Aranauan, Saravá, Axé!
    A publicação de Pai Rivas que acabamos  de divulgar foi encerrada com a descrição de um duplo aspecto das Religiões  Afro-brasileiras: "isonomia com as demais confessionalidades e respeito  incondicional à diversidade do povo de santo" (fonte: http://sacerdotemedico.blogspot.com.br/2013/01/ftu-unindo-e-dando-voz-as-religioes.html).  No campo acadêmico, a FTU é uma expressão disso. Mas gostaríamos de tratar  nesse texto outro campo, o religioso propriamente dito.
        Pai Rivas nos ensina que uma das questões  mais essenciais das expressões religiosas é Espiritualidade. Ela é a ciência do  Espírito, vivente no interior de cada um de nós e que pode ser despertado por  vários métodos. A Iniciação, por sinal, é um deles e característico das  Religiões Afro-brasileiras.
    
    De acordo com o terreiro que o filho  de santo está vinculado, esses conceitos sobre Espiritualidade vão variar na  forma. Aí está a diversidade no interior das religiões afro-brasileiras, mas – idenpendente  da questão teórica – ela precisará ser vivenciada, ritualizada. Esse é mais um  ponto comum das mesmas religiões afro-brasileiras que acreditam ser possível  alcançar a Espiritualidade em qualquer confessionalidade religiosa, ou mesmo em  outros setores do conhecimento humano (isonomia). Não somos melhores, mas  certamente não somos piores do que qualquer expressão religiosa.
    
    Ainda sobre Iniciação, o povo de santo  sabe bem que em cada terreiro, seu respectivo pai ou mãe de santo sabe a melhor  maneira de conduzir seus filhos espirituais. Mesmo em um mesmo terreiro, o  sacerdote precisa mostrar caminhos diferentes, adaptados a realidade de cada um  que o confiou a vida espiritual. Daí a dificuldade de "empacotar" a  espiritualidade como um produto a ser vendido.
    
    Um caso que ilustra bem essa  distorção, ocorre nas redes sociais. Não é incomum observar como algumas  pessoas tentam tirar o foco da Espiritualidade inerente a cada um produzindo textos-mensagens  curtos, recheadas de palavras bonitas ou com certo apelo estético na tentativa  de ofertar "espiritualidade" em conta gotas. Naturalmente, já que estamos inseridos  em uma sociedade da "correria", algumas pessoas entram nessa ilusão e consomem  esse "produto" como se aliviasse suas angústias pelo Espiritual. 
    
    Nada contra quem produz ou consome  essa pseudo-espiritualidade em conta gotas, mas não é assim que as Religiões  Afro-brasileiras tratam a questão. Longe disso, pois com a dependência de  consumo acaba se tornando uma verdadeira droga. E mais uma vez somos obrigados  a evocar Marx quando falava que a religião é o ópio do povo. Sim, na justa  medida em que indivíduos utilizam os conhecimentos religiosos para criar  dependência com as pessoas que muitas vezes estão doentes em diferentes  sentidos (saúde, material, espiritual), vender ilusão em pequenos textos é  envenenar as pessoas em conta-gotas.
    
    Nossos terreiros não são redes  sociais. A vida templária não é resumida em publicações virtuais onde se pode "curtir"  ou "compartilhar". A experiência com os Orixás, a vida com nossos pais, mães e  irmãos de santo é com o pé descalço no terreiro, batendo a cabeça no conga.  Tratando de nossos problemas, auxiliando os dos outros, agindo em benefício do  coletivo. O que invariavelmente faz bem para todos, inclusive a si mesmo, com a  benção do Astral.
    
    Ao afirmar que faz bem a si mesmo,  naturalmente a Espiritualidade que nos é inerente se desperta. Não negamos que  o caminho é árduo. Afinal, o terreiro não estimula a vaidade, não faz apelo  para ampliar o seu ego. Pelo contrário, a vida dentro da comunidade de santo  desconstrói interesses egoístas e faz prevalecer o comum, o coletivo. Em uma  sociedade que cada vez mais quer privilegiar o consumidor individualmente,  falar de bens coletivos e, ainda, que são estruturados pelo espiritual  certamente é algo paradigmático. Não é por menos que a simplicidade do terreiro  é tão verdadeira que chega a incomodar, expulsando os que só querem holofote.  Talvez para esses últimos só reste mesmo o conta gotas...
    
Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
 
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