domingo, 31 de maio de 2009

Ramatís e Umbanda


Sobre Ramatís gostaria de abordar 3 aspectos: Ramatís e seus médiuns; Umbanda versus Aumbandan e importação de conceitos estrangeiros.

Ramatís utilizou diversos médiuns. Hercílio Maes, Marcio Godinho, Norberto Peixoto, América Paoliello Marques, Maria Margarida Liguori, isto só para ficar nos principais. O autor que mais chegou perto da abordagem trazida pelo Hercilio Maes foi a América Paoliello Marques, tanto que seu livro foi prefaciado pelo próprio. Os demais autores produziram conhecimentos muito distantes entre si. Fiquemos no exemplo da Umbanda. Se para Ramatís/Hercilio Maes a Umbanda é culto fetichista, para Ramatís/Norberto Peixoto é a religião do terceiro milênio.

Dado este fato, não podemos olvidar duas coisas. Ou Ramatís mudou radicalmente o seu pensar sobre a Umbanda ou existe uma influência predominante sobre um ou mesmo os dois médiuns em questão sobre a entidade. Em quaisquer possibilidades, fica evidente que devemos evitar Ramatís como referência para compreender o movimento umbandista.

Sobre Aumbandan. Lembremos que Ramatís/Hercilio Maes não nega este conceito. Muito pelo contrário. Senão vejamos: "Etimologicamente, o vocábulo Umbanda provém do prefixo AUM e o do sufixo "BANDHÃ", ambos do sânscrito, cuja raiz encontra-se nos famosos livros da Índia, nos Upanishads e nos Vedas, há alguns milênios". "Aum é o próprio símbolo sonoro significativo da Trindade do Universo representando Espírito, Energia e Matéria (...)". "Bandhã,em sua expressão mística e iniciática, significa o movimento incessante, força centrípeta emanada do Criador, o Ilimitado, exercendo atração na criatura para o despertamento da consciência angélica. Mais tarde também passou a significar a "Lei Maior Divina", poder emanado do Absoluto." – Missão do Espiritismo -6ª Ed. – Cap. Espiritismo e Umbanda - páginas 132 e 133

Durante todo esse capítulo, o pensamento de Ramatís é muito claro. Para ele a Umbanda é um culto que distorceu bastante as relações com o Sagrados da antiga Aumbandan e, apesar de possuir ainda a atuação de alguns Guias de "escol", encontra-se em uma fase muito primitiva devido à influência da magia do negro (ele afirma que a feitiçaria é oriunda desta etnia). Como atua em um plano muito "denso" da magia, a Umbanda limita-se a uma espécie de faxineiro do baixo astral.

Vejamos agora a idéia de Aumbandan e Umbanda trazida por Pai Guiné/Mestre Yapacany, devidamente corroborada e aprofundada por Caboclo Urubatão/Mestre Arapiaga. Para esta Escola umbandista a Aumbandan é o Conjunto de Leis Divinas – a Proto-síntese Cósmica, mas ao contrário do que afirma Ramatís ela não veio do Oriente. Ela surge em plena Raça Lemuriana (que dentro da Escola de Síntese é reconhecida como a primeva Raça Vermelha de nome Tupy), mais especificamente no planalto brasileiro. Depois, por migrações físicas e reencarnatórias, chega ao Oriente e inicia sua volta para o Ocidente até os dias atuais. Perceba que nesta visão a Aumbandan não é nem uma importação de conceitos orientais, nem uma visão nacionalista/ufanista do brasileiro. O conjunto de leis divinas são Universo-descendentes, como bem diz Pai Rivas.

Já a Umbanda é um movimento (no sentido de ser dinâmico, aberto e em construção) religioso que visa através do sincretismo e da convergência restaurar esta condição primeva de harmonia, equilíbrio e estabilidade do Homem com o Cosmos através da Síntese da Gnose Humana. Assim, como foi explicitado nas vídeo-aulas da FTU, a Umbanda consegue agir desde os princípios mais espirituais até a matéria mais densa.

Por mais que a Academia não consiga confirmar todos os ensinamentos trazidos por esta Escola sobre a Origem das Origens, com certeza ela não consegue negar. E se compararmos esta visão de Mundo a de outras respeitosas filosofias religiosas, certamente a Umbanda possui uma visão mais próxima da Ciência. Afinal, o Cristianismo não crê que o mundo foi criado em 7 dias e que Eva, literalmente, nasceu da costela de Adão?

Não devemos confundir o que é "importação de valores estrangeiros" de conceitos para a Umbanda. Lembremos que o conceito de Orixá foi trazido da África, as práticas católicas e espíritas foram importadas da Europa, algumas Escolas Umbandistas importaram dos indígenas norte-americanos suas práticas. Enfim, se construirmos uma visão ufanista da Umbanda certamente perderemos todas essas ricas colaborações devidamente reelaboradas no seio do terreiro e a nossa melhor qualidade identitária: a diversidade!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Queremos a papoula ou a arruda?


