quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Todo Terreiro é uma Escola Umbandista?

O templo umbandista é local consagrado para realização da rito-liturgia específica da Tradição que o estabeleceu e não necessariamente expressa uma Escola. A Escola representa uma Raiz que por sua vez é transmitida por um Mestre-raiz (Linha de Transmissão) constituindo a família de santo. Isso poderia levar a outra questão: Um terreiro que não tem uma Escola definida não é Umbanda? Concluir isto a partir da idéia de Escolas é dar um tom codificador à mesma, o que em hipótese alguma se aplica ao caso. Enxergar as Escolas Umbandistas é abrir um horizonte de compreensão da nossa diversidade de maneira pacífica.

Como Pai Rivas diz até o mundo tem pelo menos 4 direções (N, S, L, O) e isso nos faz pensar como um terreiro pode receber influências ou até mesmo realizar ritos de diferentes Escolas. Tudo vai depender da vontade do Astral que comanda aquele agrupamento e a capacidade do Sacerdote de compreender e externar corretamente as várias formas de se fazer e praticar a religião expressos em suas Ordens e Direitos de trabalho.

Se entendermos que todas as Escolas são boas e abertas ao diálogo, seus limites não são definitivos ou estagnados. Peguemos o exemplo trazido por Pai Rivas nas vídeo-aulas*. O que separa uma Escola da outra são linhas tênues, quase inexistentes, repletas de “poros” que permitem o trânsito de informações. Este trânsito é bidirecional, permitindo uma Escola levar o que compreende para outro setor e concomitantemente receber o mesmo do outro. Contudo, o corpo de conhecimento umbandista não está totalmente dado e, para isto, novas Escolas surgirão. Seja por meio de fusões das Escolas existentes ou ampliação de conceitos trazidos pelas primeiras em novos páramos. Isto é Inclusão Total, onde todas as formas de se fazer e praticar Umbanda tem vez e voz em igualdades de condições, pois o Poder vem apenas de cima para baixo e descentralizado na rede social que vivemos.

Isto é diferente de seita que se caracteriza por uma visão etnocêntrica (privilegiar um sobre os demais) milenarista (salvacionista), misoneísta (aversão à mudança); enfim, que transmitem visões exclusivistas onde seus conceitos são fechados e indiscutíveis promovendo um afastamento das Ciências, Artes, Religiões e Filosofias.

Em nada também se aproxima de algumas iniciativas descabidas de fazer uma Umbanda “virtual”, onde muitos se intitulam sacerdotes. Para não gerar melindres ao citar outras tradições, que não é meu objetivo, comentarei o que tentam fazer com a Escola de Umbanda Esotérica, base da Escola de Síntese refletindo o processo que citei anteriormente de ampliação e fusão de Escolas. Alguns se arvoram em escrever na internet que são legítimos sucessores da Raiz de Guiné ativada no último século pelo meu avô de santé sem sequer tê-la conhecido. Vejam bem meus irmãos, não é que a pessoa foi ou não iniciada por Mestre Yapacany, simplesmente não O conheceu. Sem falar do desrespeito à orientação do próprio quando transmitiu a Raiz para Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)**. Novamente evoco as palavras de meu Pai quando afirma que para eles talvez a Umbanda Esotérica seja tão “esotérica” que ocultaram de si próprios. Sem casa, sem discípulos, sem referência. Mãos vazias que transformam suas palavras em uma estrutura que na primeira brisa desmorona por não ter fundamento.

Veja que respeitar as diferenças não significa tolerar o erro. Aceitamos e vivenciamos todas as Religiões Afro-brasileiras porque encontramos no Sagrado o ponto comum e convergente de todos os sistemas filosófico-religiosos, dentro e fora das Tradições Afro-ameríndia-brasileiras. O que não podemos é deixar que seitas utilizem o Sagrado nome da Umbanda para impor algo que as nossas próprias entidades não orientaram ou aceitar pseudo-iniciações realizadas por portas e travessas. A forma de verificação é simples: Vejam os frutos da raiz. Onde baixa Caboclo só pode existir trabalho e felicidade para todos.

* http://www.ftu.edu.br/videoaulas2009.php

** mms://wm01.mediaservices.ws/ftu12-ondemand/FTU_Pronunciamento_42.wmv

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Escolas Umbandistas - Entre a Tradição e a Inovação

As Escolas Umbandistas se relacionam de maneira muito interessante com a Tradição e a Inovação. É um conceito tradicional, pois retrata com clareza as diferentes formas de compreender e praticar as Religiões Afro-brasileiras ao longo do tempo. Ao mesmo tempo é inovador, na justa medida que consegue resolver questões que giravam em um ciclo vicioso no movimento umbandista: “Qual a melhor Umbanda?” “Qual a Umbanda Verdadeira?”.


Estas perguntas só faziam sentido se a codificação expressasse a solução. Esta alternativa perdeu força até mesmo entre aqueles que eram seus ferrenhos defensores porque "esqueceram" de combinar isto com todos os terreiros de Umbanda e, principalmente, como os Guias espirituais. O raciocínio é simples e não menos importante: Se a codificação é uma necessidade de “cima para baixo”, por que as entidades ainda não a concretizaram?


Voltemos às Escolas Umbandistas. Os Senhores da Aruanda estabeleceram no movimento umbandista uma forma, nas palavras de Pai Rivas, inteligente e espiritualizada de se bem viver. Considerando que todas as Escolas são boas e válidas, podemos caminhar com a certeza de que apesar do método ser diferente o objetivo é único: o (Re)Encontro com o Sagrado. Logo, se todas as Umbandas são boas, podemos sentar e conversar. Podemos trocar conhecimento, enfim podemos dialogar.


