Aranauan, Saravá meus irmãos planetários,
A sua flecha é de Indayá,
Ele é Caboclo e vem sereno,
Como sereno é,
Oxóssi é rei da mata,
Oxóssi é rei da guiné"
Conversando com Pai Rivas, ouvi-O cantar este lindo ponto. Estas palavras simples, mas que pacificam o nosso coração e alcançam lugares impensáveis da mente, nos remetem a serenidade do Astral. Como trabalham pela paz entre todos os irmãos planetários dos dois lados da vida. E por falar em paz, nada melhor do que trabalhar idéias que permitem a sua realização. É por isso mesmo que somos entusiastas do conceito de Escolas. Conceito este que mais uma vez foi fruto de uma prazerosa conversa entre Mestre e discípulo.
Pai Rivas nos lembra que existe uma diferença muito grande entre união e codificação. Toda Escola pode e deve estabelecer suas regras internas, sem falar das formas de transmitir (método) sua doutrina (episteme) que é sempre a manifestação do conhecimento integral das religiões Afro-brasileiras ou Umbanda - como queiram. Isto sem olvidar a ética que é fundamental, aliás, inerente a todas as Escolas que são Santas em suas intenções. É este processo que conduz os adeptos ao Sagrado, que curam a Alma de forma integral.
É por este motivo que devemos respeitar as diferenças. Valorizar nossos pontos semelhantes pelo diálogo, mas jamais impor ao outro aquilo que julgamos o melhor. Isto nos leva invariavelmente a respeitar todas as ações que membros de uma Escola fazem interiormente, seja padronizar, seja discutir, seja modificar suas práticas religiosas. Como diz Pai Rivas: "A constante das tradições afro-brasileiras é a contínua mudança, logo somos uma unidade aberta".
Devemos trabalhar sempre por esta liberdade e em nome dela que devemos refutar a Codificação de uma visão sobre a Umbanda sobre todas as outras visões. As religiões Afro-brasileiras são pela Inclusão Total, pela aproximação das semelhanças. Somos diferentes, mas não somos desiguais.
Com esta frase Pai Rivas também nos explica sobre o que seria desigualdade e diferença. A primeira é um desnivelamento entre um objeto e seu referencial podendo criar uma relação hierarquizada. Já diferença permite dizermos sim ou não sobre as coisas. Respeito à diferença possibilita a liberdade comunicativa, sendo esta última no sentido habermasiano.
Não sou teólogo, mas dentro da filosofia abraçamos a liberdade comunicativa e a solidariedade na aprendizagem intersubjetiva influenciados pelos conceitos espiritualizantes da religiões Afro-brasileiras por meio de nosso Mestre Espiritual – Pai Rivas. Por falar em Filosofia, gostaria de evocar Kant e o exemplo da codificação.
Kant concebeu sua moral como algo universalista e calcada na razão. Ao mesmo tempo, considerava a mulher como um ser que prioriza sentimentos e piedade, deixando a razão em segundo plano. Por isto, a mulher nunca poderia agir moralmente em sua plenitude. Sempre suas atitudes racionais estariam submetidas ao passional. Não vou entrar no mérito agora sobre a relação sentimento e razão, mas o que está em jogo aqui é que a moral "universalista" de Kant exclui 50% da população mundial - as mulheres. Tudo isto, pois quis "codificar" o homem seguindo padrões solipsistas.
Voltando à Umbanda ou religiões Afro-brasileiras, codificar a partir de uma visão fragmentada do todo é quebrar a Gestalt. Gestalt aqui tem um sentido de "todo integrado", de unidade. Ainda no raciocínio trazido por Pai Rivas: se a codificação é a solução, porque "Deus", Zamby, Olodumaré, Tupã, independente do nome, não codificou a humanidade? Por que não temos o mesmo fenótipo? Por que não somos idênticos?
Diante destas reflexões, convidamos os irmãos de todas Escolas a se manifestarem contra a codificação. Devemos nos posicionar para que a liberdade dentro dos cultos afro-brasileiros prevaleça hoje e sempre. De forma bem serena... Igual ao caboclo!
Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
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