Karl Marx afirma no livro "Crítica da Filosofia do Direito de Hegel": "Religion ist das Opium des Volkes".Entendemos o contexto e o direcionamento que Max quis dar a esta idéia, mas com convicção afirmamos que a Umbanda que vivencio está longe deste conceito.
A sociedade brasileira através de suas elites ao longo do tempo, procurou manter o status quo de quaisquer formas e métodos. Para eles, dentro de um pensamento maquiavélico, os fins justificam os meios... Será?
Peguemos o exemplo da escravidão do negro africano. Se por um lado foi horrível a forma como os nossos irmãos d'África aportaram no Brasil, pior ainda observamos seus últimos momentos antes da lei de "abolição da escravatura". Alguns pensadores umbandistas falaram sobre isto e, neste sentido, gostaria de trazer as palavras do sacerdote F. Rivas Neto:
"Não venhamos a entender com isto, que sejamos a favor da vergonhosa e tormentosa escravatura negra. Mas acreditamos que até hoje existe a dita escravatura, independente da tez. Vejamos o porquê de nossas assertivas: Na época da escravatura muitas leis foram para prevalecerem os próprios senhores de engenho e classes dominantes. Assim aconteceu com a Lei do Sexagenário (não era mais produtivo) e a Lei do Ventre Livre (era mais fácil deixá-los à própria sorte que sustentá-las até a idade produtiva). Como vimos, na época, foi um grande engodo. Finalmente, a "libertação dos escravos" foi outro engodo, pois libertou-se o negro sem nenhum planejamento, simplesmente porque ficava "mais barato", não havia necessidade de ônus com alimentação, vestimenta, etc. Mudou-se apenas a nomenclatura. Davam um salário que não dava para a alimentação, quanto mais para as outras necessidades básicas". In: Lições Básicas de Umbanda – 3ª Ed. – Complemento Especial – Aspectos Moral – Esotéricos da Umbanda – pág. 200.
Dentro da lógica de mercado existe produto e serviço. A diferença basilar entre ambos é que o primeiro é um bem tangível e o outro, naturalmente, intangível. O que acontece é justamente isto que Pai Rivas escreveu. O capitalismo selvagem trocou o "produto" miséria, calcado na cor da pele, pelo "serviço" miséria, onde a população é massificada e classificada como "minorias"(!?!?).
A Umbanda auxilia no processo de libertação real da escravatura em todos os dois casos supracitados. Seja percebendo o preto-velho como Mestre da Sabedoria e da Humildade, seja desconstruindo as relações de riqueza como sinal de aperfeiçoamento humano. Dentro do terreiro o Cooperativismo venceu o Corporativismo.
Para o sociólogo Peter Berger* "a institucionalização ocorre sempre que há uma tipificação recíproca de ações habituais por tipos de atores". Na Umbanda constatamos que através de seus terreiros (no âmbito religioso) e da FTU (no âmbito acadêmico) transformou-se em hábito a contra-ideologia de "desmassificação" da miséria e acentuamento dos nobres valores espirituais. Tudo isso através de um processo profundo de Educação para uma Cultura de Paz.
Como disse outrora, a Umbanda trocou a papoula pela Arruda e,com isto, age em parceria com outras áreas da Gnose Humana curando os chagas de ordem espiritual, cultural, social, política e econômica.
* A Construção Social da Realidade – II. A Sociedade como realidade objetiva – pág. 79.

domingo, 17 de maio de 2009

Umbanda e Academia


Dentro da abordagem acadêmica que a Umbanda introduz em sua comunidade através da FTU(Faculdade de Teologia Umbandista), gostaria de desdobrar alguns conceitos trazidos pelo Prof. Dsc. Pierucci quando considera o desenraizamento como fator de sucesso para as religiões acompanharem as necessidades da pós-modernidade e como ele enxerga a Umbanda neste contexto.

Para o prof. Pierucci a Umbanda é uma religião extremamente enraizada e esta pode ser definida como a matriz brasileira. Neste sentido, sua abordagem é que o movimento umbandista perde mercado religioso, devidamente registrado no senso do IBGE, por justamente não conseguir acompanhar a dinâmica do pensamento hodierno que faz com que os indivíduos experimentem inúmeras religiões sem um compromisso específico.

O que podemos dizer disto? Ao nosso ver, a Umbanda não possui uma única Tradição de "matriz brasileira", ou considerando as palavras do Prof. F. Rivas Neto "A constante da Tradição Umbandista é a contínua mudança, logo a Umbanda é uma Unidade Aberta em construção". Com isso entendemos que a Umbanda acompanha a "pós-modernidade", apesar de termos algumas ressalvas sobre esta expressão, por ser justamente desenraizada.

A Umbanda e sua aproximação da visão identitária brasileira se dá muito mais pelo fato do DNA mestiço que possuímos, do que uma compreensão exclusivamente regionalista. O que esta última, fatalmente, levaria ao nacionalismo.

