sábado, 23 de fevereiro de 2013

Questões sobre mediunismo e iniciação

Aranauan, Saravá, Axé!

Ontem falei um pouco do mediunismo que experencio no meu terreiro e recebi gentis questionamentos sobre essa questão. Sendo assim, vou explorar agora um pouco mais sobre isso.

Entrei na Ordem Iniciática alguns anos depois da fundação da FTU. Anos antes, porém em 28-08-200, tomando como base sua passagem por várias escolas das religiões afro-brasileiras, Pai Rivas Neto passa a realizar os seguintes ritos quinzenalmente nas dependências do seu terreiro: "TOQUE DOS ENCANTADOS (contatos com as Encantarias várias promovendo a união com a Pajelança, Jurema, Terecô, Tambor de Minas e outros). TOQUE DE UMBANDA TRAÇADA (influências evidentes ameríndias e africanas, promovendo a união com os praticantes do culto Omolocô, do Candomblé de Caboclo e todos os demais que fazem essas ligações). TOQUE DE UMBANDA MÍTICA OU MISTA (influências regionais, com a presença de entidades que se manifestam como baianos, boiadeiros, marinheiros, entre outros, fazendo o entrelaçamento étnico e dos sincretismos que surgiram dentro da Umbanda). TOQUE DE KIMBANDA (Umbanda com fortes vínculos com a Kimbanda, com a presença dos Exus que carregam toda a valência que sua função espiritual representa). TOQUE DE UMBANDA INICIÁTICA (aspectos esotéricos da umbanda preconizada por W. W. da Matta e Silva, continuada e ressignificada, por seu sucessor F. Rivas Neto). TOQUE DO TRÍPLICE CAMINHO (presença das entidades denominadas Crianças, Caboclos e Preto Velho, representando a pureza, fortaleza e sabedoria, respectivamente)" [1].

Ou seja, incorporo em alguns ritos – até os dias de hoje – além de Caboclo, Preto-Velho, Criança e Exu (entidades que se manifestam na umbanda esotérica): Boiadeiro, Baiano, Marinheiro, além de outros Encantados. Em alguns ritos canto em Yorubá, banto, jeje. Claro que são ritos específicos, conduzidos por Pai Rivas que fora iniciado nessas tradições.

Como não estou no terreiro sozinho, todos os médiuns que participam da OICD de 2000 para cá, estiveram nesses 7 ritos, mesmo aquele que , por ventura, não esteja mais hoje. Todos os citadoos incorporaram as entidades da umbanda mista, da encantaria inclusive, muitos até defendiam e disseminavam suas ideias para fora do terreiro. Se acessarmos o blog do Pai Rivas e fizermos uma rápida busca desde 2010 quando o material começou a ser postado até, por exemplo, 2011 será fácil comprovar como todos os médiuns participaram ativamente desses ritos. Reitero, todos, sem nenhuma única exceção.

Sendo assim, podemos retomar o raciocínio de meu último texto:

Todos os Guias Espirituais que utilizaram seus respectivos médiuns de 2000 para cá, sem uma única exceção, estão coadunados, afinados, convergentes com a proposta que Pai Rivas apresenta da Espiritualidade. Aliás, não poderia ser diferente. Todos os Guias dessa casa de Iniciação fazem parte de uma mesma Linhagem.

Ir agora contra o trabalho do Pai Rivas após anos de contato iniciático, significaria duas únicas situações para o médium: ou nunca houve mediunismo, apenas animismo vicioso, pois teria mudado a opinião dos "Guias" conforme bel prazer, ou se rebelaram contra essas entidades e, portanto, cometendo um suicídio iniciático, rolaria os degraus da Iniciação. Quando um dos dois acontece, não tem jeito. Ataques, acusações, traições à sua própria iniciação e quem o iniciou.

Aliás, sobre iniciação, Pai Rivas a valoriza. Contudo, não hipervaloriza. Até porque o próprio iniciado quer trabalhar pelos outros, evita purismos ou falsos intelectualismos. A Iniciação, portanto, é contra a homogneia (igualar por baixo, olvidando a diversidade) e hegemonia (um querer ser melhor que os demais). O verdadeiro iniciado, conforme preconiza Pai Rivas, valoriza a diversidade. Valoriza todas as escolas. Temos que pensar nessas coisas.



[1] RIVAS NETO, F. Escolas das Religiões Afro-brasileiras: Tradição Oral e Diversidade. São Paulo: Arché, p. 67-68, 2012.


Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)


 
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