Aranauam, Saravá meu caro leitor!
Nos dias 08 e 09 de dezembro estivemos pela primeira vez participando da homenagem paulista à Yemanjá, a nossa "rainha do mar". Neste momento tão especial experimentamos situações bem interessantes e gostaríamos de dividir com nossos irmãos de caminhada.
O local da festa ao qual nos referimos é Praia Grande/SP. Durante este final de semana e o anterior inúmeros terreiros se encontraram nesta praia para a realização de seus preceitos, homenagens e renovações de fé. A praia é um dos principais sítios sagrados na nossa visão e deveríamos cultuá-la com o máximo de atenção aos seus aspectos de preservação ambiental. Infelizmente não foi isto que percebemos. Muitas flores, velas e frutos estavam jogados tanto na areia, quanto na beira do mar.
Continuando nossas observações, por alguns instantes, paramos para olhar a imensidão de areia tomada por templos-terreiros dos dois "lados" da praia. Conseguíamos nos identificar em cada mãe e pai espirituais, sentíamo-nos irmãos de santé de cada umbandista presente naquele grande encontro umbandista. Foi observando aquela profusão de pessoas e casas religiosas, escutando as lições de nosso pai espiritual que uma conclusão se fez presente naturalmente. A Umbanda funciona como um grande espelho da sociedade, construindo dentro de si toda a diversidade e realidade social existente.
Dizemos isto, pois assim como nosso país, a grande maioria dos terreiros demonstravam possuir escassos recursos que não permitiam uma melhor organização do espaço que utilizaram. Outros terreiros, ao contrário, conseguiam estruturar-se muitíssimo bem. Alguns eram bem simples, outros bem mais "sofisticados". Porém, assim como o pobre e o rico de no nosso país possuem a nacionalidade como ponto comum, a enorme diversidade na forma encerra na identidade umbandista seu ponto de convergência.
Continuando nossas comparações, percebemos que a falta de organização geral do evento retratava claramente a situação política de nosso país. É mais fácil manter o brasileiro desarticulado para que a minoria elitista mantenha o statu quo, assim como é mais confortável fomentar a desunião dos terreiros presentes na festa. Em vez de realizar um cadastro de terreiros, demarcar com placas indicativas a posição de cada agrupamento religioso e sugerir um ponto comum na festa para que todas as casas realizassem uma homenagem em conjunto a Yemanjá, preferiram seguir o aforismo "cada um por si e Deus por todos", ou melhor cada terreiro na sua e o seu Orixá também!
Meus caros. Pai Rivas vaticina algo interessantíssimo. "Tolerância com as Diferenças, não quer dizer tolerância com o erro" . Respeitar as características individuais de cada comunidade umbandista não quer dizer que somos apologistas da desordem. Aliás, esta é uma característica sine qua non do Astral Inferior. E aqueles que preferem a manutenção desta desordem no meio umbandista são seus comparsas no mundo da forma. Ou será que estou errado?
Agradeço o amigo leitor que me acompanhou até este parágrafo. Se falamos algo não muito agradável, o fizemos com tristeza. Sinceramente gostaríamos de apenas ressaltar as coisas positivas, mas não somos hipócritas. Aliás, possuímos diversos defeitos, mas a hipocrisia passa longe do nosso equipo físico. Mas não desanime com nossas palavras. Assim como no país existem grupos e pessoas que pensam no bem do coletivo, também não poderíamos deixar de citar as muitas casas que exercitavam a caridade espiritual naquela areia acinzentada de Praia Grande.
Aliás, não só de caridade espiritual a Umbanda vive. A proposta umbandista é integral. Suas ações sociais são efetivas em três formas. Na epiderme da comunidade, nos campos estrutural e, principalmente, paradigmático. Mais do que palavras, gostaríamos de trazer exemplos.
O CONUB (Conselho Nacional da Umbanda do Brasil) participou do evento através de sua parceira FTU (Faculdade de Teologia Umbandista). A FTU realizou nas duas semanas de homenagens a Yemanjá a Campanha de Prevenção da Hipertensão Arterial. Esta Campanha conquistou o expressivo número de 1500 atendimentos gratuitos remediativos – atuando na epiderme social com aplicação de remédios quando necessário –, preventivos – de forma estrutural informando sobre os problemas causados pela hipertensão arterial – e paradigmáticos – recomendando dietas e posturas que manterão a saúde por um tempo alongado. Interessante informar que todos os sete médicos que participaram da ação eram umbandistas.
Além disto observamos um belo exercício de Convivência Pacifica. Pai Ramos (Aramaty) esteve presente no espaço onde a União de Tendas, SOUESP e Guerreiros do Axé se estabeleceram como organizadores do evento para exercitar o diálogo. Pai Rivas (Mestre Arhapiagha) também participou ativamente do evento. Ora medindo a pressão de pacientes que faziam fila para serem atendidos na Campanha supracitada, ora conversando com os presentes: Pai Jamil Rachid, Pai Milton Aguirre, Ogã Basílio, Pai Guimarães, umbandistas anônimos, seus filhos espirituais da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino (OICD). Detalhe importante: todos com a mesma atenção. Para quem dizia que o Pai Rivas só teorizava sobre a importância do diálogo...
Relatando todas estas impressões, podemos dizer que o evento já estava chegando ao seu término. Muitos umbandistas foram agradecer o ano que obtiveram, tantos outros foram pedir por dias melhores aos pés da linda estátua de Yemanjá construída no calçadão da praia. Assim como o povo brasileiro, ficou evidente que nossa banda possui fé e esperança.
Talvez se traduzirmos esta vontade de crescer em esforço para concretizar as boas idéias trazidas pelos nossos queridos Ancestrais Ilustres conquistaremos o maior presente, a maior homenagem à Yemanjá que possamos imaginar: O amor cósmico! Vamos tentar?
E deixa a Gira girar!
Saravá fraternal,
João Luiz de Almeida Carneiro
CONUB: trabalhando pela dignificação da Umbanda e do umbandista
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