Não é por menos que a Umbanda rejeita a idéia de ser nacionalista. Nas palavras de Pai Rivas: "Enquanto não banirmos a ignorância e o ódio que separam nações, povos, etnias e tradições filosófico-religiosas, não neutralizaremos os apegos do "egoísmo coletivo" (nacionalismo) e do "egoísmo individual" (exclusivismo), ambos mantenedores das misérias físicas e morais". In: Sacerdote, Mago e Médico- Cura e Autocura Umbandista- Parte III – Capítulo: Casos Clínicos e Nosológicos Espirituais – pág. 247.

A força da Umbanda está na sua matriz Universo-descendente, onde nós umbandistas não excluímos as culturas de outras nacionalidades. Ao contrário, dentro deste movimento – que é uma Unidade Aberta em Construção – todas as expressões do Sagrado tem voz e vez.

O que ganharíamos se olvidássemos a nossa diversidade (plural) em troca de uma forma única (singular)? Querem imputar um caráter exclusivista à Umbanda, enquanto nós continuamos na militância de terreiro em prol da Inclusão.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A origem das Escolas Umbandistas e suas aplicações práticas





Um dos conceitos que melhor conseguiu expressar a diversidade umbandista é certamente o de “Escolas”, tal qual cunhado por Pai Rivas, sacerdote com quatro décadas de experiência e reitor da FTU(Faculdade de Teologia Umbandista).

Escola Umbandista é uma forma de compreender e vivenciar o Sagrado. Cada Escola é formada por um conjunto de conhecimento (Epistemologia), uma conduta (Ética) e uma forma de transmissão destes dois últimos (Metodologia). Mas como surgiram as primeiras Escolas Umbandistas?

Para responder esta pergunta, a FTU nos remete as três matrizes formadoras do nosso povo: português (europeu), o indío (autóctone brasileiro) e o negro(africano). Essas três matrizes são as Escolas primordiais da Umbanda. Através do processo sincrético conhecido por todos nós no Brasil surgiram novas releituras, verdadeiras relaborações que deram origem a todas as Escolas Umbandistas hoje existentes. Por isso que é comum afirmamos que um terreiro possui mais características dos cultos afros outros da pajelança indígena e ainda outros mais com os cultos católicos e “kardecistas”.

Esta compreensão profunda sobre o movimento umbandista é fruto de muitos anos de prática e estudo da Escola de Síntese, fundada e conduzida por Pai Rivas(Mestre Arhapiagha). Podemos entender isto de uma forma simples, mas não menos importante, ao compararmos cada cor com uma Escola de Umbanda.

Suponhamos que a Escola Esotérica, iniciada por Pai Matta(Mestre Yapacany), seja a cor verde. Estar cor é belíssima, mas não é superior ou inferior quando apreciamos outras cores. Algumas pessoas podem até preferir esta cor, mas em nada invalida as demais.

Assim existem irmãos que por falta dessa visão de todas as cores, ou seja do todo, não compreendem o atual trabalho desenvolvido por Pai Rivas quando no início do terceiro milênio instituiu sete ritos diferenciados e representativos da Umbanda como um todo.

Este trabalho foi ampliado originando a FTU e o Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras. Mesmo vivenciando e explicando a importância de todas as cores, Pai Rivas não descaracterizou o verde. Dito de outra forma, ao buscar a Convergência entre as diferentes Escolas a Umbanda Esotérica não foi negada, mas de fato ampliou as possibilidades de construção de uma Umbanda de Todos Nós, a Proto-Síntese Cósmica.

Utilizamos a palavra “possibilidades” e a mesma é muito pertinente ao se tratar de Movimento Umbandista. Suas Escolas permitem várias percepções da realidade que marcham de forma irrefutável para a Realidade última e Absoluta que é o Espírito. Nesta abordagem surgem os variados ângulos de interpretações de cada umbandista, fruto direto de suas experiências na atual e pregressas encarnações que originam as múltiplas afinidades.

Com um modelo tão inteligente, inclusivo e abrangente, como poderíamos pensar em codificação? Codificar é engessar, limitar este movimento. Dada a manifestação e manutenção da Umbanda através de formas coletivas de expressão, para codificar a Umbanda invariavelmente seria necessário codificar cada um de nós.

Neste sentido ousamos afirmar que as Escolas “umbandizam” seus filhos de fé, enquanto a codificação “robotizam” nossos pensamentos, sentimentos e ações. Nas palavras de Pai Rivas: "A Umbanda vive da diversidade, na diversidade, com a diversidade. A Umbanda é a própria diversidade"

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A diversidade umbandista pode ser com preendida por um único estudo de caso?


Aranauam, Saravá meus irmãos planetários,

Nos últimos emails que escrevemos, procurei demonstrar um pouco do que a FTU transmite para seus alunos e a sociedade civil tomando como referência materiais produzidos por esta instituição de ensino superior e pelo contato que tenho obtido com o seu reitor F. Rivas Neto, meu Pai de Santé.