A proposta trazida pelas entidades durante todo este tempo e tão bem expressa e vivenciada na idéia de Escolas Umbandistasvaticinada por Pai Rivas é um divisor de águas. Não por quem a professou, mas pelo o que ela representa e permite a todos nós umbandistas realizarmos em pleno século XXI. É uma idéia sinárquica que facilita o encontro de diversas correntes de pensamento, aceita a diversidade porque a compreende e reconhece sua importância no processo coletivo e espiritual, auxilia a alcançar a tão falada, mas raramente praticada, Paz Mundial.


Se a defesa de idéias como: descentralização do poder na Umbanda de um indivíduo para todos participantes da grande rede social e espiritual que são as Religiões Afro-brasileiras, diálogo, Paz Mundial, Amor e Sabedoria Cósmicos, Unidade na Diversidade é considerada por quem nos critica um ato “fundementalista”, no que pese existir um erro crasso de nominação dos mais básicos, eu aceito o rótulo sem problemas.


Estou mais preocupado com o que está por de trás do véu e quem pode me mostrar um caminho para alcançá-lo pelo exemplo. Graças aos Orixás encontrei um Mestre que tem Raiz com muitos frutos e tenho igual certeza que muitos irmãos de outros terreiros e escolas também encontraram. Como não sou pela codificação e vivo o conceito de Escolas posso reconhecer esta pluralidade e mais do que isso: Unir esforços para construirmos algo melhor para mim e para o próximo consubstanciado na Ética Umbandista.


Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)

Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

sábado, 22 de agosto de 2009

Curso de Extensão Universitária da Faculdade de Teologia Umbandista




Aranauan, Saravá meus amigos leitores do blogue!

Segue uma notícia alvissareira!

Curso de Extensão Universitária da Faculdade de Teologia Umbandista (telepresencial): Introdução à Teologia Umbandista - módulo I


A quem se destina: portadores ou não de curso superior. O aluno ao final do curso receberá um certificado de participação emitido pela FTU que é credenciada pelo MEC.


Início:
12 de Setembro de 2009 para residentes do Paraná e Petrópolis-RJ .
13 de setembro para residentes de Teresópolis-RJ.
17 de setembro para residentes do Rio de Janeiro (capital).
19 de setembro para residentes do Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Pernambuco.


Valor do curso:
3 X R$90,00

Inscrições limitadas!!!

Maiores informações e inscrições:

extensao@ftu.edu.br

Ou diretamente com os coordenadores dos pólos regionais

Pólo Rio de Janeiro (Rio de Janeiro) - Comandante Marcos de Ogum.
templodeoxossi@uol.com.br


Pólo Teresópolis (Rio de Janeiro) -Pai Delmo
delmoferreira@gmail.com

Pólo Petrópolis (Rio de Janeiro) - Pai Pedro (Tashirenanda)
ppires@quatra.com.br

Pólo Curitiba (Paraná) - Mãe Rosangela (Yanauara)
tsabbagneto@yahoo.com.br

Pólo Belo Horizonte (Minas Gerais) - Coordenador: Sérgio
sard@gold.com.br

Pólo Porto Alegre (Rio Grande do Sul) - Pai Marcos Strey
streyma@hotmail.com.br

Pólo Olinda (Pernambuco) - Babalorixá Milton
jmiltonkosta@hotmail.com




terça-feira, 18 de agosto de 2009

Quem não se lembra da primeira vez que pisou no terreiro?


A primeira vez que entrei num terreiro nesta vida foi inesquecível. Recordo-me que na portaria ficava uma senhorazinha de tez negra muito alegre e verdadeiramente humilde que entregava uns números que eram senhas de atendimento gratuito dado pelas entidades que iriam se manifestar naquela tarde de quarta-feira.
Ao entrar no recinto vi que na assistência estavam sentadas pessoas com posses e outras com tão pouco, lado a lado, esperançosas em falar com os Guias daquela casa. Dentro da Gira, observava vários médiuns vestindo o branco, de todas as procedências, mas que dentro da corrente eram apenas mais um elo.
O pai de santo da casa chegou ao terreiro! Com muita alegria todos recepcionaram o sacerdote e aguardavam sua orientação para dar início ao rito daquele dia. Feita as orações, escutamos pontos belíssimos de Oxalá, Oxóssi, Ogum e tantos outros Orixás cultuados por aquela Escola ao cheiro do defumador que queimava alfazema, incenso e benjoim.
Após os cantos preparatórios, é chegada a grande hora. A curimba canta harmoniosamente pontos que louvam os pais e mães velhas. Baixam estes Guias e com muita dificuldade se deslocam pelo terreiro cruzando-o e batendo a cabeça no chão em frente ao Congá de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tão logo as saudações se findam, eles caminham para os cantos do terreiro e sentam em seus tocos pitando charutos com muita calma e alegria nos olhos.
Chamava-me a atenção o pai de santo incorporado com uma preta-velho bem próximo ao Peji e como a entidade abraçava e aconselhava cada filho de santo que estava no terreiro. Devido às normas da casa, todas as pessoas que estavam visitando a casa pela primeira vez tinham que passar pelo atendimento do Guia Chefe. Logo, assim como outras pessoas que me antecederam, esperei chamar o meu número e fui beijar a mão da Vovó.
Vovó Sabina com seu pano que ficava estendido em cima da perna do pai de santo fazia todas as suas magias, as suas mirongas. Depois de uma conversa amorosa e os passes que tomei com o cachimbo da Vovó, saí do terreiro renovado e pronto para mais uma fase de minha vida que se iniciara naquele dia.
Este breve relato de um dos meus primeiros contatos com a Umbanda permitiu vivenciar a beleza e a importância da ligação íntima de um filho de fé com seu pai ou mãe espiritual. Como que eles nos ensinam a incorporar, antes de qualquer coisa, humildade, paciência, fortaleza, simplicidade, amor e pureza de sentimentos e propósitos. Só o terreiro permite respirar o Amor.
As vídeo-aulas demonstraram estas ligações de forma muito objetiva, principalmente nas edições que versaram sobre mediunidade. A Conferência de Magia Oracular, pelo que fomos informados do Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras, irá discutir e reforçar todo este contexto do terreiro e o fortalecimento dos seus respectivos sacerdotes.
Fica evidente que os cursos pagos e frios, por mais que possuam técnicas, estão distanciados do Espiritual, do Humano. O desenvolvimento das faculdades adormecidas do médium é uma experiência que requer a paciência e a sabedoria do dirigente espiritual do terreiro. Não existe meio de retirar este papel fundamental das nossas Escolas Umbandistas.
Vida Longa a todos os abnegados trabalhadores dos nossos terreiros que prezam compartilhar o Amor em primeiro lugar.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

