quinta-feira, 10 de novembro de 2011

História Viva - Um (re)encontro com a memória do Mestre!

Aranauan, Saravá, Axé!

É com imensa alegria que estou vivenciando uma semana repleta de realizações. Afinal, amanhã começa o IV Congresso Brasileiro de Umbanda do Século XXI/ I Congresso Internacional das Religiões Afro-americanas. Esta semana assistimos a uma maravilhosa palestra da sacerdotisa Yamaracyê sobre Tradição Oral (vide fotos em: http://sacerdotemedico.blogspot.com/2011/11/tradicao-oral.html), sem falar da defesa de dois trabalhos de conclusão de curso dos mais novos teólogos das Religiões Afro-brasileiras. Um deles, inclusive, é sacerdote.

Só que agora vou falar de algo muito especial. Uma noite histórica, pois nela puder tocar memórias maravilhosas e vivas de meu Pai Espiritual, Pai Rivas!

Quem nunca ouviu do Pai Rivas qualquer comentário, por menor que seja,  sobre a pizzaria "Tio Gino"? Tenham certeza que a melhor pizza do mundo está lá e sou prova viva e cabal disto. Por que a melhor? Além, da comida em si, uma massa e recheio de dar água na boca, a conversa com o proprietário, os funcionários, meus irmãos de santo e principalmente o convívio com o Mestre propiciaram uma das melhores experiências de comensalidade.

Durante a conversa rica e descontraída, sentia a mesmíssima sensação de quando o Ancestral está no terreiro. A alegria contagiante, as palavras que libertam, enfim... Como disse Pai Rivas no twitter: um encontro sagrado-social com o Eurípedes (garçom que nutre uma amizade com meu Pai a mais tempo do que tenho de vida na presente encarnação), Babalarena (querido delegado!) e o trio das mais novas teólogas formadas pela FTU: Rosimeire, Aradhana e Yarananda!

Ainda remetendo ao twitter, Pai Rivas nos lembrou também que esta pizzaria com mais de meio século de vida fica na Rua Labatut, 615, muito próximo do Seu primeiro terreiro na Rua Lord Cokrane. E para a surpresa de todos na mesa, após comer aquela pizza maravilhosa e também a berinjela no pão, Pai Rivas nos convidou para conhecer o lugar.

E lá fomos nós para a porta do primeiro terreiro que meu Pai comandou na presente encarnação. Nossa! Só de recordar o que experenciei naquele início de madrugada... Fico novamente emocionado. Mas quando falo emoção, gostaria de registrar que estou escrevendo neste exato instante com sorriso no rosto e nos olhos, pois (re)conheci onde meu Mestre derradeiro fundamentou a sua primeira casa de Iniciação, fruto de uma linhagem consistente recebida de Pai Ernesto de Airá e outros Mestres dos dois lados da vida igualmente importantes.

Isto tudo faz parte da história viva de Pai Rivas que, ainda na década de 60, nos idos de 68 iniciou uma trajetória sacerdotal de peso.

Falando de terreiro, Pai Rivas conversou sobre os diversos trabalhos espirituais realizados então na época. E muitos deles transcorriam na Igreja praticamente de esquina do seu terreiro, onde trabalhava fortemente o Exu 7 Igrejas das 7 Encruzilhadas. Detalhe, a Igreja que poderá ser vista em um álbum de fotos que estamos disponibilizando neste email, bem como todos os lugares que transitamos nesta noite histórica, possuía exatamente 7 andares e um desenho arquitetônico que remete ao poder fálico de Exu. Impressionante mesmo!

Subindo a rua Labatut chegamos na porta de um templo de um grande amigo do Pai Rivas. Trata-se do Pai Osvaldo que trabalhava com o portentoso Caboclo Vira Mata de Ogum. Localizado no sugestivo número 727, recebia no andar superior do estabelecimento comercial também de sua propriedade a comunidade para encontrar o Sagrado. Quantas e quantas vezes em 70 Pai Rivas estacionou seu carro na porta do terreiro para celebrar a vida e a felicidade trabalhando neste templo com o Caboclo!

Voltando ao carro, continuamos o nosso percurso maravilhoso e igualmente mágico. Rapidamente paramos na porta da Casa de Umbanda – Casa Folha Verde e o Mestre nos contou sobre a boa amizade existente com os proprietários e clientes que acorriam ao estabelecimento.

Finalmente veio o convite para conhecermos na Via Anchieta, 308 um local muito especial, um espaço que de tão sagrado hoje virou uma praça e recebe no seu centro um conjunto de belíssimas árvores. Este templo do Pai Rivas fundado em 1970 e que permaneceu até 1973 é repleto de belas histórias, muitas que ouvimos naquela mesma noite, olhando para as árvores que velam o passado e emergem novos significados simbólicos.

Pai Rivas nos contava tantas e tantas histórias que me fez lembrar um dos papéis fundantes e fundamentais do Babalawô – enxergar os enredos da vida e transmiti-los por meio de histórias ritualizadas. Pai Rivas, ao contar a Sua história, contava a minha história, contava uma parte da história das próprias Religiões Afro-brasileiras, pois estamos inseridos numa grande rede; onde cada história particular é coletiva e tudo que hoje a FTU, OICD e Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras são devem à história viva que Pai Rivas nos relembrou na madrugada de terça para quarta-feira desta semana.

Fica o convite para observarem as fotos, disponíveis em: https://picasaweb.google.com/111180957928379870311/HistoriaViva?authkey=Gv1sRgCPHu27zt3pes_gE#slideshow/5673354203940801026. Trata-se de um acervo histórico que a FTU guardará em sua biblioteca e minha mente arquivará no âmago do meu ser.

 

 


Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)



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