Se os irmãos observaram bem, o tema focal de nossas discussões foram a diversidade umbandista e seus relacionamentos com a Gnose Humana, exemplificado na relação Ciência X Religião. Pois bem, através da abordagem trazida pelo prof. Dsc. Sulivan Charles Barros no artigo: "Possessão, gênero e sexualidade transgressora: Análise biográfica de uma pomba-gira da Umbanda", gostaríamos de produzir algumas reflexões. O mesmo pode ser acessado através do sítio: http://www.fazendogenero8.ufsc.br/sts/ST30/Charles_%20Barros_Sulivan_30.pdf

Peço aos irmãos interessados no assunto que antes de continuar a leitura de nosso texto, por gentileza, leiam o artigo.

Todos nós temos observado a ótima repercussão nas listas do conceito de Escolas Umbandistas. Somos sabedores que alguns distorceram e outros mudaram os nomes para alegarem uma pseudo-autoria, mas de uma maneira geral o mesmo tem sido discutido com freqüência nos fóruns.

Pois bem, o conceito de Escola Umbandista vem reforçar a importância de entendermos o nosso movimento religioso como uma demonstração harmônica da diversidade religiosa. Cada terreiro possui um papel importantíssimo na construção e perpetuação dos valores trazidos pelo Astral Superior e, para isso, não precisamos estabelecer uma relação de concorrência. Todas as Escolas são importantes para a Umbanda que é uma Unidade Aberta em Construção, como afirma Pai Rivas.

Diante desses fatos, será que conseguiríamos entender toda a Umbanda sem considerar o profundo imbricamento de suas Escolas? Somos apologistas da interdependência e, nesse sentido, não podemos assumir para a totalidade as particularizações trazidas pelo médium da pomba-gira Milena que foram interpretadas e desdobradas pelo prof. Barros na sua produção acadêmica.

Nós que possuímos a visão "desde dentro", precisamos analisar com muito critério tudo que foi dito no artigo em questão para colocarmos nossas considerações utilizando não só o senso comum, mas principalmente o senso crítico como um contra-ponto ao olhar "desde fora". Por tudo isso, os teólogos formados pela FTU possuem e cada vez mais possuirão uma importância capital para dialogar com este importante setor da sociedade.

Dentro deste contexto, corroboramos as palavras do Prof. Reginaldo Prandi no I Congresso de Umbanda do Século XXI realizado pela FTU: A faculdade é o fórum privilegiado para a discussão de profundidade sobre a Umbanda e o seu futuro.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Cursos exclusivistas prejudicam a diversidade umbandista


O conceito de Escolas realmente estimula uma visão muito mais pacifista e convergente da diversidade umbandista. Neste sentido, entender Escolas como formas de interpretar e manifestar o Sagrado é respeitar esta tão propalada diversidade, pois ficam estabelecidos relacionamentos harmoniosos com o outro (alteridade).

Aqueles que pensam que seus grupos estão em um patamar maior ou melhor, imputam uma visão exclusivista. A pluralidade é trocada pela singularidade. Deixamos de ser unos e passamos a estarmos únicos. Normalmente estes grupos traduzem estas visões distorcidas da Umbanda como um todo em cursos para a comunidade, mas prevalecendo uma forma única sobre as demais. Para este tipo de curso, mesmo que fosse gratuito, o prejuízo à união do nosso movimento religioso é evidente.

Academicamente sabemos que quanto maior a extensão, menor será a profundidade. Utilizando o exemplo do email do Araobatan: quanto maior a escala do mapa, mais espaço eu enxergo com menor especificidade. O inverso é verdadeiro. Quanto menor a escala de um mapa, maiores detalhes da região são coletadas. Dado este conceito, fica fácil entender que esta profusão de cursos oferecidos por aí com uma carga horária pequena pouco ou quase nada conseguem passar mesmo dentro de um escopo exclusivista. A questão sai do aprendizado e entra no clientelismo. Sai o foco da informação da qualidade e preza-se pela quantidade de pessoas que farão o curso.

Pior do que estes cursos são os cultos pagos. Sim meus irmãos, existem pessoas que estão divulgando cultos "umbandistas" cobrando ingresso, como se fosse um show ou teatro.

Para estes não basta utilizarem o rótulo "Umbanda". Querem utilizar o mote dela. Por isso, afirmam em um curso específico de um grupo que o mesmo será dado em caráter universalista e panorâmico. Já comentamos isto, mas o que era para ser vivido dentro do terreiro e discutido com outras Escolas passa a ser visto como uma relação clientelista. Quer aprender sobre um assunto específico? Não precisa bater cabeça no congá, basta colocar a assinatura em um cheque.

Estes grupos andam mudando subitamente de opinião. Até ontem achavam a idéia da Umbanda produzir conteúdo acadêmico e respeitoso com a diversidade equivocado. Agora falam como se possuíssem a primazia. Longe estamos de disputar quem falou ou quem pensou primeiro. Para nós, as boas idéias vêm de Aruanda e ponto. Cabe a nós, filhos de fé do terreiro exercitá-las no dia-a-dia.