O terreiro e seus dirigentes possuem total condição de conduzir seus filhos de fé ao Sagrado


Cada terreiro tem sua magia. Cada terreiro possui uma forma específica de transmitir seus conhecimentos. Cada terreiro possui meios próprios de exercitar a mediunidade e formar sacerdotes, por meio dos amacis, feituras de cabeça ou outros ritos e práticas que servem para tais finalidades. Partindo destas idéias básicas e fundamentais do Movimento Umbandista, questionamos os cursos que tentam vendê-las privilegiando a visão de um grupo sobre os demais.


Será que só as pessoas que dão cursos de magia ou desenvolvimento mediúnico são capazes de trabalhar estes e outros fundamentos básicos da Umbanda?


Esqueceram-se dos humildes e honestos pais e mães de santo que, independentemente do número de filhos espirituais ou da localização do terreiro, fazem a sua magia, dão passagem para o Pai-Velho, Caboclo, Criança, Exu e tantas outras formas de apresentação. São estes mesmos senhores e senhoras ilustres que seguram na mão de seus filhos e os preparam para incorporar os Ancestrais que possuem uma ligação íntima com as suas vidas ou mesmo abrem alguns erós sobre outras modalidades mediúnicas conforme as necessidades individuais de cada um. Tudo isso em respeito às características de cada indivíduo, sem formatar médiuns padronizados em ideologias de massa.


Não meus irmãos, este conjunto de valores não é exclusivo a um grupo restrito de pessoas. O acesso ao mesmo não é feito mediante pagamento de inscrições ou leitura de apostilas. Muito pelo contrário, é dentro do terreiro que aprendemos de forma segura e objetiva a aperfeiçoar a nossa mediunidade, a magia e tantos outros elementos que nos remetem ao Sagrado.


Assim como meus outros irmãos de santé ou confrades umbandistas de outras Escolas, estamos cônscios e satisfeitos com o trabalho desenvolvido pelos nossos respectivos pais e mães de cabeça. Não precisamos de cursos fast foods que tentam colocar os bens socializáveis da Umbanda em uma linha de produção. Todos nós aprendemos e vivenciamos a Umbanda não assinando lista de presença ou cheques para pagar cursos, mas batendo a cabeça no Congá.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Como avançar no relacionamento intra-religioso umbandista?

Como poderíamos desenvolver o relacionamento intra-religioso umbandista? Acreditamos que é vivável pela interação das Escolas Umbandistas que invariavelmente são construídas pela troca salutar de experiências entre sacerdotes e sacerdotisas de diversos terreiros.


Uma prova desta interação foi o I Congresso de Umbanda do Século XXI onde Mãe Monica Varela, reconhecida sacerdotisa que preside a FEUCAMT, falou para os congressistas da importância de trocar o Poder pelo Saber. Este conceito magistral só foi possível ser ouvido, pois existia uma disposição dos dirigentes espirituais presentes em exercitar o diálogo intra-religioso. Recordo-me que após o marcante discurso de Mãe Monica Varela, Pai Rivas fez questão de registrar que a idéia trazida pela Mãe Espiritual seria eternizada nos Anais do Congresso.

Outra demonstração clara de diálogo entre Escolas foi dada por Mãe Nazareth, dirigente do Templo de Estudos e Desenvolvimento de Umbanda Iansã e Cacique Tupinambá. Em uma palestra pública no início do ano, esta importante Sacerdotisa reforçou a necessidade de cada Escola Umbandista enviar um representante, independente da condição sacerdotal, para cursar a FTU visando possibilitar que cada terreiro possua um teólogo umbandista. Desta forma, segundo Ela, existiria um canal mais eficiente entre os terreiros de Umbanda e a Sociedade Civil.

Esta idéia permite desdobramentos maravilhosos. A existência de umbandistas de diferentes terreiros aprofundaria a qualidade da FTU, uma vez que a faculdade possui uma proposta dialética entre corpo docente e discente. Além disso, reconhecemos que esta iniciativa produziria no Movimento Umbandista um avanço real no diálogo intra-reliogioso, pois fortaleceria a FTU como ponto de encontro e convergência dos diversos templos-terreiros do nosso rincão brasileiro.

Neste mesmo direcionamento destacamos a conversa entre Pai Rivas, reitor da FTU, e Pai Cássio de Ogum, presidente da FUCABRAD e vice-presidente do CONUB, onde este último afirmou para o primeiro que recomenda a faculdade porque ela possui um curso de altíssimo nível.

O diálogo intra-religioso é um meio real para a união do movimento umbandista. Os sacerdotes e sacerdotisas supracitados demonstraram como podemos avançar nesta importantíssima ferramenta. Sabemos que a faculdade está com as inscrições abertas para o II Congresso de Umbanda do Século XXI e nesta ocasião você poderá contribuir diretamente com a Umbanda por meio de uma consistente discussão nacional. Já pensou nisto? Vale a pena...

