quarta-feira, 29 de junho de 2011

Aprendendo com o Mestre: vida templária nas Religiões Afro-brasileiras

Aranauan, Saravá, Axé!


Ufa! Uau! Acabo de sair do rito conduzido pelo Pai Rivas e deparo com o vídeo que faz parte da publicação 159 do Blog Espiritualidade e Ciência: "Pais e Mães de Santo - Os Bastiões da Tradição Oral" disponível também no canal do Youtube por meio deste endereço eletrônico: http://www.youtube.com/pairivas#p/u/0/FbTYwrnVtoA. O material é imperdível e nos estimularam a refletir sobre muitos pontos importantes que discutiremos aqui, principalmente para nós que vivenciamos o Sagrado no terreiro e não à distância com palavras vazias.

Nossa tradição não está em um livro ou qualquer outro elemento estático de aprendizado, ela é, se renova e se reatualiza na Raiz, na Linhagem a qual nos filiamos por dentro de suas várias Escolas fundamentada na oralidade. Logo, a Tradição está no Sacerdote. Está não, é o Sacerdote. Sim, meus irmãos é por meio de nosso Ancestral encarnado – o pai ou mãe espiritual – que a Iniciação se dá. Claro que esta relação com o Sagrado não se restringe a um método único, mas, independente do escolhido, o Mestre (Sacerdote) é fundamental para viabilizar o êxito da empreitada do Discípulo (Filho de Santé).


O Sacerdote de fato e de direito, portanto consumado, é um vencedor. Não só por carregar toda a valência da sua Raiz e mantê-la viva nos dias atuais, mas também pela paciência e sabedoria que possui para lidar com as situações mais complicadas possíveis. Por exemplo, o fato de muitos discípulos permanecerem ao lado de um Mestre apenas para alcançar literalmente o título de "mestre". Afirmo literalmente, pois a responsabilidade e os frutos que esta condição do real mestrado exigem são deixados de lado.


Mais uma vez com as suas armas poderesas (Sabedoria e Paciência) os pais e mães espirituais ao longo dos anos aceitam vários discípulos em seus diferentes ângulos de interpretação e capacidade de realização para gradativamente abrir as portas da Iniciação, em última análise as portas do próprio Eu interior, a Espiritualidade inerente a todo ser humano, lembrando as palavras do Pai Rivas.


Pois bem, muitos não conseguem mal subir os primeiros degraus, outros avançam e uma minoria consegue alcançar estágios mais profundos de percepção da realidade em suas várias dimensões. Aqui novamente lembramos as palavras do Pai Rivas sobre oralidade. A Iniciação nas Religiões Afro-brasileiras não está em um livro ou elementos engessados, logo a Iniciação é eternamente presente.

Sendo assim, não existem ex-Iniciados. Ou o individuo é e, portanto, estará cada vez mais se aprofundando na iniciação ou não é. Neste último caso, surgem basicamente duas causas: ignorância para compreender este caminho rumo à Espiritualidade ou vaidade de não suportar o peso da responsabilidade de servir diuturnamente ao Astral Superior.

A Iniciação não está em alguns setores da vida de um indivíduo, mas está em todos. De igual forma, as Religiões Afro-brasileiras atuam em todas as instâncias do espírito formando uma grande e verdadeira família espiritual. Não é à toa a denominação, pai, mãe, avô, avó, filho, neto de santo. Um sacerdote consumado está preocupado com a grande família planetária dos dois lados: o mundo dos vivos e dos mais vivos. Não privilegia o parentesco consanguíneo em relação ao terreiro ou vice-versa o que denotaria despreparo e egocentrismo em ambos os casos para alguém que carrega e é a própria Tradição. Logo, valoriza e procura auxiliar a todos indistintamente.


Pai Rivas lembra o exemplo oferecido por monges de determinadas religiões do Oriente que optaram desde seus 3 ou 4 anos de idade se dedicarem de corpo e alma ao monastério para servir a humanidade. O Mestre verdadeiro faz analogamente a mesma coisa e no caso das Religiões Afro-brasileiras com agravante de conciliar sua vida material, social e sobrenatural sofrendo todos os preconceitos que existem em uma sociedade que desdenha da oralidade. Caso do Ocidente.


Sendo assim, fica fácil compreender a postura de algumas pessoas que passam ou ainda estão em uma casa de Iniciação por misericórdia e não compreendem a função, a responsabilidade do Mestre. Os que não passaram por uma linhagem tornam-se invariavelmente sem raiz. Os que chegaram a serem aceitos, mas rolaram os degraus da iniciação, são desenraizados.

Falta maturidade espiritual para encarar a realidade, aceitando sua atual condição e a possibilidade de penetrar na senda iniciática com um Mestre. Muitos até podem possuir belas palavras para dissertar sobre isto ou aquilo do mundo, mas aí a lucidez espiritual nos chama novamente à realidade e pergunta: Onde está a prática? E a vivência? E, principalmente, os frutos que um trabalho sério sempre oferece? Cala-te ao profano, diria o Mestre...


Nesta hora vem o duro e necessário silêncio, pois o velho e bom adágio nos recorda que um bom Mestre foi um bom Discípulo. Este aforismo, transmitido por tantas gerações pela Oralidade é um dos mais simples e básicos fundamentos da Iniciação, porém até hoje se faz necessário evocá-lo por ser muito reproduzido mas pouco compreendido. Pai Rivas nos conta no vídeo sobre o processo de respeito ao seu mais Velho e exemplifica o tempo que aguardou para reatualizar os fundamentos da Escola Esotérica, da qual foi consumado sucessor e detentor da Raiz, mesmo após a morte física do meu avô de santo, W. W. da Matta e Silva.


Pai Rivas pode vir a público na rede mundial de computadores afirmar, porque vivenciou, foi e É. Quanto aos desenraizados que sempre sonharam, mas nunca concretizaram, o que dizer? Nada. Se quando estiveram por vários anos com um Mestre de fato e de direito não compreenderam aspectos mais básicos da Espiritualidade, agora vão? Impossível. Quem sabe com o passar do tempo (muito tempo?) voltem à senda iniciática para retomar a lição básica? Mas novamente a figura do Mestre será fundamental. Aí...

Agradeço ao Pai Rivas pelo vídeo que sinceramente marcou minha alma de forma positiva. Com o senhor aprendi e aprendo o que é uma Linhagem, uma Raiz, o respeito incondicional à humanidade independente dos laços consanguíneos. Aprendi com o Senhor não apenas pelo que me conta, mas pelo Exemplo vivo que o Senhor sempre é. Aliás, foi mais uma vez agora mesmo na vivência do rito.


É nesta simplicidade com honestidade e profundidade, sem demagogia ou elitismo que se processa a Iniciação nas Religiões Afro-brasileiras.



Aranauan, Saravá, Axé,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

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