segunda-feira, 23 de julho de 2012

Quebrando a lógica do opressor/oprimido

Aranauan, Saravá, Axé!


Mais uma semana iniciando com boas ideias na rede mundial de computadores. Refiro-me à última publicação do Pai Rivas intitulada: "O conceito de escolas: reviravolta no processo histórico das religiões afro-brasileiras" (disponível em: http://espiritualidadeciencia.wordpress.com).

 

Neste texto, Pai Rivas nos lembra sobre a construção histórica das Religiões Afro-brasileiras. Esta foi, sem sombra de dúvidas, repleta de perseguições, maus tratos e repressão contra o povo de santo. Afinal, desde seus participantes aos elementos religiosos cultuados, é possível constatar que esta religião era repleta de indivíduos classificados como pobres, pretos, mestiços, escravos, enfim, as classes oprimidas pela sociedade.


Ao citar as classes oprimidas, imediatamente remetemos ao pensador Paulo Freire. Ao analisar a lógica do oprimido-opressor, tocada por Hegel quando afirmou que "o oprimido reproduz a lógica do opressor", aprendemos com Freire que a cultura, educação e outras ferramentas sociais forjam na mente do oprimido traumas difíceis de superar. Quando, por algum motivo alheio à regra do capital, o oprimido ascende socialmente, imediatamente repete (ás vezes de forma até mais contundente) as perseguições e desmandos dos seus antigos opressores aos seus "mais novos oprimidos".

 

De certa forma, as religiões Afro-brasileiras passaram por este processo. Pai Rivas é bem claro no texto que pode ser lido no link mencionado acima. Nas primeiras oportunidades onde os adeptos das religiões afro-brasileiras conseguiram sair desta opressão cultural, social e até mesmo religiosa,  montaram seus núcleos de culto bem fechados e estabeleceram relações do que seria melhor ou pior para si. Na verdade, não tinham outra saída. Esta estratégia era a única factível para sobreviverem. Meus respeitos a todos os meus mais Velhos.

 

Observem que com isto, a história das Religiões Afro-brasileiras estava, pelo menos até bem pouco tempo atrás, fadada ao isolamento dos terreiros em núcleos e, por conflitos e tensões histórico-sociais, assumir novas/velhas posturas de opressores na primeira e menor ascensão que sujeitos ou grupos conseguissem.

 

Retomando o pensamento de Paulo Freire, citamos: "O grande problema está em como poderão os oprimidos que "hospedam" o opressor em si, participarem da elaboração como seres duplos, inautênticos da pedagogia de sua libertação. Somente na medida em que se descobrem "hospedeiros" do opressor poderão contribuir para o planejamento de sua pedagogia libertadora".

 

Sinceramente, não tenho a resposta para o problema em escala brasileira. Mas acredito que no âmbito das Religiões Afro-brasileiras já podemos dar o primeiro passo. Aliás, ele já foi dado quando os vários pais e mães de santo preparam o terreno para um ambiente de menor conflito e, consequentemente, maior diálogo intrarreligioso.

 

Para pensar a nossa pedagogia da libertação, nada melhor que uma instituição de ensino. Quisera o Astral das religiões de matriz afro-brasileira que se consolidasse uma Faculdade de nível superior autorizada e credenciada pelo MEC (Ministério da Educação) para (re)pensar e concretizar este projeto. Refiro-me naturalmente à Faculdade de Teologia Umbandista (FTU).


Estes frutos já surgiram com o desenvolvimento e aprofundamento do conceito de Escolas trazido pelo Pai Rivas. Não precisamos mais nos legitimar pelo que nossos opressores fizeram. Podemos quebrar o ciclo vicioso de opressor-oprimido, aceitando a importância de todas as formas de compreender e praticar o Sagrado nas Religiões Afro-brasileiras. Podemos olhar e experenciar a diversidade religiosa afro-brasileira não mais como concorrência intrarreligiosa, mas como convivência pacífica.

 

Sei que é uma hipótese, mas não posso me furtar do direito de constatar que as religiões afro-brasileiras pela primeira vez na história estatística do IBGE não perdeu números relativos à sua pertença religiosa. Fizemos um grande trabalho de resistência da nossa identidade. É uma vitória de todo povo de santo e a FTU certamente ajudou neste processo, porque ela não defende este povo, ela é povo.

 

Que bom! Novos tempos chegaram. Podemos nos fortalecer sem enfraquecer o outro. Pelo contrário, o conceito de Escolas nos ensina que o crescimento de um representa o crescimento do Todo. Nos dizeres de Pai Rivas, viva diálogo gelstáltico! Vamos dialogar?

 

 


Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

 
Clique na imagem e conheça o site da FTU


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