E deixa a Gira girar!

domingo, 26 de julho de 2009

Umbanda é uma idéia que se expressa em diversas linguagens


O Movimento Umbandista é uma Unidade Aberta em contínua construção. Dentro deste conceito, reconhecemos a existência de uma enormidade de ritos conduzidos por uma diversidade de Escolas Umbandistas. Lembrando que Escolas são formas de entender e praticar a Umbanda.
Observando na forma características muito diferentes entre as Escolas, alguns poderiam perguntar o porquê de todas serem igualmente reconhecidas como uma forma legítima de Umbanda. Afinal, o que nos une em torno da idéia Umbanda?
Pai Rivas afirma que "apesar do aspecto mosaico que esse movimento adquiriu durante sua formação, pouco a pouco, sua real função foi-se delineando a partir da constatação de que alguns conceitos passaram a se apresentar de forma universal em todos os segmentos da Umbanda"*. Sim meus irmãos. Apesar de diversidade da forma, existe uma essência que é una. Mais a frente do texto transcrito por nós, o autor demonstra quais seriam alguns destes conceitos comuns a totalidade de Escolas: Culto às Potestades Divinas sob o nome de Orixás; Louvação aos Ancestrais que se manifestam através de formas específicas na Umbanda; Doutrina da Reencarnação; Ligação Sagrada com a Natureza e seus Espíritos, entre outros.
São estes conjuntos de conhecimentos que constituem a interdependência das Escolas Umbandistas. É esta Essência que mantém viva a idéia Umbanda em cada uma de suas linguagens que são as próprias Escolas. Por outro lado, a variedade de expressão destas idéias em comum, permite que o Movimento Umbandista abarque em si não só todas as etnias que fazem parte da Raça Planetária como também não excluem nenhuma camada social da mesma.
Todos têm voz e vez no Movimento Umbandista. Por isso mesmo, não podemos aceitar cursos de finais de semana que privilegiam uma visão sobre todas as demais. Em contrapartida precisamos reforçar todas as nobres iniciativas que buscam valorizar a diversidade e promover a aproximação das Escolas de Umbanda. Que venha o II Congresso de Umbanda do Século XXI!
* Extraído dos Excertos Finais do livro "Sacerdote, Mago e Médico – Cura e Autocura Umbandista". Pág. 450 . Ed. 2003. Publicado pela Ícone Editora.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Movimento Umbandista e as etnias que a construíram


Em nossos textos reforçamos a importância de construirmos bens socializáveis que contemplem todas as Escolas sem privilegiar uma visão sobre as demais (etnocentrismo). Este raciocínio é um desdobramento natural da própria história do Movimento Umbandista e como a Escola de Síntese exemplificou a relação Universalidade e Diversidade dentro do templo.

O Movimento Umbandista possui caráter filosófico e religioso que carrega a valência de todas as raças e suas respectivas vivências com o Sagrado. Desta forma, as várias heranças étnicas são expressas em seu seio pacificamente. Sem guerras ou confrontamentos. Por ser uma Unidade Aberta, logo sem conceitos engessados, o Movimento Umbandista conseguiu traduzir em uma enormidade de ritos as inúmeras contribuições das quatro etnias: Vermelha, Amarela, Negra e Branca.

A Escola de Síntese, aprofundando-se na teoria e prática, instituiu no início deste novo milênio a realização de 7 ritos que encerram em si uma amostragem fidedigna da realidade umbandista. Para cada rito em questão existe um conjunto de cultos e expressões religiosas dentro da Umbanda que se afinizam com o mesmo. Assim, a Escola de Síntese contempla todas as Escolas mostrando seus profundos imbricamentos, sem solução de continuidade.

Ao contrário de querer prevalecer uma forma única de Umbanda, suas iniciativas consolidadas na Faculdade de Teologia Umbandista e, mais recentemente, no Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras apresentam ao Movimento Umbandista e a sociedade civil como um todo, uma forma mais justa e igualitária de tolerar, respeitar e, principalmente, viver pacificamente as diferenças inerentes as características plurais da humanidade.

Nesta abordagem, a identidade umbandista é enxergada como exemplo vivo e fundamental para alcançarmos a tão propalada Paz Mundial, passando pelos seus vários níveis de diálogo.

Observação. Todo o texto foi baseado em dois excertos do livro "Sacerdote, Mago e Médico – Cura e Autocura Umbandista" encontrados respectivamente nas páginas 449 e 463 da edição de 2003 publicado pela Ícone Editora.

domingo, 12 de julho de 2009

Cursos exclusivistas prejudicam a diversidade umbandista

O conceito de Escolas realmente estimula uma visão muito mais pacifista e convergente da diversidade umbandista. Neste sentido, entender Escolas como formas de interpretar e manifestar o Sagrado é respeitar esta tão propalada pluralidade, pois ficam estabelecidos relacionamentos harmoniosos com o outro (alteridade).
Aqueles que pensam que seus grupos estão em um patamar maior, ou melhor, imputam uma visão exclusivista. A pluralidade é trocada pela singularidade. Deixamos de ser unos e passamos a estarmos únicos. Normalmente estes grupos traduzem estas visões distorcidas da Umbanda como um todo em cursos para a comunidade, mas prevalecendo uma forma única sobre as demais. Para este tipo de curso, mesmo que fosse gratuito, o prejuízo à união do nosso movimento religioso é evidente.
Academicamente sabemos que quanto maior a extensão, menor será a profundidade. Ou, analogicamente, quanto maior a escala do mapa, mais espaço eu enxergo com menor especificidade. O inverso é verdadeiro. Quanto menor a escala de um mapa, maiores detalhes da região são coletadas. Dado este conceito, fica fácil entender que esta profusão de cursos oferecidos por aí com uma carga horária pequena pouco ou quase nada conseguem passar mesmo dentro de um escopo exclusivista. A questão sai do aprendizado e entra no clientelismo. Sai o foco da informação da qualidade e preza-se pela quantidade de pessoas que farão o curso.
Pior do que estes cursos são os cultos pagos. Sim meus irmãos, existem pessoas que estão divulgando cultos "umbandistas" cobrando ingresso, como se fosse um show ou teatro.
Para estes não basta utilizarem o rótulo "Umbanda". Querem utilizar o mote dela. Por isso, afirmam em um curso específico de um grupo que o mesmo será dado em caráter universalista e panorâmico. Já comentamos isto, mas o que era para ser vivido dentro do terreiro e discutido com outras Escolas passa a ser visto como uma relação clientelista. Quer aprender sobre um assunto específico? Não precisa bater cabeça no congá, basta colocar a assinatura em um cheque.
Estes grupos andam mudando subitamente de opinião. Até ontem achavam a idéia da Umbanda produzir conteúdo acadêmico e respeitoso com a diversidade equivocado. Agora falam como se possuíssem a primazia. Longe estamos de disputar quem falou ou quem pensou primeiro. Para nós, as boas idéias vêm de Aruanda e ponto. Cabe a nós, filhos de fé do terreiro exercitá-las no dia-a-dia.
Felizmente existem casas espirituais espalhadas pelo mundo que não se deixam levar por esta propaganda vazia. O que vale para esses inúmeros cavalos de Umbanda é fazer valer a vontade do Caboclo, do Pai-Velho, da Criança, do Boiadeiro, do Baiano, do Marinheiro, do Exu, do Cigano, enfim do Ancestral Ilustre. Neste sentido, o Astral orientou a construção de uma faculdade que possua em seu bojo não só o respeito, mas principalmente a vivência da diversidade. Para estes irmãos abnegados damos o nosso Paó e rogamos aos Orixás que as construções socializáveis e inclusivas continuem!

