconteceram. Mulheres não poderiam se iniciar em graus e ciclos como o que fora conquistado pela Yamaracyê. Justificativas de ordem espiritual foram construídas para preconceituar o homossexual. A revolução promovida pelo Mestre Araphiagha agora, gestada há pelo menos 25 anos, desde o desencarne do fundador W. W. da Matta e Silva, coloca definitivamente um basta a esta herança cristã maldita, pegando carona nas duras e consistentes palavras de Friedrich Nietzsche constante em suas obras.
Como bem disse a Mestra Yamaracyê, retirar a imagem do cristo é retirar a axiologia cristã do centro. Não permitindo nenhuma prática que promova desigualdades em termos espirituais, culturais, sociais, políticos e econômicos. O que fica no centro da UE, então? Como já explicitado, Ifá.
A ética africana desde as Divindades até o fazer social nunca promoveu estas exclusões. Não é por menos que o panteão africano tem Deuses e Deusas (contrário à misoginia) e Deuses sem gênero definido, os "meta-meta" (contrário à homofobia). Apenas para ficar nestes dois exmplos. Mais do que isso, Mestra Yamaracyê nos convida a refletir sobre tudo isso deixando de lado a tão batida ideia de "sincretismo" e levando mais a sério o porquê destas mudanças.
Por seguir a doutrina de Ifá de forma central, a UE não tem aspectos salvacionistas ou proselitistas. Pelo conceito sacerdotal e teológico de Escolas, preconizado por Mestre Araphiagha, admitimos muitas formas de se fazer e praticar o núcleo duro chamado "Umbandas". Aqueles que prescindem dos valores cristãos, dependentes de suas práticas moralistas, acorram à Umbanda Cristã. Não precisam ficar na UE.
Saindo um pouco da discussão teológica e adentrando na minha vivência como adepto da UE, não posso deixar de admirar a coragem de Mestre Araphiagha ao realizar tal revolução. Igualmente nutro satisfação de ver minha irmã mais velha, honrando a nossa Linhagem com tamanha competência e capacidade para versar sobre assuntos religiosos, acadêmicos e sociais. Simplesmente deixam os despeitados de cabelos "em pé". Aliás, nem isso. Parece-me que o cabelo era de papel e simplesmente desmanchou... Chega a ser temerário a falta de percepção do que é ser um Mestre-Raiz, um verdadeiro Mago. Sua magia briga, e briga feio, pelo meu Pai. A lei é justa e uma só. Se extraviou... Bem, mas o que importa mesmo é que nossa comunidade se enche de satisfação e alegria por saber que com Ifá na "sala de estar" o destino nos permite caminhos abertos e corpos fechados sob os auspícios de nosso Mestre. Vamos conversando.
Dando sequência à trilogia da Umbanda Esotérica, Mestre Araphiagha (F. Rivas Neto) entrega aos praticantes e simpatizantes da Umbanda Esotérica o vídeo intitulado "UE Iniciação não é fé e caridade" (https://www.youtube.com/watch?v=wWHUxIjwU00). Impossível não reparar como a semiótica da UE é simples, porém profunda. O peji, a cruz, o toco, o oponifá... Bem, quem tem olhos para isso que contemple a força da simbologia da Umbanda Esotérica.
Diante disso, é até compreensível aos que não buscam a Iniciação na Umbanda Esotérica, ou que mesmo os que rolaram os degraus dela, simplesmente não alcançarem a força de sua doutrina. Aí produzem uma série de clivagens em seu conhecimento, exaltando pontos que simplesmente não fazem sentido e deturpam a essência desta nobre escola umbandista. Explico-me.
Quando Mestre Araphiagha coloca o "ifá" na sala de estar, em hipótese alguma está negando todas as justas e verdadeiras tradições milenares que influenciaram a Umbanda Esotérica desde sua fundação por Mestre Yapacani (W. W. da Matta e Silva). Mas ressalta aquilo que poucos entenderam, simplesmente pelo fato de não conhecerem a T.U.O. em Itacurussá. Pior, alguns voltaram seus olhos apenas para a letra morta, enquanto o Velho Mestre, o meu avô de santé¸ militava diuturnamente em seu santuário não com livros, com a Bíblia ou o signário cristão. Interferia na vida das pessoas que acorriam à Ele, curando-as por meio dos coquinhos de dendê, do copo da vidência, do tabuleiro onde repousava o próprio Deus do Destino (oponifá).
Daí a tranquilidade para Mestre Araphiagha ressaltar este aspecto da Umbanda Esotérica. Foi Ifá e a Lei de Pemba (que já traçava pelo seu mediunismo excepcional e não por imitação de livro) que o estimulou a procurar o Velho Mestre. Foi Ifá que determinou a sucessão da Raiz de Guiné para Velho Payé. Foi no rito de transmissão que as vontades do Orixá do Destino concretizaram a nova fase da UE.
De igual maneira, não é de se estranhar o silêncio doído (com bastante ranger de dentes) daqueles que não viveram isso ou que, quando puderam experimentar, tropeçaram nas consequências do mau destino, fruto da egolatria, narcisismo, enfim da própria vaidade que não permitia enxergar um palmo na frente que não fosse espelho. O que resta? Sobre ifá, continuarem calados. Não podem ensinar o que não sabem e não adiante copiar da internet falsos conhecimentos que fazem qualquer pessoa minimamente conhecedora do assunto rir...
Sendo assim, o que resta mesmo é falsear uma prática de Umbanda Esotérica (com "s") com o que há de mais esdrúxulo: propugnar a caricatura de uma Umbanda exotérica (com "x"). Por exemplo, chega a ser piegas fazer um rebuliço pela imagem do Jesus que foi paradigmaticamente retirado do peji por Mestre Araphiagha. Diante de Ifá, da Lei de Pemba, da Mediunidade, da Iniciação, dão realce a um quadro?
Por que defender princípios cristãos na UE, se sua doutrina, seu estilo de vida podem e conseguem conviver tranquila e sadiamente com a episteme e ética africanas decorrentes do Ifá? Simples, e reitero, porque não sabem nada disso. Só sabem reproduzir a convenção, o moralmente aceito, as palavras doces, mas que no fundo são tão ferinas quanto à sociedade que crucificou o Cristo por não compreendê-lo. Torna impossível seguir o exemplo de discípulos do Cristo, como João que militou por sua doutrina e estilo de vida. Preferem seguir Paulo de Tarso, o discípulo do Cristo morto.
Os ensinamentos dos Grandes Iniciados, entre eles o próprio Cristo, estão tão fortes como nunca na UE. Nos dizeres de Mestre Araphiagha neste vídeo, a essência permanece. Principalmente, nos aspectos espirituais, sociais e culturais. Afinal, nesta nova fase, sob a égide de Ifá, está claro e transparente o posicionamento contrário à homofobia, à misoginia e ao racismo. Não perceberam que ao colocar Ifá na "sala de estar" da UE, Mestre Araphiagha torna a umbanda esotérica tão ou mais iniciática do que na época de sua fundação. De igual maneira, deixa tão ou mais acessível ao povo. Todos podem se beneficiar dos vaticínios de Orunmilá Ifá. Basta pisar nas areias do Santuário de Itanhaém, a T.U.O. redviva. Mas para se iniciar nela? Não basta fé e caridade. Imprescindível demonstrar dedicação, lealdade e capacidade às Santas Almas Guardiães do Cruzeiro Divino representadas pelo e no Mestre-Raiz.
Yabaura