domingo, 18 de julho de 2010

A História Umbandista não é jogo político

Aranauan, Saravá, Axé meus irmãos planetários,

Algumas semanas atrás, divulgamos uma Revista para difusão acadêmica da FTU que trará em sua primeira edição, entre outros temas, um resumo do TCC "Entre a Caridade e a Cidadania Espiritual – Marchas e Contramarchas nos 84 anos de literatura umbandista", autoria de Carol da Luz. 

Dada a importância do tema, visitamos o site da faculdade (www.ftu.edu.br) buscando mais referências e nele encontramos o 6º pronunciamento que fala, entre outros temas, das matrizes formadoras das Religiões Afro-brasileiras. Entendendo nossas raízes certamente compreenderemos estes 84 anos de literatura umbandista tão bem descritos neste trabalho acadêmico inédito em nosso meio. Fiquemos no exemplo do Zélio de Moraes, pois foi justamente esta personalidade que aparece tantas vezes como fundador da Umbanda (mesmo que o próprio tenha sempre negado esta condição).

Um fato interessante evocado no pronunciamento foi o polêmico envolvimento político do Zélio na cidade de São Gonçalo-RJ onde fora vereador em dois mandatos. Destacamos dois pontos: Primeiro porque até mesmo nos materiais acadêmicos de referência, este fato não foi registrado. Segundo pela abordagem respeitosa de Pai Rivas e as reflexões interessantes que suscitou sobre um possível motivo do Zélio não ter ele mesmo divulgado seu passado como vereador. Qual seria a abordagem? Zélio de Moraes não assumiu sua vida política por ter percebido que este caminho não era o melhor a ser seguido pelos sacerdotes e sacerdotisas de Umbanda. Claro que isto é uma hipótese levantada por Pai Rivas, mas é um olhar mais cuidadoso com a história.

O mesmo não podemos dizer de alguns historiadores superficiais que, em nome de suas ideologias e interesses pessoais, evocam uma leitura parcial, tendenciosa dos fatos históricos. Tentam colocar o envolvimento político de Zélio de Moraes como algo positivo, até mesmo legitimador da Umbanda no período em que fora vereador da cidade de São Gonçalo.

Lembremos que o partido do Zélio era o PRF. Trata-se de um partido criado no fim do século XIX com o objetivo de representar os ideais republicanos e oligárquicos da elite agrária do Rio de Janeiro. É dentro desta visão política que querem "enquadrar" a Umbanda? Vamos deixar de lado a história do nosso povo que está em todos os setores da sociedade e não apenas um em específico?

Não podemos nos calar em mais uma tentativa de querer reescrever a história do santo pela ótica de uma pessoa que se diz pesquisador ou historiador (será mesmo?!?!) que não cita as fontes bibliográficas, desconsidera a fatos históricos por questões pessoais e tenta a qualquer custo colocar um ar de pioneirismo em uma interpretação equivocada e, sobretudo, distante da realidade.

Aceitar esta representatividade política como algo genuinamente umbandista é o mesmo que negar a realidade dos terreiros, local onde verdadeiramente está escrito a nossa história que não exclui ninguém. Muito pelo contrário, a nossa Tradição é pela Inclusão Total.

Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

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