domingo, 5 de julho de 2009

Curso de Teologia Umbandista



Apesar de ser um assunto relativamente conhecido, acreditamos ser sempre bom frisar alguns fatos. A Faculdade de Teologia Umbandista(FTU) é uma Instituição de Ensino Superior devidamente credenciada e autorizada pelo MEC(Ministério da Educação) através da portaria 3864 de 18 de dezembro de 2003.

Seu corpo docente é composto por Especialistas, Mestres e Doutores em inúmeras áreas do conhecimento acadêmico que ministram aulas de português, inglês, sociologia, ética, hermenêutica, administração templária, filosofia, metodologia científica, psicologia, ciências políticas, botânica, biologia, teologia, entre outras cadeiras disciplinares.

Com isto, entendemos como é traduzido na prática o mote principal da faculdade: Educando para uma Cultura de Paz, aproximando o Saber Religioso do Acadêmico e o Acadêmico do Religioso. Não excluindo o saber popular tradicional.

Atente o irmão planetário ao fato de que a FTU é a única instituição que forma teólogos umbandistas. Infelizmente observamos alguns cursos pagos de finais de semana insipientes que tentam induzir seus alunos a participarem destes em troca de títulos que não tem validade perante a Academia. Quanto a isto, reconhecemos que a mudança de comportamento depois que a FTU iniciou a divulgação das vídeo-aulas. Que bom! O papel transformador da faculdade está dando frutos socializáveis para toda a comunidade.
Maiores informações: www.ftu.edu.br

domingo, 28 de junho de 2009

A importância das vídeo-aulas para todos nós umbandistas


A vontade do umbandista em discutir temas que realmente importam e impactam diretamente na união do nosso movimento religioso é grande e, neste sentido, devemos reconhecer a importância das vídeo-aulas para este processo.

As vídeo-aulas produzidas pela FTU e disponibilizadas na web pelo sítio http://www.ftu.edu.br/videoaulas2009.php, fizeram com que muitos irmãos, umbandistas ou não, revisitassem seu corpo de conhecimento (epistemologia) e abrissem novas percepções revigoradas sobre o papel do movimento umbandista para a própria sociedade. Tudo isto de forma gratuita e dentro de um canal de comunicação que cada vez se socializa mais pelo mundo com baixo custo de acessibilidade, a internet.

Isto sem deixar de reconhecermos como a Ciência foi trabalhada e relacionada à Umbanda. Lembremos que em cada vídeo-aula, assistimos conceitos profundos das ciências exatas, humanas, sociais, biológicas, entre tantas outras, além da metafísica e seus desdobramentos míticos, místicos e cósmicos. Esta iniciativa que começou no mês de julho do ano passado e concluiu sua primeira fase no final de dezembro permitiu a real aproximação entre os Saberes Acadêmico e Religioso, contemplando também a Arte e a Filosofia.

Como isto foi construído? Com a vivência templária e sacerdotal de anos. Pai Rivas reitor e fundador da FTU, durante 4 décadas vem exercitando o Sagrado em harmonia com os 4 pilares da Gnose Humana (Religião, Arte, Filosofia e Ciência). Este contato de quase meio século com a coletividade umbandista e a sociedade como um todo culminou com a apresentação de uma Faculdade de Teologia Umbandista devidamente credenciada e autorizada pelo MEC. Por sua vez, dentro da faculdade todas as Escolas foram contempladas.

Vale lembrar que a FTU deixou evidente que as vídeo-aulas não representam todo o conhecimento que é elaborado na Faculdade e, muito menos, da Umbanda. Cada vídeo apresenta uma visão sumarizada do teor discutido por seus professores e alunos. Isto também se explica nas palavras ditas constantemente por Pai Rivas e reforçado por ele diversas vezes nas vídeo-aulas: "Não temos a última resposta, pois não temos a última pergunta".

Aliás, é exatamente por isso que a Umbanda é uma Unidade Aberta e em contínua construção. O conjunto de vídeo-aulas mostrou bem isto e foi importantíssimo para preparar um dos principais eventos de diálogo com a sociedade civil neste milênio: o I Congresso de Umbanda do Século XXI. Apesar dos problemas que o nosso planeta sofre hoje nos aspectos espirituais, culturais, sociais, políticos e econômicos, a Umbanda apresenta uma visão renovadora consubstanciada em bens sociais como as vídeo-aulas.

