sábado, 20 de novembro de 2010

A lógica da Manifestação é pela Inclusão Real

Aranauan, Saravá meus irmãos planetários,

Conversando com Pai Rivas fomos levados a penetrar na história das religiões e aspectos mais essenciais da teologia. Uma vez neles, ouvimos sobre a clássica conceituação de religiões que são pela revelação ou pela manifestação. A Umbanda ou Religiões Afro-brasileiras se realizam por meio da manifestação. Não temos fundador, pontífice, papa ou quaisquer outras denominações que remetam a um único espírito que quando encarnado foi melhor (entende-se aqui como desigual) em relação aos demais.

Importante frisar que nada temos contra as religiões do livro que são marcadas pela revelação. Quem segue as religiões do livro e são felizes que permaneçam com as suas crenças, com seus valores. Sinceramente não nos sentimos nem melhores, nem piores que eles. Apenas temos uma cosmovisão e processo de transmissão desta diferente.

O que fere o bom senso é a importação da tese da revelação para o nosso movimento religioso que é marcadamente uma tradição onde a constante é a contínua mudança. Percebam meus irmãos que por sermos uma Unidade Aberta não podemos admitir uma visão estanque trazida por um revelador. Nossa tradição se renova diariamente na manifestação dos Caboclos, Pais Velhos, Crianças, Exus, Boiadeiros, Baianos, Marinheiros, Ciganos, entre outras roupagens utilizadas por nossos Ancestrais Ilustres. Os textos de autoria do Pai Rivas publicados em livros e no Blog "Espiritualidade e Ciência" – http://espiritualidadeciencia.wordpress.com são muito claros neste sentido.  

Talvez seja por este motivo que o Sr. Zélio Fernandino de Moraes colocou a impossibilidade de existir "papa" na Umbanda. Logo ele, por ironia do destino, é considerado em vários mitos de fundação ou anunciação como "pai" da Umbanda. Vejam bem meus irmãos que ao considerar o Zélio pai ou fundador da Umbanda, foi olvidado o mais importante: a própria visão do Zélio sobre a inexistência de pontífices na nossa religião.

A Umbanda ou Religiões Afro-brasileiras são pela inclusão total. Compreender a nossa tradição como reveladora seria o mesmo que ferir este princípio de abraçar a todos. Para auxiliar esta dedução, vamos lembrar que o nosso movimento religioso surge na "periferia" social e econômica da comunidade, justamente onde se encontram as bases da população do nosso país. Também vamos lembrar a teoria dos conjuntos, tão utilizado por Pai Rivas nas explicações sobre identidade e pluralidade na teologia de Síntese.

Aceitar a existência de um revelador para a Umbanda implica dizer que são umbandistas apenas aqueles que fizeram parte do processo revelador ou praticam exatamente o que foi propugnado pelo mesmo. Isto seria a característica do conjunto Umbanda. Só pertence a este conjunto quem aceita e pratica o que foi revelado. Neste exato instante, surge um grande conjunto que não pertence ao conjunto Umbanda. Aliás todos que não estiveram na fundação ou não são oriundos da tradição do "revelador" estão fora, excluídos. Como a nossa religião surge na periferia, a lógica da fundação empurrou para mais longe ainda a maioria dos indivíduos. O que seria para incluir ampliou o processo de desigualdade e exclusão. A lógica da revelação, quando aplicada às religiões Afro-brasileiras, na prática gera um aprofundamento das chagas sociais.

Contudo, quando consideramos a lógica da manifestação o panorama é outro. Como uma religião que se realiza e se dinamiza a todo instante, todos são incluídos. Se você não se afiniza com uma Escola mais ligada a tradição abraâmica, você pode ir para outra Escola mais ameríndia, por exemplo, permanecendo na Umbanda e vice-versa. A Gestalt, leia-se o todo integrado, não está quebrada, pelo contrário, ela é fortalecida na diversidade de ritos.

Viva a diversidade!
Viva a Inclusão total!
Viva a manifestação dos Ancestrais no terreiro!


Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

Nenhum comentário:

Postar um comentário