Felizmente existem casas espirituais espalhadas pelo mundo que não se deixam levar por esta propaganda vazia. O que vale para esses inúmeros cavalos de Umbanda é fazer valer a vontade do Caboclo, do Pai-Velho, da Criança, do Boiadeiro, do Baiano, do Marinheiro, do Exu, do Cigano, enfim do Ancestral Ilustre. Neste sentido, o Astral orientou a construção de uma faculdade que possua em seu bojo não só o respeito, mas principalmente a vivência da diversidade. Para estes irmãos abnegados damos o nosso Paó e rogamos aos Orixás que as construções socializáveis e inclusivas continuem!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A Unidade Aberta não pode se fechar


A Umbanda possui uma metodologia que está na vanguarda da sociedade. Afinal, assim como o discurso acadêmico, percebemos o nosso movimento como uma Unidade Aberta em Construção. Porém nem sempre isto foi compreendido por parte da nossa comunidade.

Alguns irmãos planetários na dificuldade de compreenderem o que os próprios sacerdotes de seus terreiros afirmavam, adotaram as ideologias de outras religiões. Como exemplo, vamos citar aqueles que importaram a mensagem espírita "kardecista" e observar quais foram as suas conseqüências.

A primeira, e talvez mais óbvia, é entender a Umbanda como uma religião confusa e desorganizada devido ao fato de não possuirmos uma codificação, um codificador. Quantos livros nós não vimos na prateleira das livrarias com temas do tipo "código de umbanda"? Só esqueceram de avisar aos Guias que baixam no terreiro como funciona este código feito por encarnados...

Outro fator não menos importante é a tentativa de reconhecer na influência africana da Umbanda uma forma primitiva ou mesmo "incivilizada" de expressão religiosa. Tantas vezes escutamos a história do Zélio de Moraes na Federação Espírita de Niterói e mesmo assim observamos a persistência de alguns neste discurso etnocêntrico. Até quando?

Para não estender muito assunto, fiquemos em último aspecto. Muitos irmãos procuram extirpar o mestiço na Umbanda, evocando um "purismo" utópico, simplesmente pelo fato de não aceitarem o sincretismo religioso como algo positivo. Tudo entrou na classificação de folk, superstições e crendices. Usaram o nosso imaginário para nos achincalhar.

Neste sentido, lembro o "Livro dos Espíritos" e a seguinte passagem racista: "(...)dir-se-á, sem dúvida, que o Hotentote é de uma raça inferior; então, perguntaremos se o Hotentote é um homem ou não. Se é um homem, por que Deus o fez, e à sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça caucásica? Se não é um homem, porque procurar fazê-lo cristão?" (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Instituto de Difusão Espírita, Araras, São Paulo, sem data, capítulo V, p. 127 – Grifo nosso).

Já no livro "Missão do Espiritismo", 6ª edição da Livraria Freitas Bastos, Ramatís coloca a Umbanda como religião inferior quando comparada ao Espiritismo. Observemos o "Capítulo IX - Espiritismo e Umbanda", mas especificamente os seguintes trechos: "Pergunta) Os espíritas criticam a Umbanda porque é doutrina demasiadamente apegada aos fenômenos da vida material! Que dizeis? Resposta) Não há dúvida. A Umbanda ainda é culto fetichista(...)" (Página 145) e "O Espiritismo, como sistema o doutrina dos espíritos, firma os seus postulados nas bases principais transmitidas do Além, enquanto a Umbanda, na atualidade, ainda é sincretismo religioso, amálgama de concepções heterogêneas de crenças, folclores, superstições, ritos e costumes religiosos de diversas raças e povos(...)" (página 150). Grifo nosso.

Respeitamos os confrades espíritas, mas não podemos nos calar. Somos umbandistas e a visão desde dentro da Umbanda precisa ocupar lugar central no entendimento da própria Umbanda. Ou estaria certo entender o "Kardecismo" sob a ótica de uma doutrina externa ao Espiritismo?

domingo, 19 de abril de 2009

“A constante da Tradição Umbandista é a contínua mudança, logo a Umbanda é uma Unidade Aberta em construção”


Aranauam, Saravá meus amigos listeiros,

A FTU lançou no final do ano passado a 16ª vídeo-aula que encerrou ciclo de 2008. Diversos temas foram tratados nesta vídeo-aula e para não ficar muito extenso o nosso texto, vamos abordar a questão de Raiz por dentro do movimento umbandista.

Antes de mais nada, gostaria de trazer um conceito esposado por Pai Rivas desde muito tempo que foi ratificado nesta última aula: "A constante da Tradição Umbandista é a contínua mudança, logo a Umbanda é uma Unidade Aberta em construção". Esta idéia abre um leque de possibilidades permitindo ao umbandista viver em profundo respeito com a diversidade religiosa.

Neste instante surge um questionamento natural: o porquê e como isso acontece.