Façamos a nossa parte ao assistir e procurar exercitar dentro de nossos templos este farto material que representa por si só um curso de caráter panorâmico, abrangente e gratuito de fato. As vídeo-aulas apresentam idéias que procuram transformar a humanidade pela Educação.

domingo, 21 de junho de 2009

O SACERDÓCIO UMBANDISTA - Entre a Tradição e a Massificação


Aranauan, Saravá meus amigos,

Estamos colocando a introdução do nosso artigo acadêmico publicado na Faculdade de Teologia Umbandista(FTU): "O SACERDÓCIO UMBANDISTA - Entre a Tradição e a Massificação". O trabalho foi orientado pelo professor da FTU Antonio J. V. da Luz.

INTRODUÇÃO
É inegável a importância do sacerdote e a sua formação em qualquer religião e para a Umbanda, bem como as Tradições Afro-brasileiras, não poderia ser diferente. Principalmente se levarmos em conta a oralidade existente em ambas. A transmissão do conhecimento, da iniciação e também a comunicação interdimensional se dá por meio dela. Na Umbanda, o sacerdote umbandista é o elemento chave para a compreensão de uma determinada vivência da experiência mística que interpreta o Sagrado e cria formas específicas de entendimento e transmissão a qual Rivas Neto (2003) denomina Escolas Umbandistas. Estas últimas, portanto, definem e refletem a experiência do Sagrado em cada determinada comunidade de adeptos.
O presente artigo tem como objetivo central compreender a formação sacerdotal e discuti-la com a proposta de cursos pagos de sacerdócio, alguns até mesmo sem o pré-requisito da mediunidade, propostos recentemente por grupos inseridos no Movimento Umbandista.
Na obra “O Sagrado e o Profano” de Mircea Eliade (1957), um importante historiador e filósofo das religiões da contemporaneidade, é resgatado para a literatura acadêmica dois conceitos fundamentais: a hierofania, ou como é o Sagrado ser no Mundo, e a epifania como manifestação deste mesmo Sagrado.
Sobre a mediunidade usamos dois autores de referência para o Movimento Umbandista - Matta e Silva (1956) e Rivas Neto (1989). Através da investigação da mediunidade realizada pelo primeiro e aprofundada nas obras de Rivas Neto é que podemos entender a especificidade da modalidade mediúnica do espaço religioso umbandista, distinguindo-a claramente das propostas apresentadas pelo espiritismo de Kardec (1857), que até Matta e Silva eram paradigmas na literatura umbandista.
Concomitante à visão do Sagrado e do profano eliadeanos, da mediunidade e do sacerdócio, de Matta e Silva e Rivas Neto, articulamos também as proposições de Prandi (2004) sobre uma perspectiva mercadológica das religiões, que parece ser referencial para grupos existentes no Movimento Umbandista. Acreditamos que o ferramental teórico fornecidos por estes autores concorrem para um aprofundamento do debate proposto neste artigo.
Para avaliar se existe correspondência empírica no meio umbandista aos ensinamentos dos referidos autores, optamos por realizar uma pesquisa de campo sobre o tema mediunidade e sacerdócio com os dirigentes de um dos templos de Umbanda mais antigos do Brasil registrado em cartório: a Tenda Nossa Senhora da Piedade. A partir daí, discorremos sobre as possíveis consequências e impactos dos cursos de de sacerdócio, considerando dois aspectos que reputamos essenciais: o modus operandi tradicional da formação sacerdotal no Movimento Umbandista versus os cursos pagos de sacerdócio, recentemente inventados sem nenhuma relação com as práticas comuns das diversas escolas umbandistas.
Para ler o artigo na íntegra, acesse: http://www.ftu.edu.br/producoes/Artigo_Academico_-_Formacao_Sacerdotal.pdf

domingo, 14 de junho de 2009

Identidade Umbandista e seus efeitos sociais


A identidade umbandista é construída pelas inúmeras influências de tradições e culturas existentes em praticamente todos os pontos do nosso orbe. Não é por menos que a Umbanda é tida como Matriz Religiosa Brasileira, onde seu povo pelos diversos processos de miscigenação representa a síntese do nosso planeta.

Isso é totalmente diferente de utilizar outras religiões como padrão para a nossa. Procuraram imitar o catolicismo por muito tempo, simplesmente adotando algumas de suas práticas. Depois, imitaram o Espiritismo criando falsas necessidades de codificação da nossa religião. Agora querem imitar os Neopentecostais, colocando como salvação a adoção de suas práticas no meio político e econômico.

Dito de outra forma, o umbandista é influenciado a reproduzir soluções de outras religiões dentro de sua comunidade. Ao utilizar soluções próprias da Umbanda, no entanto, é taxada de importar conceitos. Veja como invertem o papel da Umbanda para a humanidade.

Por que classificar a estrutura Umbandista como um prédio sem síndico ou como amontoado de misturas? A Umbanda não é exótica, mas heróica por ser um instrumento importante de renovação da sociedade. A FTU é um exemplo vivo e emblemático desta transformação.

A FTU representa um avanço, uma mudança de patamar, para todos nós umbandistas. Com Ela, a Umbanda demonstrou a importância que dá para a Educação e como Ela pode colaborar com a diminuição das desigualdades religiosas, culturais, sociais, políticas e econômicas.

Podemos afirmar isto ao analisar a realização do I Congresso de Umbanda do Século XXI em suas dependências no ano passado. Acadêmicos e Sacerdotes de todos os cantos do país foram para dentro do terreiro produzir e ouvir conteúdo de peso sobre a Umbanda em aspectos acadêmicos e religiosos que socializam o conhecimento e reconhecem no Homem a solução para os problemas sociais.

Infelizmente muitos criticaram a FTU simplesmente por despeito ou por não terem eles construído a idéia. A visão corporativista já é considera anacrônica para o movimento umbandista, pois as Escolas de Umbanda estão cônscias a cada dia que passa da importância de dialogar e construir meios que dignifiquem a Totalidade de Escolas, respeitando a especificidade de cada Uma. Haja vista que felizmente observamos nas listas de discussão na internet irmãos que criticavam esta aproximação da Umbanda com a Academia através da FTU, reproduzirem textos acadêmicos.

