Aranauan, Saravá, Axé Yorotaman e irmãos planetários!
Seu texto enfrenta problemas significativos dentro deste tema e gostaria de dar continuidade a salutar troca que é tão importante para a construção do diálogo.
A Convergência é explicada de uma forma muito simples e inteligente pelo Pai Rivas no exemplo da água. Misturar oxigênio com hidrogênio não é suficiente para gerar água. Para isso, faz-se necessário estes elementos em quantidades e qualidades específicas sob condições também específicas. Uma vez formada a molécula de água ela já não é mais oxigênio e muito menos hidrogênio. Possui características físico-químicas completamente diferentes, mas em sua essência possui os dois elementos. Simbolicamente a água é a Convergência do oxigênio com o hidrogênio.
No entanto, exemplos históricos como a tentativa de codificação ilustra bem um projeto mal sucedido de aproximação pelas semelhanças. Na codificação cria-se um padrão que é imposto a todos sem considerar a essência das Escolas que fazem parte das Religiões Afro-brasileiras. É neste sentido que não só nós, mas diversas pessoas de acordo com as suas experiências têm refutado a proposta codificadora nas discussões estabelecidas em fóruns de discussão pela internet.
Não seria estranho observarmos outra tentativa tão ousada e megalomaníaca quanto: reescrever a história do povo do santo olvidando os fatos e assumindo posições tendenciosas, ou seja, favoráveis a um pequeno grupo em detrimento da responsabilidade de informar a coletividade umbandista e afro-brasileira.
Todavia a segunda postura tem consequências piores do que a primeira. Na codificação claramente identificamos uma visão etnocêntrica (privilegiar um sobre os demais) milenarista (salvacionista), misoneísta (aversão à mudança); enfim, que transmitem visões exclusivistas onde seus conceitos são fechados e indiscutíveis promovendo um afastamento das Ciências, Artes, Religiões e Filosofias.
Já aos que se auto-proclamam pesquisadores da história para defender uma ideologia ou interesse de um grupo/seita, criam uma casca pseudo-acadêmica e reproduz todo um jogo de interesses, optando por contar aquilo que os interessa e não o esclarecimento amplo e profundo compromissado com valores éticos.
Isto meus irmãos seria o mesmo que descaracterizar o papel fundamental da História como ciência que compreende a ação do homem no tempo/espaço. Aliás, para nós que seguimos a Tradição Oral e Ancestral, conhecer a nossa gênese, o nosso passado é algo fundamental para a Iniciação de fato e de direito.
Diante do exposto, é fácil concluir que quem olvida a história em nome de interesses escusos ou apoio às idéias alienantes como a codificação não é nem historiador e muito menos iniciado.
Voltando à Convergência, olhamos o exemplo vivo de nossos pais e mães espirituais sérios que estão pelos diversos terreiros no Brasil e fora dele. São sacerdotes compromissados com a Ancestralidade que ensinam a História onde o terreiro foi e é o local sagrado escolhido pelo Astral para auxiliar no (re)encontro com o Sagrado.
Esta História (com "H" maiúsculo) não aceita erística, retórica ou sofisma. Ela só pode ser contada por Quem prestou serviços relevantes à Banda, por Quem está marcado pelo trabalho incondicional em prol da comunidade planetária. Por Quem não traiu a Raiz, pelo contrário, cultivou em solo fértil e deu muitos frutos.
Meus respeitos a todos os Sacerdotes de Umbanda e das Tradições Afro-brasileiras!
Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
--Aranauam Yabauara
Infelizmente essa questão da Codificação é totalmente contra a própria natureza da Umbanda. Para se codificar você tem que partir de ponto inicial que em tese seria o ideal e desse ponto partiriam segmentos que ao longo do tempo vão se distanciando desse ponto referencial. Isso funciona para estruturas filo-religiosas que são lineares e seqüenciais. Mas a Umbanda na sua diversidade é formada por uma estrutura em rede e não linear. A linearidade da Umbanda existe apensas dentro de cada Escola que usa da linha de transmissão (Pai-Filho/ Mestre Discípulo/ etc.) para manter a tradição dessa mesma Escola. Numa escala macro a Umbanda é uma estrutura em rede e não linear onde não existe um marco fundador inicial e não poderá ter um marco final (como seria uma codificação por exemplo). Sabemos pelas leis que regem esse Universo natural que tudo que se inicia caminha para o seu fim e tudo aqui que está além da forma tende a se eternizar. A Umbanda se recusa a se engessar e morrer (codificar), ela procura se expandir na atemporalidade e no infinito, agregando as diversas formas num mosaico harmônico que torna a todos como igualmente importantes do jeito e da maneira que são.