O porquê se dá pela característica essencial do Universo que também é a constante mudança. Aliás, seu equilíbrio é dinâmico e não estático. Da mesma forma o homem em seus múltiplos aspectos. Logo, se a Umbanda fechasse uma única e exclusiva forma de espiritualizar o cidadão planetário, estaria a mesma engessando uma doutrina que só possuiria aplicabilidade em grupos específicos e em contextos históricos também específicos.

O método, ou seja como isso se dá, pode ser explicado pelo conceito de Raiz. Raiz nada mais é do que Escola. A vídeo-aula foi muito clara. A Umbanda é uma idéia e esta se expressa através de diversas linguagens. Cada linguagem, entenda-se forma de compreensão e vivência da Umbanda, é uma Raiz ou Escola. Com isso, Pai Rivas afirma que não existe uma única Raiz ou Raiz melhor que outra. Existe a Raiz de Guiné, Raiz de Urubatão da Guia, Raiz de Pai Julião, Raiz de Tupanzinho, enfim toda entidade tem raiz.

Esta dinâmica da vida ocorre dentro das próprias Escolas. Cada Escola, por pertencer à Umbanda, também é uma Unidade Aberta em Construção. Com isso a evolução do homem – que requer mudanças constantes – não é frenada, mas acelerada pela Raiz que pertence.

A própria palavra "Raiz" é simbólica. Lembrando a vídeo-aula de número 15, temos que o solo guarda a morte e revela a vida através das plantas. Seguramente a raiz é responsável pela transformação destes elementos e condução da vida. Da mesma forma a Raiz/Escola funciona da mesma forma para o Homem através de processos atraumáticos que encontram na diversidade a sua Unidade.

E deixa a Gira girar!

Observação: As vídeo-aulas estão disponíveis no sítio www.ftu.edu.br

sábado, 11 de abril de 2009

Vídeo-aulas da FTU e Terapêutica Umbandista


Aranauam, Saravá meus amigos,

Para quem assistiu gratuitamente a 15ª vídeo-aula da FTU, disponível no sítio: http://www.ftu.edu.br/, encontramos na parte III um assunto de importância fundamental para o Homem e a Sociedade: Terapia e Liturgia dos Minerais, Vegetais e Animais. Uma abordagem da cura do Espírito através de princípios naturais.

Nesta vídeo-aula Pai Rivas nos ensina os diversos relacionamentos entre Orixá, Ancestrais Ilustres, Natureza e o Homem. No gráfico acima podemos trabalhar conceitos interessantes.

Olhando-o atentamente, encontramos o Mundo Sobrenatural e Natural. No primeiro temos os Orixás e os Ancestrais Ilustres e no segundo a Natureza e o Homem. Assim temos uma interação imediata e dialética do Homem com a Natureza e, também, do Homem com o Ancestral Ilustre. De forma mediata, o Homem se relaciona com o Orixá tendo o Ancestral Ilustre e a Natureza como meio de contato mais comum.

Dentro desta lógica afirmamos que todas as vídeo-aulas abordaram a terapia da alma. Se as três últimas discorreram sobre o assunto objetivamente, as demais contribuíram de forma significativa quando propuseram discutir a etiologia da doença em nível espiritual, cultural, social, político e econômico. Entendamos o porquê.

A Escola de Síntese preconiza o encontro do Homem consigo, com o Próximo, com a Sociedade, com a Natureza e com o sagrado. Aí está a higidez do corpo físico, emocional e mental de todos nós, seres encarnados. As vídeo-aulas trataram inúmeros destes aspectos que vão desde a Origem do Universo até a Origem do Homem Planetário, levando em consideração as questões individuais e comunitárias.

Esta feliz abordagem trazida pela teologia umbandista nos faz concordar com o prof. F. Rivas Neto quando afirma sobre os aspectos da Iniciação (conhecer a origem); seja mergulhando no seu interior através da reflexão (interioridade), seja percebendo o exterior através da atenção que quando aplicado ao outro, surge a alteridade.

Os terreiros com suas linhas de transmissão concretizadas na mediunidade e na iniciação são expressões vivas destes conceitos. A Umbanda e suas Escolas nos proporcionam meios reais para reestabelecer a saúde. Os Guias quando estão no "reino" agem como verdadeiros terapeutas descalços...

domingo, 5 de abril de 2009

A Umbanda mostra como relacionar Teoria com Prática

Mestre Canindé acostado em Pai Rivas produzindo a cura dos males físicos e espirituais

Aranauam, Saravá !

Recentemente temos trazido alguns conceitos sobre a Umbanda, o movimento umbandista e seu relacionamento com a Sociedade desde seus aspectos superficiais até os mais essenciais de forma a não privilegiar nenhum ângulo de interpretação. Somos a favor de todas as formas de se compreender e praticar a Umbanda.

Também não poderia deixar de comentar que boa parte dos conceitos trazidos neste blog foram desdobramentos naturais de dois presentes que o nosso movimento umbandista recebeu da FTU(Faculdade de Teologia Umbandista): Vídeo-aulas gratuitas e I Congresso de Umbanda do Século XXI.

