segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Frutos do I Congresso de Umbanda do Século XXI

É muito comum observamos citações sobre os Congressos de Umbanda que aconteceram ao longo do século passado. De fato, estes eventos são importantes na demonstração das idéias que permeavam importantes comunidades umbandistas daquela época. E um destes sinais de "vida" do movimento umbandista foram dados neste final de semana no I Congresso de Umbanda do Século XXI. Considerando o que falamos dos congressos passados, podemos afirmar que a Umbanda está em um ótimo caminho.

A tônica do Congresso realizado nas dependências da FTU foi a diversidade umbandista e sua aproximação da Academia visando o Saber Popular. Sim meus irmãos. A Umbanda, mais uma vez agindo de forma inclusiva, neutralizou as desigualdades e colocou em pé de igualdade o povo e a elite intelectual do nosso país através de um verdadeiro processo dialético.

Aquilo que parecia impossível foi concretizado pelo movimento umbandista através da FTU: a comunicação efetiva entre os Saberes Acadêmico e Religioso. Através de um clima sincero e fraterno, cientistas e umbandistas sentaram literalmente lado a lado para compartilharem visões profundas da Umbanda, dos Cultos Afro-brasileiros e da própria nação brasileira. A cosmética social saiu de cena e deu lugar para questões essenciais.

Isto sem falar da organização do evento que, de fato, foi impecável. Palavras estas que não foram apenas dos Conselheiros do CONUB presentes, mas dos próprios acadêmicos que participaram ativamente do Congresso. Lembrando que estes mesmos acadêmicos de alto nível como o prof. Dr. Camurça e prof. Dr. Luiz Assunção colocaram-se à disposição da Umbanda para a produção de parcerias entre a Ciência e a Religião. Que notícia alvissareira!

Vale lembrar também que este evento foi muito importante, mas não deixou de acontecer dentro do terreiro! Isto mesmo meus irmãos. O evento aconteceu dentro do santuário da FTU. Nas fotos divulgadas pelo comunicado do CONUB, vocês observarão o carpete azul que serviu para proteger o solo sagrado do terreiro e as telas enormes que velavam o Congá da faculdade. Afinal, o principal evento umbandista do século XXI precisava acontecer no interior de um templo umbandista! Além de todo o exposto, que não representa um décimo do que foi o Congresso, não poderíamos deixar de encerrar este email sem mencionar a equipe de trabalho.

Os voluntários da faculdade (professores, alunos e umbandistas em geral) demonstraram a importância e o resultado de uma verdadeira militância ao transformar todas as dependências do estabelecimento em um lugar adequado para recepcionar um Congresso de tanta relevância para a nossa religião.

Estamos ansiosos para participar do II Congresso de Umbanda do Século XXI que, segundo Pai Rivas, já está marcado para o ano que vem nos dias 13, 14 e 15 de novembro! A comissão organizadora já está formada e caberá a cada um de nós, em nossas respectivas cidades, organizarmos e produzirmos conteúdo para apresentar a este grupo. E deixa a Gira girar!

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Quimeras Economicistas (parte VI)

Paó para ti!

Chegamos na síntese da nossa discussão, passando pela hipótese e antítese.

Quanto a demanda. Ok. Em linhas gerais penso exatamente o que você descreveu considerando a aplicabilidade da "lei" apenas em casos específios, quase sempre distante da realidade humana. Daí eu ter chamado a mesma como assíntota, percebe?

Quanto ao consumo-desejo-necessidade. Perfeito! Minha abordagem foi mostrar que o sofista capitalista utiliza necessidades reais para empurrar produtos através de um falso desejo, tal qual você falou. Em outras situações, o agente capitalista empurra mesmo a oferta e o consumidor compra de qualquer jeito mesmo.

Perceba que em ambos os casos todo mundo sai perdendo mesmo. Como bem lembrado por ti os Economistas poderia utilizar sabiamente as analogias da Ciência Médica afirmando que o modelo vigente é um câncer espiritual e material.

