Aranauan, Saravá, Axé!
Nesta última segunda-feira Pai Rivas apresentou em seu Blog "Espiritualidade e Ciência" o texto "As Religiões Afro-brasileiras lamentam o etnocentrismo e demais enganos" acompanhado do vídeo "Olodumarê abençoa a humanidade", ambos disponíveis no site: http://espiritualidadeciencia.wordpress.com
O texto e o vídeo tratam de assuntos importantes e atuais, mas para não deixar o texto muito extenso, gostaríamos de abordar um aspecto em específico: as afirmações do pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) sobre a condição espiritual da África.
Vamos ler o que aconteceu:
Feliciano tuitou: "Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé. Isso é fato". Antes dessa mensagem, ele já havia escrito: "Entre meus inimigos na net (sic), estão: satanistas, homoafetivos, macumbeiros…"
As mensagens geraram uma série de protestos online contra ele, que já havia afirmado na quarta-feira, também pelo Twitter, que os negros africanos sofrem com pestes, pobreza e fome por descenderem, supostamente, desse ancestral amaldiçoado, neto do personagem bíblico Noé. "A maldição de Noé sobre Canaã (o neto) toca seus descendentes diretos, os africanos", afirmou. Segundo o deputado, Canaã teria sido amaldiçoado porque seu pai teria cometido um ato homossexual, referindo-se a uma passagem bíblica em que Cã (pai de Canaã) ri da nudez de Noé. "Alguns eruditos afirmam que a palavra rir aponta para prazer, então o filho abusa da nudez do pai", disse. Em seguida, Feliciano conclui que esse seria "possivelmente o 1º Ato de homossexualismo da história".
No twitter, Feliciano postou que africanos seriam "amaldiçoados". A ÉPOCA ele afirmou que não se referia à cor, mas à religião dos povos da África.
A ÉPOCA, Feliciano disse que tudo não passou de uma "infelicidade". "Sou professor de teologia, e uma vez por dia posto no meu twitter uma pergunta bíblica para meus alunos. A questão do dia tinha sido essa: 'por que Noé ficou furioso com o filho, que o viu nu, e amaldiçoou o neto e não o próprio filho?'" Segundo a explicação que ele deu à reportagem, Noé, enfurecido, teria lançado uma praga sobre o neto para machucar mais o filho, e esse neto, Canaã, teria dado origem aos povos africanos.
Fonte: http://tiagolinno.wordpress.com/2011/04/01/marco-feliciano-sera-investigado-na-camara/
Sinceramente não vou discutir sobre o conteúdo em si, pois é óbvio que está errado. Mais do que errado é absurdo, etnocêntrico, racista, eugênico, homofóbico, intolerante com outras religiões, enfim inadmissível. Vamos explicar melhor isto.
Primeiro por ele ser deputado federal. Como representante do povo, fiscal do poder executivo e corresponsável pelas leis do nosso país, precisa resguardar o espírito laico em nossa sociedade agregando e promovendo o diálogo entre todos os credos, inclusive aqueles que crêem em nada (ateus). Não pode fomentar a desigualdade, mas sim a defesa pela igualdade vis-à-vis o respeito às diferenças.
Como líder religioso de uma comunidade, não deveria suscitar a cizânia, a hierarquização de povos. Isto denota uma clara influência do evolucionismo social de Spencer, onde se distinguem sociedades melhores que outras. A história é fiel depositária de como isto representeou uma chaga difícil de curar até os dias de hoje, pois concretizou guerras das mais horrendas.
Por último e não menos importante. O pastor e deputado federal Marco Feliciano se intitula professor de teologia. Ao procurar na internet, encontramos a instituição dele. Trata-se do Instituto Teológico Carisma que busca ensinar uma "teologia" pentecostal. O problema é que tal instituição não é regulamentada pelo MEC, ou seja, "teologia livre" e como tal pode lecionar o que bem entender sem nenhuma preocupação com a teologia cristã, de onde teoricamente extrairia suas questões.
Os irmãos se não perceberam, agora percebem o problema das "teologias" livres. Pode tudo, vale tudo. No final do curso emitem um certificado com nenhum valor perante a sociedade, apenas para a instituição que forneceu o mesmo. Esta doutrina transmitida por professores sem formação, sem infraestrutura pedagógica, entre outros vários itens omissos por falta de regulação do MEC é perigosa e pode produzir aberrações como esta afirmação do pastor "professor" (sic).
Mas não basta falar da religião dos outros, precisamos refletir sobre a nossa fé também. Devemos cobrar de nossos representantes políticos, aqueles mesmos que foram pedir voto para o povo do santo, uma postura exemplar sobre este caso. Mais do que isto, fazer uso do poder de mobilização dos nossos sacerdotes para não nos calarmos diante destes fatos. Vide a ação do Pai Rivas em seus canais digitais.
Não podemos também olvidar a questão educacional calcada na teologia. A teologia bem feita permite um diálogo entre Ciência e Religião. A boa formação universitária é uma necessidade para que este se realize e as instituições de ensino superior regulamentadas podem promover isto.
Já a teologia livre não. Ela trás ao público conceitos dos mais absurdos e que não passam pelo senso crítico, gerando aberrações como as do pastor em questão e outros erros científicos básicos cometidos pela teologia livre também são observáveis em outros setores religiosos, inclusive o nosso.
Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
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