quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O dia que eu (vi)vi uma casa viva!

No último sábado foi realizado mais um toque de Candomblé de Caboclo no Ile-Oka 7 Estradas. Como sempre, oportunidade de viver em comunidade de santo, em harmonia com o Orixá, repleto de Axé. Numa casa de cantos e encantos, parece-me que ficou "naturalizado" a magia reinante dos toques tanto do Candomblé quanto da Encantaria. Só que este sábado conseguiu ir além.


Antes de tudo, preciso situar minha posição. Sou um iniciante do Candomblé de Caboclo, mesmo sendo Iniciado na Umbanda Esotérica. Com o Mestre Araphiagha, ou melhor para este caso, com o Babalorixá Iwin AyoTola começamos a praticar esta religião de forma exclusiva em um único terreiro há pouco mais de 3 meses.


No Candomblé de Caboclo experenciamos o prazer, a satisfação, a alegria do transe com o Orixá e com o Ancestral. No linguajar do Santo: Ayó e Axé. Esse lugar de interface é simples e igualmente complexo. Parece-me que assim como a água é a convergência entre oxigênio e hidrogênio, o Caboclo deste culto é a convergência entre os Deuses e os Ancestrais Divinizados.


Pois bem, no centro do nosso Ile tem um Opá. É em torno dele que fazemos o Xirê, incorporamos o Caboclo, somos possuídos pelos Deuses Africanos. Especificamente no último sábado, o Caboclo 7 Estradas deu transe para Ogum e neste exato momento a magia se fez presente: o tempo parou, a casa se encheu de vida e valência de Ogum preencheu todos os espaços. Sinceramente, experienciei um transe coletivo. A força que emanava de nosso Babá ultrapassava os limites físicos do seu corpo e iluminava todos os Oris e Barás do povo de santo presente numa grande aliança com o Orixá. Não é a toa que estávamos no Ile-Oka...


Ao som dos atabaques belissimamente tocados pela curimba e os Orikis de Raiz víamos a dança do Orixá. Um deles que afirmava ser Ogum o Senhor das Arenas e que varria o campo para trazer boa sorte encheu nosso olhos de lágrimas. Ao dançar em torno do Opá, o axis mundi se deslocara. Se antes estava fixo no assentamento, agora estava vivo no Babá. O mundo não tinha mais divisão entre sagrado e profano, entre centro e periferia. O centro era móvel, era vivo e dinamizava a tudo e a todos os presentes. Esse centro tinha nome: Ogum. Esse centro bradava e dançava no meio de nós no sentindo anti-horário rememorando a Tradição.


Eis que uma folha de Mariô que estava devidamente fixada no filá do Babá, um verdadeiro capacete de Ogum, começa a se desprender. Enquanto Ele dançava, gradativamente a folha ia se deslocando... Até que caiu. Como uma "pena" dançava no ar até repousar exatamente a frente do assentamento em exatos 90º graus, parecendo que o próprio Orixá colocou lá para marcar o espaço dele. E quem disse que não foi isso mesmo?!?!


Essa cena simples, porém com uma probabilidade praticamente inexistente de acontecer, marcou minha alma. Olhei para o lado e vi Tata Macaia, meu mais velho, com os olhos marejados. Por um instante saio daquele transe coletivo e olho para mim. Já não sou mais o mesmo. Não me reconheço, reconheço o Astral, o Sagrado, a valência e o poder de Ogum expressos fidedignamente em Iwin Ayotola. Piscos os olhos e o Orixá se despede, indo em direção do Roncó sob o Alá de Oxalá. 


Acabou o rito. Que nada, acaba de iniciar mais um ciclo vencedor de batalhas e da guerra. Prostro-me no chão, dou o dubalé. Saúdo meu Eledá, minha Linhagem e o propiciador de tudo isso... Axé Babá Mi!


Yabauara

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