João Luiz

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Quimeras Economicistas (parte V)

Vamos ao terceiro item.

Quanto a "lei da oferta e da procura" e as "religiões afro-brasileiras". O ponto comum entre ambas é que as duas são construções ideológicas. Explico.

A tal lei foi construída ao longo do tempo, substituindo a noção quase religiosa de "mão invisível" de Adam Smith. Esta construção teórica procura justificar o capitalismo como um sistema justo e auto-corretivo - por tender "naturalmente" ao equilíbrio. Esta construção foi se expandindo para além das fronteiras da relação entre produtores e consumidores, abrangendo também salários e lucros, poupança e investimento, entre oferta e demanda por emprego, entre receitas e despesas etc. A construção apoiou-se em duas ciências - a matemática e a fisiologia, que instrumentalizam a noção de igualdade e equilíbrio natural (quem já não ouviu algum economista fazendo analogias médicas ou apelando ao discurso matemático?). É bom que se diga que esta extrapolação da noção de homeostasia - enxertada da fisiologia na economia, é completamente indevida e não tem outro papel que não o ideológico.

Refiro-me a ideologia no sentido de ocultamento do que é real. O aluno de Ciências Econômicas para entender a existência da "lei" precisa aceitar certos pressupostos (aí começa o imbróglio): liberdade, racionalidade, "onisciência" - dos seus desejos, das disponibilidades de mercadorias, de seus preços, dos custos e das vantagens relativas de postergação de consumo, etc., só para falar de alguns aspectos ligados à demanda. Do lado da oferta o raciocínio é mais ou menos similar: onisciência - de todos os custos e disponibilidades de fatores de produção (mão-de-obra, matérias-primas, capital fixo, investimentos, etc.) e ter onisciência das chamadas curvas de preferências do consumidor.

Veja João, estou falando em onisciência - lógico que no curso eles não dizem isto aos alunos, pega mal! Então, é pressuposto que os ditos agentes econômicos "conhecem" o mercado. Mas, e o tal equilíbrio "onipresente" no capitalismo como é justificado? Surge outro problema. Os arautos e "sacerdotes" do capitalismo ficam diante de um dilema tautológico ("síndrome Tostines"): explicar o equilíbrio de mercado pela lei da oferta e demanda e, ao mesmo tempo, explicar a lei da oferta e da demanda pelo equilíbrio de mercado.

Como disse anteriormente, o grande problema de todas as teorias não está normalmente no corpo teórico, mas nos supostos - axiomas, paradigmas e dogmas. A suposta liberdade, "onisciência", racionalidade econômica e equilíbrio não são verificáveis, não são fatos, mas pressupostos. Daí a ideologia.

Tirando os véus da ideologia, você teria que dizer que no sistema capitalista a "lei" não é do equilíbrio, mas é a o do mais forte, mas isso não é palatável, não oculta, revela o cerne da realidade. Mas quem é que tem interesse na realidade?

Não existe demanda ou oferta que se equilibram, existe o poder de pessoas ou de grupos (empresas, instituições, classes, partidos, países, blocos econômicos etc.) operando por persuasão, dissuasão ou por imposição, construindo e desconstruindo valores a partir do desejo (que é a tentativa de preencher a "sensação" de vazio).

No seu exemplo: você não desejou o telefone, o seu desejo era de comunicar-se. Se fosse possível fazê-lo telepaticamente você ficaria satisfeito, mas quem iria ganhar com isso? Não só economicamente, mas inclusive em termos de prestígio social.

