quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

A umbanda esotérica: uma escola de Ifá tradicional e atual

Aranauan, Saravá, Axé!

 

Satisfação, alegria, "sorriso" nos olhos, enfim, felicidade. Essas poucas palavras não conseguem resumir o que senti quando assisti o vídeo "Religiões Afro-brasileiras - Escrita Secreta dos Babalawos" de Pai Rivas (disponível em: http://sacerdotemedico.blogspot.com.br/2013/02/religioes-afro-brasileiras-escrita.html).

 

A beleza da tradição afro-brasileira é a contínua mudança. Uma mudança que não nega ou inverte o passado. Pelo contrário, uma tradição que na inovação, na ressignificação, na reconstrução mantém-se como guardiã da sabedoria ancestral desde remotos tempos. É isso que a umbanda esotérica fez e continua fazendo. Quando adita o termo "esotérica" à umbanda, devemos perceber a sua real finalidade. Trata-se de compreender a essência, o fundamento daquilo que se propõe viver e ritualizar.

 

Mais uma vez foi possível compreender um pouco mais dessas características da umbanda esotérica na fala de Pai Rivas ao evocar as palavras de seu mestre, W. W. da Matta e Silva. Pai Rivas lembra que seu Mestre foi pioneiro em apresentar um método de um dos principais fundamentos das religiões afro-brasileiras: o jogo de Ifá.

 

Só que isso já fora dito por Ele outras vezes. Confesso que o vídeo dessa vez foi muito, mas realmente muito além. Um fato realmente novo. Pai Rivas demonstra como o nosso avô de santé Matta e Silva fundou uma escola de Ifá. Quando falamos escola, estamos remetendo à ideia do Pai Rivas de transmissão de um corpo de conhecimento sacerdotal, enfim, da Raiz.

 

Ainda nas explicações de Pai Rivas, que cita os escritos de seu Mestre e mostra as páginas do livro "Macumbas e Candomblés na Umbanda", o método apresentado remete aos sinais sagrados muito próximos dos hieróglifos. O que realmente destoa do conhecimento geral que se tem desse jogo oracular. Ocorre que no mesmo vídeo, Pai Rivas vai ao encontro de um pioneiro acadêmico: Nina Rodrigues. Em sua pesquisa, até hoje muito referendada pelos acadêmicos contemporâneos, disserta que na região do Daomé, atualmente Benin, portanto Jeje, existia uma sociedade de babalawôs. que dominavam o Fá e possuíam uma escrita sagrada secreta com sinais que também remetiam aos hieróglifos. Não é exclusiva da nação ketu, o que significa afirmar que não basta ler ou ouvir o que se diz sobre os Orixás, é necessário vivência sacerdotal e muita capacidade para compreender os aspectos transcendentais que perpassam as várias tradições africanas. Em suma, seus pontos comuns que balizam todo o fundamento.

 

Ou seja, essa inovação do  Mestre Yapacany não é invenção, mas sim valorização da tradição primeva sobre o conhecimento do ifá, conhecimento do universo, portando do destino dos homens. Que se não fosse por Ele, certamente estaria completamente perdido.

 

A tradição se mantém viva, pois em sua Escola de transmissão de fundamentos, repassou o conhecimento para seu legítimo sucessor: Pai Rivas. Ele detém esse conhecimento e como  guardião do mesmo, até o presente momento, não transmitiu ainda para nenhum de seus filhos espirituais. No que pese dar continuidade à escola de iniciação em Ifá. Atualmente, na Casa Branca de Okamaraguaçushaman ou Ilê Funfun Awô Oxôoogun (Casa Branca do Destino e da Cura das Religiões Afro-brasileiras).

 

Ou seja, o vídeo bombástico mostra a ligação profunda de um dos fundamentos mais importantes das religiões afro-brasileiras pela umbanda esotérica. Fundamentos esses apresentados ineditamente por W. W. da Matta e Silva que são hoje ressignificados, atualizados e ampliados potencialmente pelo seu sucessor, Pai Rivas. Não é um retorno à umbanda esotérica, mas sim a contínua vivência dela. Tal construção de pai para filho marca indelevelmente que a tradição nunca pára. Passou pelos Jeje, Ketu, aportou no Brasil e quem pegou o fundamento pegou. Ela é viva e pujante, basta reconhecer no seu Mestre.


Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

 
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