A Umbanda respeita todas as religiões e, por isso mesmo, não se arvora em criticar pejorativamente nenhuma delas. Seus valores são fortes o suficiente para não imitarmos os outros segmentos religiosos. Lembremos que a Igreja Católica e Protestantismo, por exemplo, não acreditam na Reencarnação. Logo, suas abordagens no campo religioso e político são de certa forma justificáveis. O movimento umbandista é essencialmente reencarnacionista e desenvolve caminhos mais abrangentes na solução dos problemas de ordem espiritual e social.

domingo, 7 de junho de 2009

AUMBANDHAN E UMBANDA


Ainda preocupado com a visão de aproximação do saber acadêmico do religioso e vice-versa, vamos dar continuidade ao tema: Aumbandhan.

Dentro do ponto de vista acadêmico, volto a afirmar: Por mais que a Academia não consiga confirmar todos os ensinamentos trazidos por esta Escola sobre a Origem das Origens, com certeza ela não consegue negar. E se compararmos esta visão de Mundo a de outras respeitosas filosofias religiosas, certamente a Umbanda possui uma visão mais próxima da Ciência. Afinal, o Cristianismo não crê que o mundo foi criado em 7 dias e que Eva, literalmente, nasceu da costela de Adão?"

Dentro do ponto de vista religioso vamos aos conceitos metafísicos e lógicos. Tanto Diamantino Coelho Fernandes, como Mestre Yapacany e Mestre Arhapiagha afirmam que o conceito de Aumbandhan é muito antigo. Para o primeiro veio do Oriente. Já para os dois últimos ele é ainda mais antigo: veio em pleno solo brasileiro através da primeva raça Tupy muito antes de chegar ao Oriente.

Dentro desta própria linha de raciocínio, observaremos que nenhum dos autores em questão buscam patentear ou criar exclusivismo para o termo. Ao contrário, Mestre Yapacany faz questão de demonstrar no livro "Umbanda de Todos Nós" a existência do vocábulo nas antigas religiões e, neste caso, invariavelmente cita as tradições orientais e alguns escritores ocidentais que estudaram o assunto com afinco, por exemplo Eugênio Bournoff e Arhtur Shopenhauer.

Mestre Yapacany faz citações do Budismo, tomando como base livros antiqüíssimos na língua Zend, da expressão "Kumbanda" que por processos filológicos e semânticos veio de Aumbandhan e deu origem ao vocábulo Umbanda.

Mesmo assim Mestre Yapacany afirma que o conceito ainda não foi o mais antigo encontrado nos registros históricos. Ele afirma que o mesmo é Universal e era conhecido e venerado antes mesmo do cisma de Yrschú há 8600 anos!

A própria Tenda Espírita Mirim(TEM) não visa exclusivismo no termo. Muito pelo contrário. Essa valorosa Escola possui laços sinceros de amizade com a Escola conduzida por Pai Rivas, corroboradas pelo relacionamento fraterno dele com o Sr. Mirim (dirigente da TEM) como pode ser visto na sua última visita ao RJ; onde ambos participaram de uma gira de Confraternização que conseguiu reunir inúmeras Escolas umbandistas do Estado do Rio de Janeiro.

Finalizando, não podemos olvidar que a teoria da Aumbandhan foi pela primeira vez construída com corpo teológico de profundidade pelo Mestre Yapacany e aprofundado pelo Mestre Arhapiagha. No entanto, ambos os escritores não estão preocupados como patentes ou marcas, mas como este conceito pode auxiliar o movimento umbandista e a sociedade hodierna a alcançar patamares mais justos e igualitários.

domingo, 31 de maio de 2009

Ramatís e Umbanda


Sobre Ramatís gostaria de abordar 3 aspectos: Ramatís e seus médiuns; Umbanda versus Aumbandan e importação de conceitos estrangeiros.

Ramatís utilizou diversos médiuns. Hercílio Maes, Marcio Godinho, Norberto Peixoto, América Paoliello Marques, Maria Margarida Liguori, isto só para ficar nos principais. O autor que mais chegou perto da abordagem trazida pelo Hercilio Maes foi a América Paoliello Marques, tanto que seu livro foi prefaciado pelo próprio. Os demais autores produziram conhecimentos muito distantes entre si. Fiquemos no exemplo da Umbanda. Se para Ramatís/Hercilio Maes a Umbanda é culto fetichista, para Ramatís/Norberto Peixoto é a religião do terceiro milênio.

Dado este fato, não podemos olvidar duas coisas. Ou Ramatís mudou radicalmente o seu pensar sobre a Umbanda ou existe uma influência predominante sobre um ou mesmo os dois médiuns em questão sobre a entidade. Em quaisquer possibilidades, fica evidente que devemos evitar Ramatís como referência para compreender o movimento umbandista.

Sobre Aumbandan. Lembremos que Ramatís/Hercilio Maes não nega este conceito. Muito pelo contrário. Senão vejamos: "Etimologicamente, o vocábulo Umbanda provém do prefixo AUM e o do sufixo "BANDHÃ", ambos do sânscrito, cuja raiz encontra-se nos famosos livros da Índia, nos Upanishads e nos Vedas, há alguns milênios". "Aum é o próprio símbolo sonoro significativo da Trindade do Universo representando Espírito, Energia e Matéria (...)". "Bandhã,em sua expressão mística e iniciática, significa o movimento incessante, força centrípeta emanada do Criador, o Ilimitado, exercendo atração na criatura para o despertamento da consciência angélica. Mais tarde também passou a significar a "Lei Maior Divina", poder emanado do Absoluto." – Missão do Espiritismo -6ª Ed. – Cap. Espiritismo e Umbanda - páginas 132 e 133

Durante todo esse capítulo, o pensamento de Ramatís é muito claro. Para ele a Umbanda é um culto que distorceu bastante as relações com o Sagrados da antiga Aumbandan e, apesar de possuir ainda a atuação de alguns Guias de "escol", encontra-se em uma fase muito primitiva devido à influência da magia do negro (ele afirma que a feitiçaria é oriunda desta etnia). Como atua em um plano muito "denso" da magia, a Umbanda limita-se a uma espécie de faxineiro do baixo astral.