Há uma questão essencial no poder - a sujeição ou dependência. Veja, o telefone não foi "empurrado", mas se impondo magicamente e você adquiriu um com a impressão de que o teria desejado - eis o mecanismo da ideologia, nada parece "empurrado" mas desejado. O desejo de se comunicar se transfigurou num aparelho. Um telefone que precisa ser comprado, validado, carregado de créditos, trocado por modelos que aparentam "status" - com agenda, mp3, mp4, televisão e máquina fotográfica, com acesso rápido à internet, num sem fim de recursos para atender um sem fim de "desejos". Espectros inicialmente produzidos pela "usina" do inconsciente, mas que o capitalismo exponencial e dá-lhe figuração própria "adesivando-os" momentaneamente em objetos criados e recriados continuamente (daí sua especificidade). O capitalismo é voraz e autofágico, precisa expandir continuamente o consumo (não interessa uma demanda de crescimento vegetativa), criar novas necessidade, novos desejos - eis o motor e "mola" do sistema. Neste sentido a "oferta" cria a demanda e não o contrário.


Aratish

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Quimeras Economicistas (parte IV)

Vamos aos conceitos trazidos por ti.

1) Concordo. Equilíbrio de mercado não pode existir enquanto os players são orientados ao acúmulo de riquezas. Esse pensamento é um verdadeiro câncer no sistema econômico mundial.

2) A questão é que aplicaram às teorias econômicas uma lógica matemática superficial. Deixaram de lado os conceitos mais cósmicos em detrimento de resultados imediatos. Coloca-se tudo aquilo que é Imanifesto dentro dos famosos "y = f (x)" e fica por isso mesmo... Dito de outra forma, fomentam a racionalização do homem com meios e justificativas irracionais. Cadê a tão propalada lógica de Mercado?

3) Concordo e discordo de você nesse item meu caro. Tentarei ser mais específico. Se analisarmos ipsi literi os conceitos "religiões afro-brasileiras" e "lei da oferta e da procura" certamente nada ou quase nada seriam úteis. Porém, na prática, esses conceitos são aplicáveis em casos específicos. Não vou enveredar pela questão "afro-brasileira" para não correr o risco de sair do cerne da temática.

Observe que para a "lei da oferta e da procura" ter aplicação, devemos imaginar um mundo regido por um modelo grotescamente construído de equações aritméticas. Também deveríamos partir da premissa que toda a humanidade é egocêntrica e, na dúvida, sempre optará pela vantagem individual frente ao modelo competitivo vigente. Mais do que isso, para ser uma "lei" de fato deveria ser comprovado em quase todos os casos com exceções raríssimas o que justificaria que a "lei" é de fato. Certo?

No entanto, observamos que em alguns setores essas premissas são comprováveis. Não existe um pensamento maquiavélico por parte da minoria detentora do Poder Político e Econômico? Esses mesmos ególatras não utilizam a publicidade, propaganda e outros artefatos mercadológicos objetivando incutir na Sociedade o pensar, sentir e consumir de forma geométrica e até mesmo exponencial? Nessa realidade as contra-ideologias, como a própria Umbanda, não são exceções da mediocridade do pensamento capitalista?

Por isso que a lei da oferta e da procura foi justificada naqueles exemplos trazidos por mim. Podemos afirmar que essa "lei" funciona como assíntotas da realidade humana, entende?

Sobre a questão do desejo. Concordo com você, apenas vou ampliar a discussão. Antes de existir o telefone eu não o desejava, mas queria poder me comunicar com certas pessoas a qualquer tempo e hora. O que quero afirmar com isso? Que apesar da necessidade de consumo existir por fatores exógenos à minha vontade, a demanda essencial (comunicação com os outros) não foi "empurrada" para mim. Eu queria efetivamente isso.

Acontece que o "agente mercantilista" capta essas necessidades "verdadeiras" e cria uma gama de produtos e serviços que atendam, ampliem e desdobrem essas e outras necessidades ilusórias que aumentam a demanda essencial e, conseqüentemente, a cadeia de produção. Pronto! Está criado o círculo virtuoso, considerando apenas o material, e o vicioso, partindo da visão espiritual.

Pior do que criar necessidade é basear-se em uma real necessidade para iludir o homem. O sofismo foi aplicado ao ganho de capital e deu $$$.