Estes bens socializáveis só foram concretizados por um motivo simples: as pessoas que participam destas iniciativas possuem uma profunda vivência naquilo que apresentam. Ou seja, só existe uma teoria com qualidade, pois ela é praticada dentro e fora das dependências da faculdade.

A 15ª vídeo-aula, disponível no sítio http://www.ftu.edu.br/, é simbólica neste sentido. Após uma profunda explanação sobre conceitos metafísicos, por exemplo ao demonstrar a vida através dos Orixás e Ancestrais no mundo sobrenatural e da Natureza e do Homem no mundo natural, Pai Rivas apresenta como estes podem ser aplicados na saúde dos irmãos planetários através de Garrafadas, Rezas, Mandingas e Simpatias. Tudo de forma gratuita! Disponíveis para quem quiser buscar a saúde espiritual, profissional, emocional e material. Também não podemos esquecer da explanação de 75 ervas com suas propriedades medicinais e, principalmente, rituais.

E como poderíamos deixa de lado o Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras? Esta casa espiritual busca na vivência dos ritos de Candomblé de Caboclo, Catimbó, Encantaria, Pajelança, Toré, Xambá, Terekô, Babaçuê, Xangô do Nordeste, Mabassa, Culta ao Exu, além das diversas Escolas Umbandistas, resgatar a essência das Tradições com respeito pelas diferenças.

Finalizando, sobre o movimento oscilatório da Umbanda entre o Centro e a Periferia, gostaríamos de disponibilizar um link onde nossa apresentação poderá ser acessada visando uma melhor compreensão dos conceitos esposados: www.conub.org.br/material/Grafico_Umbanda.pps

domingo, 29 de março de 2009

Mídia tendenciosa




Aranauam, Saravá!

A Umbanda possui um conjunto de idéias que são vivenciadas diuturnamente nos terreiros e estas são completamente diferentes dos valores invertidos exercidos na sociedade hodierna. Não poderia ser diferente. Somos um movimento religioso que prefere a Convergência ao invés da Concorrência.

Pois bem, um dos conceitos que exemplificam bem a idéia Umbanda é a compreensão de sua universalidade, dito de outra forma, na busca da essência que é comum a todos os Saberes da humanidade.

Recentemente lemos em uma revista que a característica universal da Umbanda poderia implicar no afastamento da mesma de seu berço e contexto brasileiros considerando que a busca pela essência necessariamente afasta-se da forma.

Nós pensamos por outro ângulo, pois buscar a Essência da nossa Sociedade é estar em consonância com a alma do brasileiro que é universalista por excelência. Isto está nos seus pensamentos e sentimentos que de uma forma geral construíram uma cultura que ressalta a diversidade e que foi tão bem expressa no nosso DNA mestiço.

Quanto ao fato da Umbanda buscar a universalidade das coisas, isto não quer dizer que ela é elitista. Muito pelo contrário, o que ressaltamos é que a Umbanda não fica presa no Centro desdenhando de quem está na periferia e nem mantém a miséria espiritual e material do mundo estancada na periferia. Como afirma F. Rivas Neto, a Umbanda oscila do centro à periferia de nossa sociedade buscando diminuir esta distância.

Lembremos que no processo máximo de fragmentação da gnose humana, o homem criou necessidades de ordem espiritual, cultural, social, política e econômica. Com o avanço da dialética umbandista, acreditamos que estes valores entram em um processo natural de aproximação que culminará na Convergência. Com isto afirmamos existir uma lógica muito séria que objetiva diminuir as desigualdades do mundo.

A mídia plutocrata não pode simplesmente trazer uma visão reducionista desde fora da nossa religião sem que nós possamos exercer nosso direito de reflexão desde dentro.

domingo, 22 de março de 2009

A Umbanda produz Harmonia, Estabilidade e Equilíbrio de forma interdependente

(1) O Poder Operante ou Volitivo dos Arashas Virginais aplicado à Substância Etérica conferiu-lhes ciclos e ritmos que se expressaram através de: Luz, Som, Movimento Cósmicos.
(2) O Poder Operante ou Volitivo dos Arashas Solares aplicado à Substância Solar conferiu-lhes ciclos e ritmos particulares. Estes se expressam através de: Equilíbrio, Estabilidade e Harmonia Planetárias.
(3) O Poder Operante ou Volitivo dos Arashas Planetários ou "Ancestrais" aplicado à Setessência da Matéria confere-lhe ciclos e ritmos particulares. Sua expressão dá-se através dos: Organismo Mental, Organismo Astral e Organismo Etéreo-Físico.


Aranauam, Saravá meus amigos,

No último texto abordamos como a Umbanda se relaciona com a Ecosofia citando a interdependência entre o Cosmos, o Planeta e o Homem. Estes conceitos foram retirados do livro "Sacerdote, Mago e Médico – Cura e Autocura Umbandista" do autor Francisco Rivas Neto.