Pai Rivas com sua visão sábia e lúcida tem nos mostrado que existe uma unidade nessa diversidade da Umbanda. Onde alguns vêem desordem, choque, confusão, Pai Rivas consegue nos mostrar que existe uma linha essencial que une essas diferenças em torno de algo muito maior que certas "lideranças" ainda não perceberam. É como disse em outro e-mail, Pessoas que tem conflitos internos e alimentam esses conflitos internos em outros, terão dificuldade em ver a essência por trás das formas. Pai Rivas através de seu trabalho tanto no mundo real (principalmente) quanto no virtual tem nos convidado refletir e a nos estruturarmos em nossos "saberes", "fazeres" e "viveres" para entendermos o que a Umbanda tem tentado nos ensinar a tempos de forma silenciosa e sem alardes – A felicidade e o êxito do outro, é também a nossa felicidade e nosso êxito. Codificar é desprezar o "outro" nessa lógica e isso implica em nos tornar também infelizes.
Sérgio Yorotaman
De: ftu-ervas@googlegroups.com [mailto:ftu-ervas@googlegroups.com] Em nome de Yabauara
Enviada em: sexta-feira, 6 de agosto de 2010 10:21
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Assunto: [ftu-ervas] Refletindo com meus irmãos de MG, PR e SP sobre a "Convergência Filosófica Religiosa"
Aranauan, Saravá meus irmãos planetários!
Aranauan Yorotaman e Thomé!
Muito importante as considerações trazidas por vocês meus irmãos e um conceito que permeou tanto os seus textos como a publicação "Convergência Filosófica Religiosa"* foi esta relação harmoniosa tão bem expressa no mote: Unidade na Diversidade.
Como amplamente exposto em livros escritos pelo Pai Rivas que marcam a história da Umbanda e das Religiões Afro-brasileiras em geral, o Sagrado se expressa de inúmeras formas, pois várias são as maneiras dos Homens (re)encontrá-Lo. Especificamente no santo não só reconhecemos estas realidades como as vivenciamos!
Importante pontuar também a tentativa, na contra-mão desta abordagem espiritualizante, de alguns autores que escreveram erros crassos e tentam agora escondê-los pelo pior caminho, pretendendo recontar os fatos históricos. Ou seja, fazer da nossa história uma estória com bem colocado pelo meu mano Aratish.
Entre estas tentativas, podemos citar o desejo de criar uma falsa necessidade de codificação, onde o seu codificador teria naturalmente amplos poderes para inventar novos fundamentos e aniquilar outros. Pegando o exemplo que desenvolvemos dias atrás sobre o "deus" dos homens inscritos nos livros e adaptando para o nosso movimento religioso, seria o mesmo que criar novos "Orixás".
Neste novo panteão o codificador que não consegue compreender a essência da nossa religião não precisa mais se preocupar com erros teológicos ou mesmo científicos. Afinal, o que afirma é uma "revelação" sem a mínima necessidade de demonstração ou comprovação. Apenas apresentou um novo conceito chegando ao absurdo de até mesmo introduzir Orixás inventados.
Esta visão megalomaníaca tenta afetar a salutar e ancestral relação entre pai e filho de santo. Tudo que aprendemos com os nossos mais Velhos não teria mais sentido diante da última palavra que o codificador sempre tenta impor. Isto sem falar do conhecimento que seria descartado de algumas Escolas importantíssimas das Tradições Afro-brasileiras, como o Candomblé, que recebem uma maior influência da matriz africana.
Os irmãos percebem o motivo de defendermos com convicção a diversidade tanto dentro como fora da nossa religião? Respeitar as diferenças é respeitar a vontade de cada irmão planetário em poder escolher o caminho que mais lhe fale à alma ou até mesmo optar por não escolher!!!
Mesmo àqueles que sentem afinidade com uma visão codificadora, não temos nada contra com esta escolha. Se são felizes nestas condições, ótimo! Continuem firmes. O problema é querer impor o que pensam para a coletividade. Mais uma vez, é tomar a parte pelo todo, ensejando uma visão de seita. Algo muito distante do corpo de conhecimento (Epistemologia), da linha de transmissão deste mesmo conhecimento (Método) e, principalmente, o respeito pelo Outro (Ética) que aprendemos dentro do terreiro.
Mas no que pese estas iniciativas que volta e meia surgem no cenário afro-brasileiro de controle e dominação, sempre a força do Orixá e a palavra do Caboclo, Preto-Velho, Criança, Exu, Boiadeiro, Baiano, Marinheiro, Encantados e tantos outros Ancestrais Ilustres prevalecem.Viva a Liberdade!
*disponível em: http://sacerdotemedico.blogspot.com/
Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
FTU: Educando para uma Cultura de Paz
(credenciada e autorizada pelo MEC - portaria 3864 de 18/12/2003)
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