4) O equilíbrio, a racionalidade surgirá na justa medida que todos os valores humanos são trabalhados em sua Ordem natural. Definitivamente o modelo atual não só impossibilita como inverte essa que, para mim, é uma condição sine qua non.

João Luiz

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Quimeras Economicistas (parte III)

Aranauam João,

Perfeito, acrescentaria:

1) O tal equilíbrio de mercado na concorrência perfeita é isso: fábula. Nunca existiu. Não passa de uma formulação ideológica. É contrária à lógica da acumulação.(daí meu questionamento sobre um suposto ideal de justiça embutido na idéia do equilíbrio de mercado capitalista)

2) A ideologia (velamento/ocultação) sempre se manifesta debaixo da roupagem dos axiomas, paradigmas, leis e dogmas. O discurso economicista parte de uma racionalidade dos agentes econômicos (produtor e consumidor) que não existe , de um modelo de concorrência que não existe, de um mercado que não existe e de um homem igualmente inexistente (racional, onisciente do mercado, livre em suas escolhas e eficiente no uso de sua renda e de seu capital, sabe encontrar o ponto de equilíbrio perfeito nas suas e em outras curvas de indiferença).

Formulam-se doutrinas, planos e políticas a partir de uma ilusão e vendem-se assim receitas, entregam-se prêmios (até Nobel) e cargos aos formuladores destes devaneios, que de tão longe da realidade parecem mais delírios esquizóides. Neste "mundo de Alice" alguns economistas são contratados a peso de ouro por empresários, especuladores e governos, mas ao fazerem seus vaticínios espertamente não esquecem do bordão acadêmico: "ceteris paribus".

Incrível é o desprezo dos economistas para a com a Religião. Justo eles que vivem de vender crenças!

3)Para mim, do mesmo jeito que não existem religiões afro-brasileiras, não existe também a dita "lei da oferta e da procura" - pura ficção.

Antes do celular existir eu não desejava o celular, antes do autorama existir eu nem sonhava com ele, o mesmo para o jeans, para a "calça rancheira" (antecessora do jeans), as "havaianas", para a "baguete" que substituiu a "bengala"... tudo isso se impôs ao tal mercado: cadê a tal da "demanda", o "rei do mercado" (consumidor)?

4) Onde fica a poluição, a brutal taxa de desemprego, a produção para o desperdício e obsolecência programada, a indústria de armas, a fome, a assimetria econômica entre classes e países... cadê o equilíbrio, a racionalidade?

Aratish

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Quimeras Economicistas (parte II)

Aratish. Suas palavras foram muito precisas. Gostaria de desdobrar alguns pontos importantes.

Sobre o equilíbrio de mercado. O modelo de concorrência perfeita diminui a taxa de lucro. Isso significa aumentar o custo de oportunidade e, naturalmente, diminui o dinheiro no bolso do acionista. Conclusão? Equilíbrio de mercado fomentando pela livre concorrência, ou mesmo subsidiado pelo Governo, é tudo que o modelo capitalista não quer!

A questão de cada um buscar maximizar o lucro em se tratando de Mercado é regida pela velha Lei de Oferta e Demanda. Partindo dessa premissa temos no acionista um ator econômico que sempre colocará seus recursos em produtos com maior demanda e retirará o capital dos produtos com muita oferta.

De uma maneira rudimentar podemos afirmar que - dentro do conceito de maximização do lucro - vale a pena fomentar a miséria em alguns pontos do orbe para abastecer países com maior demanda por comida. O momento atual da economia mundial e o aumento exponencial dos preços dos alimentos é uma prova cabal. Para os países miseráveis utiliza-se uma falsa "responsabilidade social" onde o Poder Econômico cria programas de capacitação profissional adequados as suas necessidade (você nunca
viu algum programa técnico para formação de teólogo, não é mesmo?) que entregam trabalhadores padronizados com baixo custo. Não podemos esquecer as ações emergenciais que mantém a comunidade local adormecida frente ao caos social visando exclusivamente permanecerem inalteradas as Operações destas mesmas empresas naquela região.