Vejamos agora a idéia de Aumbandan e Umbanda trazida por Pai Guiné/Mestre Yapacany, devidamente corroborada e aprofundada por Caboclo Urubatão/Mestre Arapiaga. Para esta Escola umbandista a Aumbandan é o Conjunto de Leis Divinas – a Proto-síntese Cósmica, mas ao contrário do que afirma Ramatís ela não veio do Oriente. Ela surge em plena Raça Lemuriana (que dentro da Escola de Síntese é reconhecida como a primeva Raça Vermelha de nome Tupy), mais especificamente no planalto brasileiro. Depois, por migrações físicas e reencarnatórias, chega ao Oriente e inicia sua volta para o Ocidente até os dias atuais. Perceba que nesta visão a Aumbandan não é nem uma importação de conceitos orientais, nem uma visão nacionalista/ufanista do brasileiro. O conjunto de leis divinas são Universo-descendentes, como bem diz Pai Rivas.

Já a Umbanda é um movimento (no sentido de ser dinâmico, aberto e em construção) religioso que visa através do sincretismo e da convergência restaurar esta condição primeva de harmonia, equilíbrio e estabilidade do Homem com o Cosmos através da Síntese da Gnose Humana. Assim, como foi explicitado nas vídeo-aulas da FTU, a Umbanda consegue agir desde os princípios mais espirituais até a matéria mais densa.

Por mais que a Academia não consiga confirmar todos os ensinamentos trazidos por esta Escola sobre a Origem das Origens, com certeza ela não consegue negar. E se compararmos esta visão de Mundo a de outras respeitosas filosofias religiosas, certamente a Umbanda possui uma visão mais próxima da Ciência. Afinal, o Cristianismo não crê que o mundo foi criado em 7 dias e que Eva, literalmente, nasceu da costela de Adão?

Não devemos confundir o que é "importação de valores estrangeiros" de conceitos para a Umbanda. Lembremos que o conceito de Orixá foi trazido da África, as práticas católicas e espíritas foram importadas da Europa, algumas Escolas Umbandistas importaram dos indígenas norte-americanos suas práticas. Enfim, se construirmos uma visão ufanista da Umbanda certamente perderemos todas essas ricas colaborações devidamente reelaboradas no seio do terreiro e a nossa melhor qualidade identitária: a diversidade!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Queremos a papoula ou a arruda?


Karl Marx afirma no livro "Crítica da Filosofia do Direito de Hegel": "Religion ist das Opium des Volkes".Entendemos o contexto e o direcionamento que Max quis dar a esta idéia, mas com convicção afirmamos que a Umbanda que vivencio está longe deste conceito.
A sociedade brasileira através de suas elites ao longo do tempo, procurou manter o status quo de quaisquer formas e métodos. Para eles, dentro de um pensamento maquiavélico, os fins justificam os meios... Será?
Peguemos o exemplo da escravidão do negro africano. Se por um lado foi horrível a forma como os nossos irmãos d'África aportaram no Brasil, pior ainda observamos seus últimos momentos antes da lei de "abolição da escravatura". Alguns pensadores umbandistas falaram sobre isto e, neste sentido, gostaria de trazer as palavras do sacerdote F. Rivas Neto:
"Não venhamos a entender com isto, que sejamos a favor da vergonhosa e tormentosa escravatura negra. Mas acreditamos que até hoje existe a dita escravatura, independente da tez. Vejamos o porquê de nossas assertivas: Na época da escravatura muitas leis foram para prevalecerem os próprios senhores de engenho e classes dominantes. Assim aconteceu com a Lei do Sexagenário (não era mais produtivo) e a Lei do Ventre Livre (era mais fácil deixá-los à própria sorte que sustentá-las até a idade produtiva). Como vimos, na época, foi um grande engodo. Finalmente, a "libertação dos escravos" foi outro engodo, pois libertou-se o negro sem nenhum planejamento, simplesmente porque ficava "mais barato", não havia necessidade de ônus com alimentação, vestimenta, etc. Mudou-se apenas a nomenclatura. Davam um salário que não dava para a alimentação, quanto mais para as outras necessidades básicas". In: Lições Básicas de Umbanda – 3ª Ed. – Complemento Especial – Aspectos Moral – Esotéricos da Umbanda – pág. 200.
Dentro da lógica de mercado existe produto e serviço. A diferença basilar entre ambos é que o primeiro é um bem tangível e o outro, naturalmente, intangível. O que acontece é justamente isto que Pai Rivas escreveu. O capitalismo selvagem trocou o "produto" miséria, calcado na cor da pele, pelo "serviço" miséria, onde a população é massificada e classificada como "minorias"(!?!?).
A Umbanda auxilia no processo de libertação real da escravatura em todos os dois casos supracitados. Seja percebendo o preto-velho como Mestre da Sabedoria e da Humildade, seja desconstruindo as relações de riqueza como sinal de aperfeiçoamento humano. Dentro do terreiro o Cooperativismo venceu o Corporativismo.
Para o sociólogo Peter Berger* "a institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação recíproca de ações habituais por tipos de atores". Na Umbanda constatamos que através de seus terreiros (no âmbito religioso) e da FTU (no âmbito acadêmico) transformou-se em hábito a contra-ideologia de "desmassificação" da miséria e acentuamento dos nobres valores espirituais. Tudo isso através de um processo profundo de Educação para uma Cultura de Paz.
Como disse outrora, a Umbanda trocou a papoula pela Arruda e,com isto, age em parceria com outras áreas da Gnose Humana curando os chagas de ordem espiritual, cultural, social, política e econômica.
* A Construção Social da Realidade – II. A Sociedade como realidade objetiva – pág. 79.