terça-feira, 18 de agosto de 2009

Quem não se lembra da primeira vez que pisou no terreiro?


A primeira vez que entrei num terreiro nesta vida foi inesquecível. Recordo-me que na portaria ficava uma senhorazinha de tez negra muito alegre e verdadeiramente humilde que entregava uns números que eram senhas de atendimento gratuito dado pelas entidades que iriam se manifestar naquela tarde de quarta-feira.
Ao entrar no recinto vi que na assistência estavam sentadas pessoas com posses e outras com tão pouco, lado a lado, esperançosas em falar com os Guias daquela casa. Dentro da Gira, observava vários médiuns vestindo o branco, de todas as procedências, mas que dentro da corrente eram apenas mais um elo.
O pai de santo da casa chegou ao terreiro! Com muita alegria todos recepcionaram o sacerdote e aguardavam sua orientação para dar início ao rito daquele dia. Feita as orações, escutamos pontos belíssimos de Oxalá, Oxóssi, Ogum e tantos outros Orixás cultuados por aquela Escola ao cheiro do defumador que queimava alfazema, incenso e benjoim.
Após os cantos preparatórios, é chegada a grande hora. A curimba canta harmoniosamente pontos que louvam os pais e mães velhas. Baixam estes Guias e com muita dificuldade se deslocam pelo terreiro cruzando-o e batendo a cabeça no chão em frente ao Congá de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tão logo as saudações se findam, eles caminham para os cantos do terreiro e sentam em seus tocos pitando charutos com muita calma e alegria nos olhos.
Chamava-me a atenção o pai de santo incorporado com uma preta-velho bem próximo ao Peji e como a entidade abraçava e aconselhava cada filho de santo que estava no terreiro. Devido às normas da casa, todas as pessoas que estavam visitando a casa pela primeira vez tinham que passar pelo atendimento do Guia Chefe. Logo, assim como outras pessoas que me antecederam, esperei chamar o meu número e fui beijar a mão da Vovó.
Vovó Sabina com seu pano que ficava estendido em cima da perna do pai de santo fazia todas as suas magias, as suas mirongas. Depois de uma conversa amorosa e os passes que tomei com o cachimbo da Vovó, saí do terreiro renovado e pronto para mais uma fase de minha vida que se iniciara naquele dia.
Este breve relato de um dos meus primeiros contatos com a Umbanda permitiu vivenciar a beleza e a importância da ligação íntima de um filho de fé com seu pai ou mãe espiritual. Como que eles nos ensinam a incorporar, antes de qualquer coisa, humildade, paciência, fortaleza, simplicidade, amor e pureza de sentimentos e propósitos. Só o terreiro permite respirar o Amor.
As vídeo-aulas demonstraram estas ligações de forma muito objetiva, principalmente nas edições que versaram sobre mediunidade. A Conferência de Magia Oracular, pelo que fomos informados do Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras, irá discutir e reforçar todo este contexto do terreiro e o fortalecimento dos seus respectivos sacerdotes.
Fica evidente que os cursos pagos e frios, por mais que possuam técnicas, estão distanciados do Espiritual, do Humano. O desenvolvimento das faculdades adormecidas do médium é uma experiência que requer a paciência e a sabedoria do dirigente espiritual do terreiro. Não existe meio de retirar este papel fundamental das nossas Escolas Umbandistas.
Vida Longa a todos os abnegados trabalhadores dos nossos terreiros que prezam compartilhar o Amor em primeiro lugar.

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