Falamos de Demanda, mas vamos exemplificar Oferta também. Os investimentos estruturais em educação e saúde para a população como um todo possuem muita procura na figura do Estado. O custo do investimento, TIR, PayBack Descontado e outros indicadores econômico-financeiros inviabilizam o "investimento social". O paliativo é explorar o atendimento dessas demandas apenas para os setores lucrativos, leia-se classe "A". Surgem os planos de saúde extremamente caros, hospitais "top", escolas que criam "alunos padrão" em escala industrial...

As duas grandes guerras mundiais não salvaram o sistema. Ao contrário, criaram uma "promissória" mundial que está para ser liquidada a qualquer momento. Esqueceram que ao desequilibrar o Meio Ambiente, no sentindo latu da expressão, construíram um buraco negro social que tende a crescer na exata proporção da ação nefasta do capitalismo selvagem. O "11 de setembro", as doenças "inéditas", os genocidas suicidas e tantos outros "agentes neo-sociais" são exemplo disso.

Por isso que escrevemos agora e observamos no seu último texto, estamos convictos que um sistema baseado na inversão de valores espirituais e no lucro nunca permitirá o equilíbrio do homem com ele mesmo e, naturalmente, com a própria sociedade.


João Luiz

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Quimeras Economicistas (parte I)

Existe Equilíbrio de Mercado?

O tal equilíbrio de mercado é uma criação ideológica que remonta a noção de "mão-invisível" criado por Adam Smith (cônego presbiteriano), que defendeu a classe emergente ligada ao comércio que se fazia representar na Câmara dos Comuns Inglesa, contra os privilégios dos Lordes e do Rei Inglês. Por ser, na origem, um conceito quase religioso foi paulatinamente substituído pela idéia de mercado "homeostático" (de homeostasia corporal), que tendia naturalmente ao equilíbrio. Este equilíbrio só era obtido se cada um dos agentes econômicos buscasse maximizar o lucro (self-interest), dito de outra forma, o cônego em questão advogava a mais incrível contradição: os homens dando vazão ao seu egoísmo e competindo entre si, produziriam o melhor para a sociedade: a riqueza das nações.


A "mola" do sistema é o lucro (egoísmo) e não o mercado (conseqüência).

O sistema capitalista não foi teorizado e depois inventado - uma boa teoria que se maculou em má prática. O sistema foi se constituindo e, ao mesmo tempo, surgiram teorias em sua defesa e umas poucas para criticá-lo. A concorrência perfeita - paraíso da econometria e dos discursos ideológicos mostrou-se pouco aplicável. A quimera mutante capitalista se impunha aos inebriantes sonhos de perfeição teórica – constituíam-se oligopólios, cartéis, monopólios, monopsônios, etc. Longe do equilíbrio, o “Leviatã” capitalista vive crises cíclicas. O tão decantado equilíbrio fez-se flôr-do-vento - inflação, hiperinflação, sub-emprego, desemprego em massa, trabalho semi-escravo, má distribuição de renda, miséria e desperdício. O "crack" da Bolsa de Nova York foi sintomático e não à toa surgiram as políticas intervencionistas (dos Estados nas economias) e salvacionistas para o capitalismo autofágico. Onde estaria o equilíbrio de mercado?


As duas grandes guerras mundiais e as guerras posteriores salvaram o sistema (do egoísmo), mas a que preço? O eixo capitalista desloca-se de continente, europa para o USA.


A frase o "equilíbrio de mercado é uma forma de igualdade no pensamento capitalista" supõe que a plutocracia produz justiça social. Será possível o impossível? Lembro-me do Sr. Delfim Neto, economista da ditadura propor que a economia era como um bolo, precisava primeiro crescer para depois ser dividido. Como qualquer economista ele sabia que o "bolo" nasce dividido entre salários e lucros, qual seria então a motivação daquele discurso?


