sexta-feira, 16 de março de 2012

A relação profunda entre povo de santo e povo

Aranauan, Saravá, Axé!

Dentro de poucas horas estarei dentro do terreiro para louvar Exu. Mais do que louvar Exu, também vou incorporá-Lo, buscando empoderar, na medida de minha capacidade, Seus valores, Sua forma de enxergar e transformar o mundo, enfim vivenciar a salutar linguagem religiosa  do povo de santo sob as mãos de meu Pai espiritual.

Vivenciar tudo isto, me remete a contemplar todo o intenso e profundo trabalho desenvolvido pelo Pai Rivas que estimula a discussão de questões que transitam do local para o global e vice-versa sem solução de continuidade. Exemplifico.

Não faz muito tempo, pude presenciar uma discussão de longa e que ocupou espaço significativo na Umbanda sobre a pretensa codificação desta linguagem religiosa. Na época o questionamento de meu Pai era simples, mas igualmente poderoso.

Como podemos homogeneizar e hegemonizar uma Religião que foi e é diversa desde sempre? Refletindo mais o exposto. Mesmo em sendo possível, qual forma, qual método iria prevalecer sobre as demais? Como ficariam todos os adeptos da Umbanda que não se "encaixariam" neste processo homogeneizante?
Enfim, quem seria este "papa" com plenos poderes de julgar a todos do povo de santo?

Ficou claro com a intensa discussão entre adeptos de vários cantos do planeta que esta visão codificada da Umbanda só traria prejuízos para todos nós. Na época, os próprios simpatizantes da ideologia da codificação tiveram que voltar atrás. Confesso que participei ativamente destes momentos dentro da nossa religião e limitei minha crítica exclusivamente à Umbanda. Contudo, vivenciando a constante da tradição que é a contínua mudança, tenho percebido como a defesa incondicional pela diversidade, portanto contrária à codificação, é importante não só para o povo de santo, mas para o povo.

A constatação se deve, principalmente, pelos dois últimos vídeos de Pai Rivas em seu blog "Espiritualidade e Ciência" intitulados Religiões afro-brasileiras - Democracia não pode ser universal e Religiões afro-brasileiras - visão e metodologia política (ambos disponíveis em: http://espiritualidadeciencia.wordpress.com/).

Este rico material do blog demonstra como o povo é diverso e, portanto, pensar um sistema de governo único para todos os países, mesmo que seja a democracia é homogeneizar, logo codificar, é querer transformar a nossa força plural em massa de manobra. Mesmo o nosso sistema de governo, democracia representativa, dificulta o poder real para o povo de forma justa, mas exercitando o voto consciente, ou seja, responsabilizando-nos pelas escolhas feitas, conseguiremos andar de forma significativa para a mudança deste status quo.

Pensando por meio de analogias: não fazemos uma única forma de rito dentro das Religiões Afro-brasileiras da mesma forma que não somos idênticos no agir em sociedade. Somos livres dentro do povo de santo para seguir a Tradição que mais nos fala à alma e, igualmente importante, devemos lutar por nossa liberdade de escolha na sociedade.

Logo, podemos concluir que ações locais bem estruturadas atuam na sociedade como um todo. Ao irmos de encontro à codificação umbandista e ao encontro da diversidade, exercitamos nossa consciência para pensar uma democracia plural, portanto, real! E deixa a Gira girar!


Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)


 
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