terça-feira, 14 de dezembro de 2010

A contribuição da FTU e da Teologia do Santo para a Academia

Aranauan, Saravá meus irmãos planetários,

Estamos chegando ao fim de mais um ciclo. Aliás, sui generis. Estamos no último ano da primeira década do século XXI. Ao longo de toda a sua história as Religiões Afro-brasileiras ou Umbanda atravessaram as mais diferentes situações. Criticada, perseguida, criminalizada, porém sempre livre e atuante em todos os setores da sociedade civil. Isto se deve à sua eficiente propedêutica: curar o homem de forma integral, ou seja, nos aspectos biopsicossociais – como diria Pai Rivas.

Na educação este processo não poderia ser diferente. Sempre que a Academia oficial se interessava pelo povo do santo, nossas portas estavam e estão abertas. Não podemos deixar de admitir a realidade, registrando que na maioria das vezes fomos vítimas de algum processo de exclusão. Seja por motivos de saúde (taxados como "loucos"), sociais (não somos puros, gostamos do sincretismo), culturais (somos "baixo" espiritismo), econômicos (crendices populares oriundas da comunidade de baixa renda) e até mesmo étnicos (ora sofremos "empretecimento", ora "embranquecimento").

É bem verdade que religiosos afro-brasileiros e de outros setores adentraram a academia e dentro do que era possível, considerando toda a perseguição ideológica e preconceito arraigado no imaginário brasileiro, trabalharam de alguma forma para diminuir este processo. Todavia, o passo mais importante, diria decisivo, foi o advento da Faculdade de Teologia Umbandista (FTU) em 2003 que inseriu definitivamente as Religiões Afro-brasileiras para não só ser objeto de estudo, mas, principalmente, fomentar discussões relevantes para a nossa comunidade planetária.

Não posso negar o papel que F. Rivas Neto, meu pai espiritual, teve neste processo. Como fundador da FTU, sempre foi e é um entusiasta do diálogo com todas as áreas da gnose humana. Eu mesmo sou prova viva disto, pois iniciei meus estudos acadêmicos na Administração Industrial e depois do (re)encontro com meu Mestre, fui inserido gradativamente por Ele nas questões teológicas, religiosas e, porque não, filosóficas.

Isto culminou com meu ingresso no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UGF-RJ, o qual fui aprovado com bolsa no ano passado. Fui titulado Mestre este ano e minha dissertação trabalhou justamente o diálogo entre cidadãos religiosos e seculares, que como os irmãos podem constatar, foi algo aprendido nas religiões Afro-brasileiras, no terreiro, com meu Mestre e os Ancestrais Ilustres. Não obstante ao exposto, este ano participei do processo seletivo da PUC-SP e da UFJF em Ciências da Religião – nível Doutorado. Graças ao meu esforço pessoal, às bênçãos do Astral e principalmente vivência com Pai Rivas, ouvindo-O e aprendendo por meio do trabalho meu projeto foi aprovado nas duas Instituições.

Hoje, com 27 anos, estou doutorando em Ciências da Religião pela PUC-SP e sinceramente tenho uma satisfação enorme em escrever estas palavras. Não pelo ego e a vaidade, algo que meu Mestre ensina-me pelo seu próprio exemplo a neutralizar; mas por ser um acadêmico que surgiu literalmente do santo. Meu discurso religioso só foi aceito na Academia, pois me baseio na Tradição das Religiões Afro-brasileiras que não possuem erros científicos. Pelo contrário, têm grandes contribuições para ofertar à sociedade acadêmica.

Por este motivo agradeço a todos os umbandistas/afro-brasileiros que participam dos fóruns na internet por permitirem discussões profícuas, ao povo do santo que mantenho relacionamento dentro do Brasil (em todos os estados) e fora dele em várias regiões do planeta por meio da aproximação que a FTU promoveu com diálogo. Agradeço aos meus verdadeiros irmãos de santé nos vários graus que ocupam, pois estão firmes em sua senda iniciática.

Agradeço ao Astral pela cobertura direta e não poderia deixar de finalizar este relato-vivência sem agradecer especialmente ao Pai Rivas que por conta da pluralidade também é conhecido como Mestre Arhapiagha, Ifatosh'ogun (O sacerdote de Ifá que tem o poder de curar), Prof. F. Rivas Neto. Enfim, vários nomes que expressam a Unidade na Diversidade. O senhor demonstra que precisamos Saber, Fazer, Viver e Ser.

Certamente seu filho está no início da caminhada, mas o que conquistei deve-se essencialmente a confiança transmitida, a paciência e a Sabedoria do senhor. Obrigado por me mostrar que de nada adianta os louros, os títulos, se o conteúdo é oco. Não adianta estar na academia pela academia, estamos na academia para de alguma forma espiritualizá-la. É esta a tarefa que iniciei no mestrado e o seu discípulo pede agô para aprofundar no doutorado. Ashé Babá Mi!


Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

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