Hoje li dois textos muito interessantes. Logo no início da madrugada, pude refletir sobre a publicação de Pai Rivas "Espiritualidade e ética dos adeptos das Religiões Afro-brasileiras" (disponível em: http://espiritualidadeciencia.wordpress.com) e horas depois o texto do meu irmão de santé, portanto discípulo de Pai Rivas, mestre Ygbere sobre sua vivência templária com nosso pai e avô espiritual transcrito abaixo da minha assinatura.
Ambos os textos tocam a sua maneira em temas que são de suma importância para as Religiões Afro-brasileiras. Refiro-me à Iniciação e Ética.
As Religiões Afro-brasileiras visam a Felicidade Real. O método de alcançá-la está diretamente conectado com a Iniciação: "conhecer o início de todas as coisas, inclusive de si mesmo". Estas palavras do Pai Rivas sintetizam bem o assunto. Se o objetivo (Felicidade) e método (Iniciação) das Religiões Afro-brasileiras são importantes, não podemos deixar de comentar o que une este binômio, a Ética.
A Ética pode ser compreendida como um diálogo sincero entre Mestre e Discípulo, Pai e Filho de Santo. O Pai conhece e ensina o caminho que oferece ao seu Filho, afinal percorreu todo ele, e o Filho só está com seu Pai porque tem certeza disto. Não existe subserviência, escravidão, obrigação. Existe reconhecimento, contemplação e amor do discípulo para com o seu Mestre, pois a amizade e convívio não é convenção ou conveniência social, é convicção espiritual.
Como muitos são os ângulos de interpretação da comunidade de terreiro, igualmente muitas são as formas que o Mestre faz uso para mostrar o caminho para o Filho. Aí está a diversidade, mas esta diversidade não é desigualdade. Pois não existem privilegiados, todos têm iguais condições e esta igualdade é balizada pelo trabalho em favor da causa espiritual e coletiva. Portanto, não comporta processos vaidosos ou egoístas.
Talvez seja neste ponto que muitos que buscam a iniciação rolam os seus degraus. Afinal, seja no passado recente ou atualmente, quantos não buscaram-na por causa exclusiva do "holofote", dos títulos? Quantos não encararam a tarefa espiritual como trabalho profano no melhor estilo capitalista, ou seja, o trabalho só serve para ganhar recompensa e fugir do castigo?
Não, meus amigos. Definitivamente o trabalho que abraçamos dentro da nossa Raiz não está condicionado a recompensas ou castigos, muito menos aos títulos. Se existem títulos, eles são apenas o registro de mais um trabalho, mais uma responsabilidade assumida. Por exemplo, Pai Rivas é Sacerdote, Mestre-Raiz, Mago, Babalawô. Estas e outras denominações refletem apenas as Suas conquistas espirituais e, vale apena ressaltar, só geraram mais compromisso e responsabilidade com o Astral Superior e a comunidade de santo. Na nossa comunidade, quanto mais alta a Iniciação, mais trabalho assumido e mais conquistas alcançadas. Simples assim.
Agora, se indivíduos que tiveram a oportunidade ímpar de passar pelas mãos de seu Pai de santo não souberam aproveitar ou, pior, quiseram fazer uso da iniciação como forma de chegar mais rápido aos holofotes... Que cada um assuma seus atos. A liberdade é a constante, mas ela só se realiza quando aliada à responsabilidade.
O que não faz sentido é de início cantar loas ao seu Mestre e agora que fora levado a sair definitivamente de nossa casa, por depor contra a ética da nossa Raiz, falar exatamente o contrário, buscando intriga e discórdia, realizando uma verdadeira projeção. Algo como falar para o espelho. Não somos santos e nem queremos que os outros sejam, mas coerência e bom senso não fazem mal a ninguém.
Mas vamos em frente. Aliás, nunca paramos. A melhor forma de constatarmos a seriedade e veracidade de um trabalho é analisar os resultados. Estou muito feliz com os que vivencio no meu terreiro e todos que estão com os seus pais e mães de santo certamente experenciam igual felicidade. Talvez esteja aí a beleza da diversidade nas Religiões Afro-brasileiras. Somos felizes por estarmos com quem queremos e respeitamos verdadeiramente que optou por outras escolhas. E deixa a Gira girar! Aliás, ela já girou!
Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
Há pelo menos trinta e poucos anos atrás, tive a grata oportunidade de estar presente na Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino - OICD, dirigida pelo nosso mestre Arhapiagha - Pai Rivas , que recebia seu mestre de iniciação, o mestre Yapacani - Pai Mata e Silva (nosso avô de Santé). Naquela noite memorável, depois dos rituais que os dois grandes mestres nos propiciaram, Pai Mata (que era a forma que ele gostava de ser chamado) pediu a palavra e disse a todos quea morte chegaria para todos um dia e com certeza, ela, a morte, era um momento sempre difícil, e felizes daqueles que verdadeiramente tinham a lhes acompanhar o Caboclo, o Pai-velho e a Criança, pois estes eram amigos reais e neles poderíamos confiar para aquele momento...
Naquele momento, com certeza, não pude dimensionar suas palavras por que eu era apenas um iniciante nas coisas da vida e da iniciação. Mas o tempo passou. Pude ver que a morte, que o grande mestre dizia, eram vários tipos de morte, tal qual morrer para o profano, morrer para situações que muitas vezes criamos por várias vidas e insistimos em retomá-las... e todas estas "mortes" devem acontecer para que renasçamos nesta vida melhores.
Muitos irmãos como eu, tiveram a grande oportunidade de ter um mestre astral encarnado a nos conduzir, e todos aqueles que têm uma visão real da iniciação vão entender que a lição passada pelo mestre ao discípulo deve ser na linguagem que ele entenda. Muitos discípulos das religiões afro brasileiras, advêm de heranças conflituosas, endurecidas, de total exclusão, seja ela social, econômica ou familiares, precisando de um grande dispêndio de energia de nosso mestre para ajustar mentes, emocionais destruídos e até a saúde do corpo físico totalmente depauperados, delas próprias e daqueles que convivem com elas.
Muitos não entendem sua forma de agir e passam a sugerir, em redes sociais, condutas e métodos que são boas palavras de se ouvir, mas sem aplicação prática na melhoria desta grande massa. Não precisamos de palavras de cursos de auto-ajuda, precisamos reconhecer que todos tiveram e têm grandes oportunidades de crescimento, seja elas espiritual ou material, basta querer, fazer, ousar e principalmente calar...
Não podemos confundir senso de responsabilidade consigo e com o próximo, com medo, pois o mestre Arhapiagha nunca me ensinou a ter medo, seja da vida, dos obstáculos que tinha de vencer ou dele mesmo, pois sempre vi a relação dele com o Pai Mata, profundamente respeitosa e fiel, e sendo assim, sua conduta com seus discípulos nunca distanciou teoria da práxis.
Espero que aqueles que tem e tiveram a oportunidade de conviver com este grande espírito que é nosso mestre de iniciação, clareie suas mentes e corações e calem-se, pois a missão do mestre Arhapiagha é colossal , e o mesmo vem demonstrando por suas grandes obras, A FTU, a Casa de Cultura, nove livros editados, 50 anos de mediunismo atendendo a grande massa de necessitados que batem a porta da casa do Sr. Urubatão da Guia diuturnamente, e muito mais poderia ser citado.
Espero que todos possam entender as mudanças que a vida pede e sigam o caminho que escolheram afinal águas que já passaram por nós não retornarão. Sigamos o fluxo e nos momentos de grandes transformações (mortes citadas acima) em suas vidas, possam ter o Caboclo, a Criança, o Pai-Velho e o Exú, a lhes dar a mão... Se for possível.
Ygbere
Discípulo de Mestre Arhapiagha
__._,_.___"A Escola da Síntese preconiza a Universalidade e a Unidade de todas as coisas que nos remete à Paz Mundial que se consolida na Convergência." (Mestre Yamunisiddha Arhapiagha)
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