sexta-feira, 9 de julho de 2010

A Tradição é expressa de forma original

Aranauan, Saravá, Axé meus irmãos planetários,

Estamos neste fórum de discussão há anos e acompanhamos de perto discussões de variados temas. Recentemente, principalmente após a penetração da FTU(Faculdade de Teologia Umbandista) na internet, temos percebido como o nível do diálogo tem se desenvolvido cada vez mais em perspectivas aprofundadas. Indo de encontro com o momento para as Tradições Afro-brasileiras, totalmente adaptada à linguagem pós-moderna do século XXI, alguns grupos procuram se apropriar destas idéias para outros interesses que não o diálogo sincero e aberto com as diferentes Escolas do nosso movimento religioso.

Utilizemos o exemplo da teologia umbandista tão discutida nestes fóruns. Pai Rivas, reitor da FTU, e seu corpo docente propugnam o saber teológico como um olhar crítico à religião e mais do que isso: a possibilidade real de diálogo entre os diversos saberes e fazeres, criando pontes que diminuem a distância entre o senso crítico e o senso comum passando pelo religioso.

A proposta da faculdade é clara e muito distante da tentativa de "racionalizar" a Umbanda como pode ser observado em algumas publicações por aí. Afinal, racionalizar a nossa linguagem rito-litúrgica seria o mesmo que limitar as inúmeras possibilidades de despertar a Espiritualidade proporcionada ao filho de fé; sem falar do fato de que uma teoria como esta descaracteriza a prática, a vivência da nossa Tradição.

Se for para discutir os aspectos racionais e irracionais da Umbanda, não existe concorrência. O irracional não é a negação do racional, mas um conjunto de possibilidades que ampliam e dão novo significado à compreensão da realidade em diferentes ângulos de interpretação. Se quisermos ilustrar esta idéia imageticamente, evoquemos Exu que analogamente comeria a razão e a irrazão dando origem pelo seu hálito a um terceiro elemento que não é nenhum dos dois primeiros, aporeticamente, a essência de ambos: a Síntese.

Os indivíduos que distorcem as idéias mais profundas das Religiões Afro-brasileiras por motivos egoísticos e vaidosos, quando não exclusivamente econômico-financeiros, são os mesmos que reproduzem o conhecimento sem saber fundamento que sustenta o que estão escrevendo. Se a escrita é assim, a atitude não pode ser diferente. Esta distorção expressa bem o desenraizamento tão evocado por cientistas sociais, pois basta acompanhar o problema em sua genealogia: no primeiro momento sai de uma casa espiritual buscando novas possibilidades em outra. Não conseguindo superar os primeiros degraus da iniciação e distorcendo os valores ensinados pelos Ancestrais Ilustres, retorna para a primeira casa tentando inventar algo que se afasta da primeira e da segunda. Ou seja, literalmente, uma mistura sem pé e sem cabeça... Sinceramente, uma pessoa que age assim consegue dizer algo de teologia? Não, meus irmãos.

A natureza não dá saltos e como diz Pai Chico: "Agô. Agô. Você ainda não é filho e já quer ser avô". Todos nós aprendemos que nosso pais espirituais são bons, pois invariavelmente também foram bons filhos. Você daria sua cabeça para alguém que não soube ser filho? Se isto é crítico, pior é a comercialização deste pseudo-conhecimento em livros ou cursos de formação religiosa distante do terreiro.


Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

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