terça-feira, 28 de setembro de 2010

Vivência, experiência e linhagem... Parte II



Aranauan, Saravá meus irmãos planetários!

Tanto você, Itarayara, quanto eu comentamos sobre o "Toque de Coroa" como uma importante etapa de nossa iniciação com um único objetivo: reforçar a importância da formação religiosa dentro do terreiro, dentro de uma Raiz, transmitindo e recebendo a Tradição por uma Linhagem Espiritual séria.

Entendemos ser importante estes relatos-vivências, pois atualmente constatamos uma proliferação de propagandas religiosas com conotação comercial, cursos de ilusões que (desin)formam sacerdotes e médiuns distantes do terreiro, seja por meio de apostilas sejam rituais com fórmulas mirabolantes e sistemas esdrúxulos (mais de 70 graus!!!), entre outros.

Se nós que estamos e somos do terreiro em diversas condições – Iniciados, Sacerdotes, Alabês, Cambonos, Guardiões, iniciandos ou mesmo neófitos – não divulgarmos o que fazemos, expressar o que sentimos, discutir o que pensamos, quem o fará? Temos responsabilidade de conscientizar os irmãos que estão chegando agora nas listas de discussão e muitas vezes, por pura ignorância mesmo, caem na mão destes chacais, cobras cegas, enfim lobos que muitas das vezes vestem pele de cordeiro ávidos pelo dinheiro deles, submetendo-os aos seus processos alienantes.

Bem diante destas premissas, gostaria de voltar ao rito que eu e o Itarayara com grande alegria vivenciamos neste último final de semana. O toque realizado em nossos respectivos Oris com certeza é um passo importante na nossa caminhada iniciática. Pedimos a Zamby, aos nossos Ancestrais e principalmente ao Mestre Arhapiagha a força e cobertura para levarmos à frente nossa tarefa na Umbanda.


Sim, porque cada etapa da Iniciação que é vencida representa um aumento de responsabilidade. Então, como uma vez já conversei com o Mestre, repito abertamente neste texto: prefiro ficar no degrau iniciático que consiga dar conta do peso e responsabilidade à galgar passos maior que minhas pernas e rolar os degraus da iniciação. Isto não.

Pois pior do que não possuir raiz, como é o caso de quem faz estes cursos e estão longe do terreiro, são aqueles que se tornaram desenraizados. Quem não possui raiz nunca soube o que é a vida templária, o que é a relação de Mestre e Discípulo, desconhece o prazer de bater a cabeça no congá e verdadeiramente incorporar um Ancestral, pois muitos infelizmente só recebem o caboclo "eu mesmo", ou seja, nada. Ficam imitando gestos, jeitos e trejeitos, dando consultas onde ficam mais inseguros do que a própria pessoa que o procura para receber um aconselhamento.

Já um desenraizado chegou a ter um contato com a Tradição em profundidade que varia dependendo de cada caso, porém não suportou a responsabilidade. Tentou pegar o atalho falacioso do caminho "fácil" e acabou perdendo o rumo e o prumo. Prefere negar o que não conseguiu enxergar. Seu egoísmo e vaidade não permitiram enfrentar seus fantasmas pessoais, acabaram fugindo – quando não expulsos da Raiz.


Meus irmãos. O assunto é delicado, mas não podemos olvidá-lo. A Umbanda é um caminho maravilhoso e por ser verdadeiro não é superficial. Requer esforço, dedicação, militância. Necessita paciência e a experiência de quem já superou o que hoje são as nossas atuais dificuldades e mais uma vez nos deparamos com a importância do Mestre, Pai Espiritual, enfim, Sacerdote ao qual nós estamos ligados. Sem ele, simplesmente não é possível vencer.


Reflitamos com clareza... Por que seria diferente? Por que nossa caminhada deveria ser individual, logo egoísta? Temos na sociedade, na comunidade religiosa e até mesmo no nosso núcleo familiar o coletivo em várias formas e concepções. Crescemos verdadeiramente quando todos crescem juntos. Talvez agora tenha colocado com mais objetividade o que queria dizer com o conceito de amizade ao participar da vida templária com meus irmãos de santé sob as bênçãos de nosso Mestre-Raiz – Pai Rivas. 

Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)


Em 28 de setembro de 2010 17:33, Thomé Sabbag Neto <tsabbagneto@yahoo.com.br> escreveu:
 
Aranauan, Sarava, Axé a todos!
 
Como ocorreu com todas as anteriores, a 76ª publicação do blog de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas) me colocou em estado reflexivo:
 
1. As imagens do vídeo são impactantes e falam alto àqueles que possuem sensibilidade para perceber o enredo silencioso, nas entrelinhas, por trás das palavras. Há, ali, naqueles instantes diante do Congá da OICD, três "gerações" (por assim dizer): (a) a primeira, representada pelo próprio Pai Rivas, Filho Espiritual direto de Mestre Yapacani (Vô Matta); (b) a segunda, representada pelos filhos espirituais de Pai Rivas que, todavia, conheceram pessoalmente o seu "Avô de Santé"; e (c) a terceira, por todos aqueles que, não tendo conhecido o Velho Mestre, chegaram à Ordem após a publicação da "Umbanda – a Proto-Síntese Cósmica".
 
É emocionante ver, concretamente, em cor e som, o conceito de Linhagem Espiritual, tão trabalhado na Faculdade de Teologia Umbandista, com a alcunha de "Escolas". Há, em cada Escola, uma continuidade de transmissão do Conhecimento, onde os mais novos, em contato com os mais velhos e especialmente com o Mais Velho, vão gradativamente vivenciando o Sagrado em todas as suas manifestações.
 
Eis a Linhagem Espiritual que, considerando o marco de Mestre Yapacani, permanece viva, ativa, pulsante e, mais importante, no interior do Templo, aos Pés do Congá. Eis o enredo do vídeo em questão, eis a sua linguagem silenciosamente eloquente: somos uma Escola, que tem Raiz; que tem Mestre, que teve um Mestre, que teve um Mestre, até...
 
2. Também tive a oportunidade ímpar de participar, tal qual o "mano" Yabauara comentou em seu email, do referido Rito de "Toque de Ori". Como todo Rito – cuja natureza é a de traduzir, decodificar e manifestar concretamente determinadas potências espirituais – esse foi processado no interior do Templo, entre dois Filhos e um Pai.
 
Essa é a substância genuína de todo Terreiro: a vivência concreta, real, dinâmica entre Pai e filho, entre Mestre e discípulo. É essa vivência que torna possível – e até mesmo útil – a apreensão de conceitos, postulados etc. Tristemente, porém, a Iniciação é coisa rara: no mais das vezes, há apenas "Colégios" e "Ordens" nos quais o que se busca e o que se dá (quando se dá) é apenas um "conhecimento" puramente formalizado, verbalizado, quando se trata efetivamente de algo digno do nome "conhecimento".
 
Não é isso o que a verdadeira Iniciação busca. Não são enunciados verbais de apostilas que (ao menos supostamente) tratam de verdades abstratas e formais; é a verdade concreta – mas esquecida e silenciosa – de cada um de nós, é a Espiritualidade Universal vivente no interior de todos nós. E, para isso, é necessário um Mestre consumado, de fato e de direito, que tenha legitimidade sacerdotal para nos preparar e nos transformar interiormente, atualizando o potencial que cada um carrega... e os ensinamentos mais importantes são sempre no silêncio: o "awô" (mistério iniciáticao) não é e não pode ser transmitido pela Palavra, mas apenas pelo Silêncio do Espírito, ainda que as palavras desempenhem uma função preliminar importante para nos dar condições mínimas de acessar os "awôs". Em suma: "a palavra mata; o Espírito vivifica".
 
Essas são as razões – dentre outras, também inexprimíveis... – que tornam tão importantes, cruciais e (por que não?) emocionantes, Ritos como foi o "Toque de Ori": diante de um Mestre consumado, de um Pai verdadeiro, ajoelhado diante do Congá (esse axis mundi que nos liga à Espiritualidade Superior), pude ouvir suas Palavras e tentar decifrar o seu Silêncio...
Aliás, tocar o "Ori" significa, a rigor, tocar o espírito do discípulo, para impulsioná-lo a patamares superiores de Realidade e de Espiritualidade.
 
Que eu possa, então, ser digno de continuar pertencendo a esta Linhagem Espiritual, verdadeira, poderosa e, sobretudo, coroada de êxitos e vitórias.
 
Aranauan!
 
Itarayara (Thomé Sabbag Neto)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

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