quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sobre desenraizados e seitas

Aranauan, Saravá, Axé!

Falamos ontem de seitas e desenraizados. Certamente precisamos melhor nos colocar para que os conceitos sejam plenamente compreendidos e possamos ter uma discussão salutar.

Sobre seita. Nada melhor que as palavras do meu Pai. Ainda este ano, dia 08-01-12, ele fez um belíssimo texto intitulado "Religiões Afro-brasileiras - A diversidade de cultos neutralizando violência" disponível em http://sacerdotemedico.blogspot.com.br/2012/01/religioes-afro-brasileiras-diversidade_09.html

Neste texto, pedimos agô para transcrever Suas palavras que expressam tudo que pensamos e sentimos:

"Não são das religiões afro-brasileiras lideres de seitas inflamados pelo egocentrismo e narcisismo, que desejam ajustar o mundo segundo suas convicções.

Assim precisamos expressar, não porque desrespeitamos tais líderes, mas para reiterar que não são das religiões afro-brasileiras.

Segundo a psiquiatria que tomaremos como pressuposto, se é defrontado com muitos lideres de seita que desejam controlar as ações de seus discípulos, com uma visão delirante de mundo.

É necessário estar atento ao fato de alguém se declarar líder, mormente quando se diz divino, e quando afirma ser o único a conversar com Deus, sendo necessário, pois, destruir esse mundo para criar um novo mundo (Armagedon?!!).

A maioria, segundo alguns tratados de psiquiatria, em especial a psicanálise, possui ego inflado e um desprezo geral pela humanidade. Valoriza somente seu grupo, que segundo eles é privilegiado, em detrimento do "restante" da população planetária.

O ego narcísico (narciso nega tudo que não for espelho) leva os líderes de seita a cometerem várias atrocidades, marcas de uma psicopatia evidente.

No passado recente, tivemos no Japão Shoto Asarrara que tentou envenenar com gás letal os usuários do metrô de Tókio.

O interessante é que todos os líderes de seita têm as mesmas características no inicio de suas pregações milenaristas, salvacionistas e hegemônicas. Todos afirmam ter tido uma revelação divina, julgando-se, pois ipso facto, melhores que os demais mortais. Dizem que precisam espalhar seus ensinamentos, chegando ao ponto de se acharem os únicos enviados de Deus, quando não, o próprio "Deus" (ego inflado).

Muitos deles levados pelo narcisismo distribuem à socapa crueldade, tortura e brutalidade (extremismo) que chocam a sociedade.

A megalomania é um dos fatores que os distingue. Procuram discípulos que inflam ainda mais seus egos, que os adorem como um verdadeiro Deus.

O líder de seita em geral é narcisista que deseja ser elogiado, mas que reage com violência quando contrariado, algo identificador de sua personalidade. Acredita que merece ser tratado de forma especial, pois é melhor que os outros, é o escolhido do próprio Deus (mesmo que na aparência demonstrem o contrário).

Quando citamos tais escolhos à religiosidade imediatamente nos vem à consciência o Templo do Povo, fundado e dirigido por Jim Jones, que infelizmente, induziu mais de 900 pessoas, entre crianças, jovens e idosos a se suicidarem com cianureto".

Sobre desenraizados. Lembramos que é ruim para aquele que busca as Religiões Afro-brasileiras não possuir raiz. Mas bem pior, são aqueles que se tornaram desenraizados. Quem não possui raiz nunca soube o que é a vida templária, o que é a relação de Mestre e Discípulo, desconhece o prazer de bater a cabeça no congá e verdadeiramente incorporar um Ancestral, pois muitos infelizmente só recebem o caboclo "eu mesmo", ou seja, nada. Ficam imitando gestos, jeitos e trejeitos, dando consultas onde ficam mais inseguros do que a própria pessoa que o procura para receber um aconselhamento.

Já um desenraizado chegou a ter um contato com a Tradição em profundidade que varia dependendo de cada caso, porém não suportou a responsabilidade. Tentou pegar o atalho falacioso do caminho "fácil" repleto de vaidade e egoísmo. Naturalmente acabou perdendo o rumo e o prumo. Prefere negar o que não conseguiu enxergar. Seu egoísmo e vaidade não permitiram enfrentar seus fantasmas pessoais, acabaram fugindo e certamente expulsos da Raiz.

Meus irmãos. O assunto é delicado, mas não podemos olvidá-lo. As Religiões Afro-brasileiras apresentam caminhos maravilhosos e, por serem verdadeiros, não admite viver de aparências. Requer esforço, dedicação, militância. Necessita paciência e a experiência de quem já superou o que hoje são as nossas atuais dificuldades e mais uma vez nos deparamos com a importância do Mestre, Pai Espiritual, enfim, Sacerdote ao qual nós estamos ligados. Sem ele, simplesmente não é possível.

Falando da minha experiência no terreiro em uma Raiz, lembro-me das danças que o senhor Exu Capa Preta ou mesmo a voz e as palavras do Sr. 7 Encruzilhadas que, quando chega no reino, fala "Ba noite". Isto é maravilhoso. Esdrúxulo é pensar um desenraizado querendo imitar estas características que vira em Pai Rivas, pois não tem mais chão. Perdeu o contato com a Ancestralidade.

Mas vamos dialogando. O tema é grave, mas – como só trato de fatos e verdades – certamente trará luz onde houver sombra.


Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

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