Aranauan, Saravá, Axé!
    Em textos recentes comentei sobre a vivência na minha raiz  de várias formas de pensar e experenciar o Sagrado nas Religiões Afro-brasileiras  e, em especial, o Tambor de Mina. Mais do que falar sobre, pisei em um Terreiro  de Mina tradicional no Maranhão, assistindo, interagindo e vivenciando este  ritual maravilhoso.
    
Ainda evocando o que já escrevi, consegui ter uma terceira  percepção além do pesquisador acadêmico ou religioso de outro terreiro. Dito de  outra forma, realmente me senti um "mineiro", como se fala no jargão. Esta  identidade não foi criada hoje. Está profundamente relacionada com o Centro de  Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras. Por este motivo, gostaria de  comentar um pouco desta minha experiência especificamente com esta casa do Pai  Rivas.
    
Faz alguns anos que pisei pela primeira vez no Centro de  Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras, casa de Iniciação onde são  ritualizados vários ritos da nossa Tradição, inclusive o Tambor de Mina.
    
Pois bem, neste primeiro contato com o Centro de Cultura senti  o que todo mundo sente. Curiosidade com o novo, o desconhecido. Uma profusão de  símbolos que me traziam paz, felicidade, mas que ao certo não conhecia seus  reais significados. Aliás, Pai Rivas sempre abrira o Centro de Cultura para que  vários filhos seus, adeptos de outros terreiros, acadêmicos, consulentes, enfim  a sociedade geral o conhecesse. Igualmente muitos destes citados lá pisaram e  nada compreenderam. Mas o Astral é sábio e, de uma forma ou outra, dá o tempo  necessário para que todos encontrem os seus caminhos. 
    
Meu Pai deu a oportunidade de continuar frequentando o  Centro de Cultura e, anos depois, participar ativamente dos seus vários ritos ao  lado de vários irmãos de santo que perceberam a importância, seriedade e  profundidade desta proposta espiritual. Claro que alguns não entenderam, mas  sabemos que assumir o estilo de vida do povo de santo não é fácil. Não cabe  preconceito, elitismo ou desigualdades de qualquer ordem.
    
Continuando, vi e vivi os Mestres, Caboclos, Encantados,  Exus,Voduns, Inkices, Orixás, enfim a diversidade de Ancestrais e do panteão de  Deuses Afro-brasileiros. Foi esta diversidade que vivi também no Tambor de Mina  em terras maranhenses. Afinal eles fazem as ladainhas católicas, em latim  inclusive, cantam para Vodum, cantam para Orixá, cantam para Caboclo. Louvam os  Ancestrais!
    
Fico me perguntando onde está a pureza doutrinária e  ritualística que tantos acadêmicos ou religiosos ortodoxos evocam e que não se  faz presente nas casas mais tradicionais das Religiões Afro-brasileiras. Aliás,  as semelhanças não param por aí. 
    
Por exemplo, abaixo coloco uma foto onde lado-alado estão:  médium do tambor de Mina saindo do transe e Mestre Canindé acostado no Pai Rivas cessando o transe de  uma filha de santo no Centro de Cultura Viva.

        
Observem  que ambos  utilizam o mesmo elemento: a toalha branca. A dinâmica rito-litúrgica também é  idêntica. Final do rito; ambos realizando o procedimento próximo dos  tambores/abatás; postura dos médiuns (ligeiramente curvados) e voltados para o  centro da roda... Este registro fotográfico comparado é apenas uma das várias  formas de demonstrar o que expus.
    Se para mim foi motivo de agradável surpresa, para o Astral  e estes sacerdotes, tenho certeza, é algo natural. No espiritual não existe  cizânias, desigualdades. Existem sim expressões diversas de uma mesma  Espiritualidade.
    Ps: O pano utilizado no Centro de Cultura não é  pano-da-costa, mas a professora Mundicarmo Ferretti comentara conosco que em  sua etnografia verificou que as casas mais antigas utilizavam o pano branco  liso. O pano-da-costa é um elemento mais recente no Tambor de Mina, atualmente  utilizado em larga escala.
Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
 
         
  Clique na imagem e conheça o site da FTU