A observação atenta e isenta dos fatos da realidade e da trajetória histórica do capitalismo leva-nos a conclusão inexorável de que o equilíbrio de mercado é uma peça ideológica forjada para ocultar os desequilíbrios que o sistema capitalista cria. O equilíbrio e a “homeostasia” capitalista não passam de ficção, ideologia com o intento de justificar o sistema de competição selvagem, da apropriação privada da riqueza social (lucro) e manutenção do "status quo" - da riqueza de poucos se fazer pela miséria de muitos.


Em resumo, o paradigma básico do sistema não mudou, continua sendo o lucro (apropriação privada da riqueza coletiva, ou seja, egoísmo institucionalizado). Os desequilíbrios econômicos e ambientais, as assimetrias sociais e culturais não condizem com alguma noção de igualdade ou de equilíbrio, concorda?


Aratish

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Tolerância já não basta, precisamos Viver as Diferenças

Após assistir a 1ª parte do vídeo sobre o Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras, conversarmos com Pai Rivas por telefone sobre o assunto e esse contato permitiu desdobramentos interessantes dos quais gostaria de dividir e dar continuidade nas listas.

Todo o trabalho do Centro de Cultura Viva é fruto direto da percepção da humanidade como uma realidade plural em todos os seus sentidos. As afinidades espirituais e materiais, suas relações sociais, suas histórias definem como as comunidades se formam e habitam os dois lados da vida. Assim, para o Centro de Cultura Viva reunir a Pajelança, Caatimbó, Toré, Encantaria, Terekô, Mabassa e tantos outros elementos ligados a Tradição Afro-brasileira é necessário refletir sobre o convívio pacífico de todos.

Para ajudar essa reflexão, Pai Rivas lembra que não é de hoje que temos no conceito de "Tolerância com as Diferenças" uma referência para a busca da Paz em seus diversos e complementares aspectos. Todavia só ela não é suficiente para atender nossa necessidade coletiva de harmonia, equilíbrio e estabilidade seja espiritual ou material.

Assim Pai Rivas identifica três níveis de compreensão sobre o assunto.

Androgônico. Tolerar a Diferença. Cabe ao indivíduo entender e admitir o outro com seu arcabouço de pensamentos, sentimentos e ações. É uma percepção positiva.

Cosmogônico. Respeitar a Diferença. Mais do que tolerar, o indivíduo compreende que o conjunto pensamento/sentimento/ação do outro faz parte da diversidade humana e do ângulo de interpretação de cada um. Encontramos a percepção relativa.

Teogônico. Viver a Diferença. Nesse estágio, o indivíduo se integra harmonicamente à pluralidade sem perder suas características ou, dito de uma outra forma, reforçando o elo pelas semelhanças. Estamos falando de uma percepção superlativa.

Essa visão didática também demonstra que os níveis androgônico e cosmogônico estão mais relacionados ao "estar" tolerante e respeitoso. São condições passíveis de mudança a qualquer momento. Já o nível teogônico se relaciona ao "ser", pois afinal viver é algo inerente ao Espírito.

Quando citamos as diferenças, não nos referimos as desigualdades. A "diferença" nos leva a pensar em elementos dentro de um mesmo plano. A "desigualdade" remete elementos em planos diferentes. Pai Rivas exemplifica através das cores. Dizer que o azul não é igual ao amarelo demonstra uma diferença. Afirmar que o azul é melhor que o amarelo incita a desigualdade.

Uma outra forma de entender o conceito é observar que a Diferença gera Diversidades e a Desigualdade gera Adversidades.

Talvez alguns irmãos listeiros estranhem esses conceitos. Podem até mesmo vir a perguntar se Pai Rivas está se contradizendo, pois até ontem defendia com segurança o conceito de Tolerância com as Diferenças.

