quarta-feira, 19 de maio de 2010

Diálogo acadêmico e religioso na FTU em 3 perspectivas: Catafático, Apofático e Aporia

Aranauan, Saravá meus irmãos planetários!

Muitos de nós durante o século XX ouvimos e/ou convivemos com a idéia de que religião e ciência são questões opostas entre si. Se for assim no sentido lactu o que dizer das religiões afro-brasileiras marcadas pela tradição oral – um saber não convencional? Diante deste impasse dentro e fora da academia surge a FTU(Faculdade de Teologia Umbandista): uma instituição de ensino superior credenciada e autorizada pelo MEC, construída por professores umbandistas, com o objetivo de estudar teologia! Foi esta faculdade que permitiu que eu e outros estudantes sem vinculação direta à ela conhecêssemos um novo paradigma sintonizado com os avanços do terceiro milênio: A FTU dialogando não só com a Ciência e a Religião, mas também com a Arte e a Filosofia.

Estimulado por uma salutar curiosidade e interesse acadêmico fiz uma visita à faculdade que coincidiu com a semana de avaliação. No 4º ano, por exemplo, o futuro teólogo é estimulado a exercitar a construção coletiva do conhecimento sem deixar de assumir sua responsabilidade individual. A própria avaliação traduz isto. Logo no início da aula que assisti foi entregue a prova para todos os alunos, porém a mesma não foi respondida individualmente. Durante a prova o professor escolheu aleatoriamente um aluno para responder em nome do grupo e o mesmo definiu um colega para auxiliá-lo na discussão. Na resposta de cada questão, os alunos e o professor dialogam e aprofundam o problema em diversos aspectos. Dito de outra forma, as respostas extrapolam o papel e são respondidas de forma viva e com intensa integração do grupo.  Queremos registrar que vi também na FTU formas clássicas de avaliação, como provas individuais ou mesmo apresentações em grupo; mas enfatizei especificamente esta por sua inovação pedagógica.

Bem, se o formato é fantástico o conteúdo da prova é melhor ainda. Nela pude identificar temas como Sagrado, Teologia, Política, Ecologia, Homem, Sociedade... Para não deixar o texto muito longo, gostaria de tocar sucintamente uma questão fundamental à Teologia: os processos teológicos catafáticos e apofáticos.

Ambos possuem influência da teologia cristã. Pai Rivas nos explica que catafático significa etimologicamente afirmativo, logo é uma teologia positivista que busca – por meio da razão discursiva (ou comunicativa) – compreender a "existência" Divina bem como suas "qualidades" utilizando pressupostos afirmativos. Deus é Amoroso, Deus é Bom, Deus é Justo, etc. Na perspectiva apofática, compreendido na raiz da palavra como negativo, temos uma teologia negativa. Ela se baseia na premissa de que não podemos compreender Deus pelo conhecimento humano, logo só podemos falar Dele negando-O. Em suma, Deus não é nada daquilo que conhecemos ou podemos imaginar que seja.

Existe uma ampla discussão calcada nestes dois grandes paradigmas cristãos até os dias de hoje. A FTU estuda e apresenta aos seus alunos uma terceira via chamada Aporia (do grego "sem poros"). Nas palavras da profa. e teóloga Maria Elise (Yamaracyê), ela nos leva a um caminho "sem saída", um paradoxo que remete a um impasse, uma desconstrução do que está dado incentivando-nos a um novo caminho. Ou quem sabe velho no sentido de natural e primevo?!?

Por que não pensarmos na possibilidade de responder a esta questão teológica aproximando o catafático e apofático no primeiro momento e sintetizando-os em última instância na Aporia? Será que aqui não encontramos uma visão que sustenta o porquê da Umbanda ser uma Idéia que se expressa em diversas linguagens que são as próprias Escolas?

Em vez de uma afirmação (catafático) ou uma negação (apofático), são com estas duas perguntas aporéticas que convido os irmãos para discutirmos na lista. Afinal Pai Rivas sempre diz: Não temos a última resposta, porque não temos a última pergunta!

E deixa a Gira girar!

Em tempo. Anexei a prova em questão para auxiliar no nosso diálogo.


Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

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