Aranauan, Saravá meus irmãos planetários,
Ultimamente temos observado o interesse do irmão umbandista e de uma maneira geral dos religiosos afro-brasileiros em pesquisar a nossa religião como um todo. Antes de continuar o tema, cabe aqui uma digressão. Aprendi com Pai Rivas a sempre valorizar o aprendizado de terreiro transmitido pelo sacerdote aos seus filhos de santé. Até porque esta metodologia milenar é muito profícua para conduzir o adepto à Espiritualidade e os pais e mães espirituais sérios não só permitem como estimulam que seus filhos – quando por vontade própria fazem esta escolha – estudem sua religião sem abrir mão da vivência que sempre é importante.
Retomando a nossa abordagem, religiosos da tradição afro-brasileira vêm buscando com curiosidade crescente compreender a religião partindo de uma visão integrativa, ou seja, entender não só o fenômeno religioso como também educar seu senso crítico para compreendê-lo em outros ângulos possíveis. Seguindo a jornada do irmão "curioso", normalmente ele inicia sua busca por livros de teor religioso. Se possuir um senso crítico mais apurado, naturalmente, descartará obras que apresentam erros crassos. Afinal se o livro é sério certamente não apresentará rupturas com as grandes conquistas epistemológicas da sociedade. Pelo contrário, confirmará ou mesmo ampliará gradativamente estes saberes. Na prática, pode acontecer que irmãos não muito acostumados com o senso crítico admitem estes equívocos por insipiência e normalmente o seu pai ou mãe de santo consegue orientá-los quando estão realmente bem intencionados. Já os mal intencionados...
Com o passar do tempo parte deste grupo pode vir a buscar o conhecimento acadêmico propriamente dito. É iniciada então a pesquisa bibliográfica de autores consagrados e as "descobertas" começam a saltar os olhos. Autores religiosos que se arvoraram a escrever sobre Ciência e erraram ficam desacreditados. Alguns abusaram destes erros e enganaram o leitor ao afirmarem estar "mediunizados" ou "inspirados" pelos Caboclos e Pais-Velhos. Não poderia ser diferente. Os fatos históricos podem até engendrar múltiplas interpretações, mas não podem ser deturpados em sua essência.
Ainda que o indivíduo em questão tenha pesquisado fontes conceituadas da Academia, não basta somente replicar este conhecimento. Reproduzir por reproduzir seria o mesmo que admitir a visão estritamente acadêmica como superior ou privilegiada quando comparada à visão religiosa. O que é um equívoco. Pensamos exatamente o oposto, o umbandista realiza uma boa pesquisa acadêmica de fato quando constrói e exercita seu poder crítico sobre o material pesquisado, levando sempre em consideração sua vivência templária – que como dissemos inicialmente é essencial.
Neste ponto o teólogo pode contribuir bastante. Teologia é aplicar o senso crítico à religião e dentro de um curso acadêmico como o oferecido pela FTU (Faculdade de Teologia Umbandista), único em seu gênero, ao longo de 4 anos o estudante acessará diversas disciplinas da Ciência oficial, bem como os variados ritos das mais diferentes Escolas das religiões Afro-brasileiras durante as aulas práticas. Ao final do curso, se aprovado, saberá o que diz a Academia com clareza; mas não repetirá o conteúdo sem reflexão. Acrescentará uma visão crítica, assumindo os conceitos válidos, desconsiderando os equivocados e continuamente preencherá porias com as vozes da Tradição que são em última análise nossos Orixás, Inquices e Voduns expressos pelos Ancestrais Ilustres.
E deixa a Gira girar!
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
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