quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Fazendo história... A voz (e vez) da mulher na Umbanda Esotérica

Aranauan,


O paradigmático vídeo de hoje apresenta o impactante título "A voz da primeira Iniciada na Umbanda Esotérica" (https://www.youtube.com/watch?v=l0tOpxcI7Zg). Trata-se de um adendo à trilogia que se encerrará em breve.

Seu conteúdo permite muitas reflexões significativas, afinal 2 sacerdotes falam ao público com uma consistência que possibilita uma discussão teológica de alto nível. As palavras da primeira Iniciada da Umbanda Esotérica no 7º grau do 2º ciclo, Yamaracyê, nos colocam para pensar que não é mais possível olvidar que a religião é uma construção humana, mesmo que haja fé no sobrenatural. Em sendo humana, está submetida a todos os contextos sócio-culturais da sua época.

No ocidente e, em especial, no Brasil a cultura cristã católica marca o fazer social e religioso. As primeiras umbandas reconhecidas pela academia como tal são, inclusive, cristãs, praticada por uma classe média etnocêntrica e/ou por setores da elite. Estes valores cristãos, que diferem muito do Cristo, são reflexos de um preconceito sem precedentes e de consequências sociais gravíssimas. Sobre misoginia, vale lembrar que a mulher adquiriu o direito ao voto recentemente, e até os dias de hoje, possui salário no mercado brasileiro inferior ao homem mesmo em igualdade de cargo e função. Sobre a homofobia, uma agressão ao núcleo familiar idealizado cristão. Vide a dificuldade de casais homossexuais adotarem filhos, mesmo com a enorme quantidade de crianças desamparadas pelos pais biológicos, e outros direitos que são garantidos aos casais heterossexuais.

Na UE, em particular, as influências também aconteceram. Mulheres não poderiam se iniciar em graus e ciclos como o que fora conquistado pela Yamaracyê. Justificativas de ordem espiritual foram construídas para preconceituar o homossexual. A revolução promovida pelo Mestre Araphiagha agora, gestada há pelo menos 25 anos, desde o desencarne do fundador W. W. da Matta e Silva, coloca definitivamente um basta a esta herança cristã maldita, pegando carona nas duras e consistentes palavras de Friedrich Nietzsche constante em suas obras.

Como bem disse a Mestra Yamaracyê, retirar a imagem do cristo é retirar a axiologia cristã do centro. Não permitindo nenhuma prática que promova desigualdades em termos espirituais, culturais, sociais, políticos e econômicos. O que fica no centro da UE, então? Como já explicitado, Ifá.

A ética africana desde as Divindades até o fazer social nunca promoveu estas exclusões. Não é por menos que o panteão africano tem Deuses e Deusas (contrário à misoginia) e Deuses sem gênero definido, os "meta-meta" (contrário à homofobia). Apenas para ficar nestes dois exmplos. Mais do que isso, Mestra Yamaracyê nos convida a refletir sobre tudo isso deixando de lado a tão batida ideia de "sincretismo" e levando mais a sério o porquê destas mudanças.

Por seguir a doutrina de Ifá de forma central, a UE não tem aspectos salvacionistas ou proselitistas. Pelo conceito sacerdotal e teológico de Escolas, preconizado por Mestre Araphiagha, admitimos muitas formas de se fazer e praticar o núcleo duro chamado "Umbandas". Aqueles que prescindem dos valores cristãos, dependentes de suas práticas moralistas, acorram à Umbanda Cristã. Não precisam ficar na UE.

Saindo um pouco da discussão teológica e adentrando na minha vivência como adepto da UE, não posso deixar de admirar a coragem de Mestre Araphiagha ao realizar tal revolução. Igualmente nutro satisfação de ver minha irmã mais velha, honrando a nossa Linhagem com tamanha competência e capacidade para versar sobre assuntos religiosos, acadêmicos e sociais. Simplesmente deixam os despeitados de cabelos "em pé". Aliás, nem isso. Parece-me que o cabelo era de papel e simplesmente desmanchou... Chega a ser temerário a falta de percepção do que é ser um Mestre-Raiz, um verdadeiro Mago. Sua magia briga, e briga feio, pelo meu Pai. A lei é justa e uma só. Se extraviou... Bem, mas o que importa mesmo é que nossa comunidade se enche de satisfação e alegria por saber que com Ifá na "sala de estar" o destino nos permite caminhos abertos e corpos fechados sob os auspícios de nosso Mestre. Vamos conversando.


Yabauara

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