Com naturalidade respondemos que estas palavras estão complementando o entendimento inicial. Não é a toa que Pai Rivas afirma para seus filhos espirituais pararem de ouvi-lo no dia que ele começar a repetir as mesmas coisas. Afinal, a Umbanda é uma Unidade Aberta e em constante construção.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Umbanda e sua distribuição social do conhecimento

Aranauam, Saravá, Axé meus amigos,

O conhecimento pode ser definido como uma crença verdadeira e justificada. Entendemos que este é fundamental para a evolução do espírito em sua busca contínua do religare. A religião possui um papel importante neste processo, pois através dela muitas chaves de acesso e interpretação do conhecimento conduzem coletividades inteiras para tal fim.

Como a Umbanda trabalha estes aspectos com seus seguidores? Como os Ancestrais Ilustres modelaram tal sistema de demonstração e adaptação do conhecimento ao ser humano?

Boa parte destes questionamentos, que não temos a mínima pretensão de responder em sua totalidade por agora, podem ser compreendidos quando entendemos os templos-terreiros como escolas de transmissão do conhecimento. Reconhecer as escolas umbandistas é a mesma coisa que aceitar a forma plural que nossos mentores estabeleceram para conduzir seus irmãos planetários.

As escolas umbandistas não só atendem a maioria dos seus prosélitos como vão além: conseguem chegar à totalidade do nosso movimento, existindo concomitantemente em todas as camadas sociais e carregando os mesmo valores em vários ângulos de interpretação. Todos conseguem acessar o sistema de conhecimento só que adaptado exatamente a cada indivíduo. Dito de outra maneira, o Todo é Uno e o Uno manifesta-se no Todo.

Assim estabelecido as conexões entre as escolas, todos os filhos de fé começam a trilhar seus caminhos por dentro de sua escola mais afim de forma justa, igualitária e fraterna.

No entanto, vemos algumas tentativas de alterar essa forma de trabalho dos nossos condutores de Aruanda. O que é natural para o momento que vivemos de grandes transformações, mas que não podemos deixar estabelecer no seio de nosso movimento. Cada dia que passa torna-se muito comum a confecção de cursos, livros e fórmulas mágicas de assimilação rápida desses sistemas. Algo do tipo como “pagou, levou”.

A tentativa de impor um código único de transmissão do conhecimento é atacar diretamente esta estrutura tão bem construída pelo Astral Superior. Pior do que isso é utilizar os meios comerciais e propagandísticos para chegar a tal intento. Como estamos inseridos na sociedade que privilegia a satisfação imediata do desejo, estabeleceram-se ao longo dos anos cursos de rápida duração que permitiram ao umbandista incauto achar que pode ser pai-de-santo em poucos meses. Limitarei o exemplo dos cursos pagos, para não me estender tanto.

Não sei se o amigo leitor já percebeu, mas ao estabelecer a questão financeira como meio principal de acesso ao sistema umbandista de conhecimento promove-se uma inversão dos valores. Em vez de reformular a si com conhecimento e ações produzidas pelo contato diário, gradativo, horizontal e vertical no terreiro; o mesmo passa a fazer uso apenas da sua carteira para adquirir valores ilusórios embrulhados em certificados pomposos que possuem pouca utilidade dentro de uma Gira.

Peço licença aos Senhores Curadores do Mundo e no fundo d’alma convido todos os irmãos para juntos executarmos a tarefa que nos foi convidada:


“A mata tava fechada,
Oxalá mandou abrir.
Quem é filho de Caboclo,
Tá na hora de sair...”

Bibliografia:

  1. E-mail do Babajinan de tema “Polarização na Umbanda – Idealistas e os Mercantilistas”: http://br.groups.yahoo.com/group/apometria_umbanda/message/10569
  2. Site do CONUB. http://www.conub.org.br/quem.html
  3. Umbanda- A Proto-Síntese Cósmica. 3ª ed. F. Rivas Neto. Editora Ícone