
Sobre Ramatís gostaria de abordar 3 aspectos: Ramatís e seus médiuns; Umbanda versus Aumbandan e importação de conceitos estrangeiros.
Ramatís utilizou diversos médiuns. Hercílio Maes, Marcio Godinho, Norberto Peixoto, América Paoliello Marques, Maria Margarida Liguori, isto só para ficar nos principais. O autor que mais chegou perto da abordagem trazida pelo Hercilio Maes foi a América Paoliello Marques, tanto que seu livro foi prefaciado pelo próprio. Os demais autores produziram conhecimentos muito distantes entre si. Fiquemos no exemplo da Umbanda. Se para Ramatís/Hercilio Maes a Umbanda é culto fetichista, para Ramatís/Norberto Peixoto é a religião do terceiro milênio.
Dado este fato, não podemos olvidar duas coisas. Ou Ramatís mudou radicalmente o seu pensar sobre a Umbanda ou existe uma influência predominante sobre um ou mesmo os dois médiuns em questão sobre a entidade. Em quaisquer possibilidades, fica evidente que devemos evitar Ramatís como referência para compreender o movimento umbandista.
Sobre Aumbandan. Lembremos que Ramatís/Hercilio Maes não nega este conceito. Muito pelo contrário. Senão vejamos: "Etimologicamente, o vocábulo Umbanda provém do prefixo AUM e o do sufixo "BANDHÃ", ambos do sânscrito, cuja raiz encontra-se nos famosos livros da Índia, nos Upanishads e nos Vedas, há alguns milênios". "Aum é o próprio símbolo sonoro significativo da Trindade do Universo representando Espírito, Energia e Matéria (...)". "Bandhã,em sua expressão mística e iniciática, significa o movimento incessante, força centrípeta emanada do Criador, o Ilimitado, exercendo atração na criatura para o despertamento da consciência angélica. Mais tarde também passou a significar a "Lei Maior Divina", poder emanado do Absoluto." – Missão do Espiritismo -6ª Ed. – Cap. Espiritismo e Umbanda - páginas 132 e 133
Durante todo esse capítulo, o pensamento de Ramatís é muito claro. Para ele a Umbanda é um culto que distorceu bastante as relações com o Sagrados da antiga Aumbandan e, apesar de possuir ainda a atuação de alguns Guias de "escol", encontra-se em uma fase muito primitiva devido à influência da magia do negro (ele afirma que a feitiçaria é oriunda desta etnia). Como atua em um plano muito "denso" da magia, a Umbanda limita-se a uma espécie de faxineiro do baixo astral.
Vejamos agora a idéia de Aumbandan e Umbanda trazida por Pai Guiné/Mestre Yapacany, devidamente corroborada e aprofundada por Caboclo Urubatão/Mestre Arapiaga. Para esta Escola umbandista a Aumbandan é o Conjunto de Leis Divinas – a Proto-síntese Cósmica, mas ao contrário do que afirma Ramatís ela não veio do Oriente. Ela surge em plena Raça Lemuriana (que dentro da Escola de Síntese é reconhecida como a primeva Raça Vermelha de nome Tupy), mais especificamente no planalto brasileiro. Depois, por migrações físicas e reencarnatórias, chega ao Oriente e inicia sua volta para o Ocidente até os dias atuais. Perceba que nesta visão a Aumbandan não é nem uma importação de conceitos orientais, nem uma visão nacionalista/ufanista do brasileiro. O conjunto de leis divinas são Universo-descendentes, como bem diz Pai Rivas.
Já a Umbanda é um movimento (no sentido de ser dinâmico, aberto e em construção) religioso que visa através do sincretismo e da convergência restaurar esta condição primeva de harmonia, equilíbrio e estabilidade do Homem com o Cosmos através da Síntese da Gnose Humana. Assim, como foi explicitado nas vídeo-aulas da FTU, a Umbanda consegue agir desde os princípios mais espirituais até a matéria mais densa.
Por mais que a Academia não consiga confirmar todos os ensinamentos trazidos por esta Escola sobre a Origem das Origens, com certeza ela não consegue negar. E se compararmos esta visão de Mundo a de outras respeitosas filosofias religiosas, certamente a Umbanda possui uma visão mais próxima da Ciência. Afinal, o Cristianismo não crê que o mundo foi criado em 7 dias e que Eva, literalmente, nasceu da costela de Adão?
Não devemos confundir o que é "importação de valores estrangeiros" de conceitos para a Umbanda. Lembremos que o conceito de Orixá foi trazido da África, as práticas católicas e espíritas foram importadas da Europa, algumas Escolas Umbandistas importaram dos indígenas norte-americanos suas práticas. Enfim, se construirmos uma visão ufanista da Umbanda certamente perderemos todas essas ricas colaborações devidamente reelaboradas no seio do terreiro e a nossa melhor qualidade identitária: a diversidade!