sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A Intolerância Religiosa está sendo combatida ou utilizada como instrumento de poder?

Aranauan, Saravá meus irmãos planetários,

Como era de se esperar, estamos em um ano eleitoral e todas as camadas da sociedade classificadas como “minorias” (que na verdade representam a maioria do povo brasileiro) começam a receber uma atenção muito maior do que a de costume. Afinal precisam utilizar estas “castas” para garantir a manutenção das elites políticas em todo país, não é mesmo?

Poderia citar vários destes grupos rotulados: “negros”, “homossexuais”, mas – por motivos óbvios – vou comentar sobre os adeptos dos “cultos” afro-brasileiros. Como pauta da vez, entramos no ciclo midiático em manchetes de telejornais, séries de TV, matérias em revistas e tantos outros meios de comunicação com imensa penetração popular e precisamos ficar com os olhos abertos para compreender até que ponto a intolerância religiosa está sendo combatida ou maquiada para agradar interesses de alguns grupos.

Os dois fatos mais recentes são um assassinato de uma mulher com elementos de rituais de magia negra, peculiarmente comentados pela TV Record, e a dramatização do minissérie “Dalva e Herivelto”, na TV Globo, sobre um casal unido em ritual umbandista que constituiu uma vida conturbada.

Quanto ao jornal, pouco ou nada temos o que fazer diretamente contra a TV Record. Explico. Quem viu a reportagem, observou que textualmente a matéria registra que a polícia suspeitava de um pai-de-santo citado por um dos envolvidos no crime e momentos depois afirma que a polícia com a investigação do caso descartou esta possibilidade. Do outro lado assistimos na minissérie a cena de um casamento que em algumas cenas depois vira um comentário de que o mesmo não deu certo porque fora realizado na Umbanda e não na igreja Católica.

Muitos argumentariam que a idéia já faz parte do imaginário popular. Eu contra-argumentaria que se nós que somos destas tradições não fazemos nada, quem fará? Está certo que na sequência das cenas outro personagem afirma não ter sentido aquela visão do casamento umbandista, porém não podemos ser ingênuos. Uma “retratação” não tem a mesma repercussão do erro original. O que fazer então?

Em outro texto comentei que precisamos focar ações construtivas que desconstroem as negativas naturalmente. Os terreiros em âmbito local na conscientização da sua comunidade ou o trabalho desenvolvido pela FTU que atinge o Brasil como um todo são exemplos vivos disto. Não é uma solução de resultado imediato, mas certamente quando avança auxilia muito porque é estrutural. Tendo isto em vista, não entrei e nem vou entrar em contato com estes canais de televisão para reclamar. Todas terão “n” argumentos para justificar o que fizeram. Seja a “técnica” jornalística da Record, seja o “apelo” artístico da Globo.

Algumas instituições representativas da Umbanda ou movimentos ecumênicos optaram por “enfrentar” estas mídias. Nada contra a iniciativa, uma vez que tenho convicção na descentralização do poder nas Tradições Afro-brasileiras e que, nas palavras de meu Pai Espiritual, não tenho a última reposta porque não tenho a última pergunta. Só que estes movimentos que acreditam assumir o papel de nossos representantes sociais precisam estar coerentes com seus próprios atos. Não dá para entrar em uma ação de retratação contra intolerância religiosa em uma emissora e, ao mesmo tempo, bater palmas para a intolerância da outra. Em um mundo onde a “globalização” é “recorde”, nas palavras que agradam aos católicos e neopentecostais: Não; não podeis servir a Deus e a Mamon!

Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

4 comentários:

  1. Aranauam, João
    Como sempre é um prazer ler seus textos, com assuntos pertinentes e bem redigidos.Infelizmente a intolerancia de qualquer gênero existirá sempre, porque é fruto do preconceito do ser humano. Eu sempre acreditarei que o melhor meio de se combater este preconceito é procurar os meios legais e ponto.Quem se sente lesado denuncia.Não que o preconceito vá terminar no coração das pessoas mas isto é um problema individual.Na realidade falar em intolerancia religiosa é como "pedir" que o outro nos tolere, o que não é isso que queremos. O que queremos é respeito, não é?Pois bem, vemos na mídia muitos atos de desrespeito. Vou citar um exemplo, a mídia tem o péssimo hábito de usar as enfermeiras como seres erotizados, tanto em programas humorísticos quanto em novelas, e até programas de variedades,o que leva ao imaginário popular um conceito totalmente diverso do trabalho árduo dessas profissionais. Veja a reportagem abaixo:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI76111-15220,00-ENFERMEIRA+NAO+PODE+SER+EROTIZADA.html
    Eu penso que o caminho é este. No individual fazemos a nossa parte.
    No coletivo precisaríamos mesmo de termos um órgao que estivesse atento e levasse para justiça qualquer ato da mídia que ofendesse a nossa religião.
    Na lista apometria umbanda foi denunciado um progrma da escolinha da Band que ridicularizava a nossa fé com trejeitos, e fazia uma alusão a Cabana do pai Tomás. E o que foi feito?
    Eu não vi mais nada a respeito.
    Nem uma matéria veiculada publicamente manifestando repúdio. caso eu esteja desinformada por favor, me atualizem.

    Caro João, penso que o caminho é este mesmo.


    Aranauam
    Mary

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  2. Aranauam Yabauara.

    Impressionante como o cenário muda em épocas de eleição né? Me lembro de um candidato a vereador que aparecia em todas e após perder as eleições, sumiu. Escrevi sobre isso e fui quase expulsa de uma lista. E o cara apareceu? Não! Ah, quanta hipocrisia. É triste saber que os veículos de comunicação favorece uns em detrimento de outros. Mas quem tem voz no nosso movimento não faz muita coisa e só colabora para manter as coisas como estão.

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  3. Aranauan Mary!

    Estou com você no aspecto criminal. Se existe um crime e ele pode ser denunciado para as nossas autoridades, isto deve ser feito independentemente de ser ato de intolerância religiosa. Nossas leis precisam fazer valer, como umbandistas e cidadãos conscientes que somos.

    Quanto à crítica na mídia, que não caracterize transgressão das nossas leis, é bem diferente. Peguemos o exemplo que você mesmo deu na revista Época. Se por um lado o COREN foi citado e dado "certa" razão às atitudes tomadas, ao final a reportagem mostra a matéria considera um abuso ao não considerar a tão famigerada "liberdade" de expressão.

    Não poderia ser diferente, um programa e uma novela das Organizações Globo, responsável pela Época, sofreram ações judiciais sobre atuação de enfermeiras pelo COREN também.

    Ou seja, mais uma vez afirmo que não adianta comprar "brigas" como esta. Precisamos, como disse no texto, realizar boas construções dentro de nossa comunidade religiosa em âmbito local e global.

    Ps: Sobre o caso do humorístico da BAND, como diretor nacional do CONUB, fui uma das pessoas que se posicionaram contra de enviar o comunicado para a emissora. O motivo está descrito nesta mensagem e no texto que estamos comentando.
    Aranauan!

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  4. Aranauan Yanaraya!

    Lembro-me muito bem da passagem que você citou. Você estava tão certa que deu no que deu.

    Paciência, vamos seguindo em frente que nosso Mestre Espiritual nos entrega oportunidades verdadeiras para reverter estas doenças sociais.

    Bjs! Aranauan!

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