Visando outros desdobramentos dentro contexto, gostaria de pedir Agô ao referido escritor e transcrever um trecho do livro em questão situado na "Parte II – Medicina de Síntese", mas precisamente no Capítulo "Fisiologia da Energia Sutil: Canais – Chakras":

A Medicina de Síntese, o médico ou o curador tântrico procuram harmonizar o Homem com sua essência, não se esquecendo, porém, que o mesmo possui Organismos Dimensionais. Não fragmenta o binômio Espírito-Corpo; ao contrário, procura incrementar-lhe a unidade.

Lendo o excerto, pediria a atenção do atento leitor às idéias de Equilíbrio, Estabilidade e Harmonia Planetárias. Seguindo o raciocínio de interdependência, e considerando a existência no Homem com seus Organismos Etéreo-Físico, Astral e Mental, temos:

· Harmonia de Pensamentos (Mental)
· Estabilidade de Sentimentos (Astral)
· Equilíbrio de Ações (Físico)

Esta é a proposta da metafísica umbandista: relacionar o Cosmos, o Planeta e o Homem.

domingo, 15 de março de 2009

Umbanda e Ecologia


Pai Rivas trouxe nas vídeo-aulas produzidas na FTU* o termo Ecosofia. Lembramos que este conceito significa filosofia ecológica que leva em consideração não só aspectos do meio ambiente físico, mas do homem e da sociedade que está inserido. A Ecosofia é um termo cunhado por Félix Guattari, pensador marxista francês.

Paralelamente temos nos Altos conceitos da Teologia Umbandista uma visão interessantíssima sobre a Cosmogênese, Planetogênese e Antropogênese. Dentro desta dialética física e metafísica, aprendemos que existe uma interdependência entre estas três manifestações.

Continuando o raciocínio, somos regidos por Ciclos e Ritmos imprimidos pelo Poder Volitivo do Orixá na substância escura desde nossa primeira manifestação no Universo Astral. O que se repetiu no planeta que habitamos e está expresso analogicamente na formação dos nossos corpos Mental, Astral e Físico.

Onde queremos chegar com isto? Que Respeitar a Natureza, Preservá-la e buscar novas formas de relacionamento com Ela é uma consequência natural da maneira como lidamos com nós mesmos. E no instante que assumirmos uma postura de Harmonia, Estabilidade e Equilíbrio, naturalmente estaremos mais próximos das Origens das Origens.

A Ecosofia busca compreender o Homem dentro da Sociedade e como ele se relaciona com a Natureza. A Umbanda preconiza que o Espírito, responsável pela Vida nos diversos níveis da matéria, se relaciona no Mundo Natural com a Natureza e com o Homem e no Mundo Sobrenatural com os Orixás e os Ancestrais Ilustres.

A Umbanda é ecosófica em sua Essência e a Filosofia da Ecologia encontra fundamentos importantes na Teologia Umbandista. Mais uma vez a FTU demonstra como podemos aproximar o Saber Acadêmico do Religioso, respeitando suas diferenças e - principalmente - unindo pela Essência.

* maiores informações, acesse: www.ftu.edu.br

quarta-feira, 11 de março de 2009

A Diversidade Umbandista




Aranauam, Saravá meus irmãos,
"A Umbanda é a própria diversidade". Neste importante conceito desenvolvido por Pai Rivas conseguimos compreender que a força da Umbanda está em sua pluralidade.

Neste blogue já escrevemos alguns rudimentos sobre Escolas Umbandistas. Estamos convictos que a compreensão desta simples, porém profunda idéia facilitará substancialmente o entendimento do DNA plural que a Umbanda carrega em seu próprio Movimento.

Outro assunto que está intimamente ligado com o que escrevemos até aqui é a própria FTU(Faculdade de Teologia Umbandista). Para entender esta interdependência, gostaria de transcrever algumas palavras do livro "Sacerdote, Mago e Médico – Cura e Autocura Umbandista" do autor Francisco Rivas Neto (Pai Rivas), o qual sinceramente peço seu Agô:

"Escolas ou Segmentos Umbandistas
Na Umbanda, pela diversidade dos seus adeptos, há também uma diversidade de ritos e de formas de transmissão do conhecimento. A essas várias formas de entendimento e vivência da Umbanda denominamos escolas ou segmentos.
As várias escolas correspondem a visões, umas voltadas mais aos aspectos míticos e outras mais voltadas à essência espiritual, abstrata. Embora não haja consenso quanto à ritualística, que são várias formas de interpretar e manifestar a doutrina, a essência de todos é a mesma e todos são legitimamente denominados umbandistas.
A Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino apresenta uma variedade de rituais que pretende representar uma amostragem fidedigna dos vários segmentos umbandistas, proporcionando desde as formas mais míticas até as formas mais internas de contato com o Sagrado. Em função disso a OICD assumiu para si a responsabilidade de enfrentar a tarefa de promover a convergência, fundando a Faculdade de Teologia Umbandista.
A fundação da Faculdade em si talvez importe menos que o impacto que a mesma encerra. Talvez não tenhamos percebido, no momento, a mudança de rumo que provocaremos na história, primeiro em nosso país, depois no mundo. Com o movimento oscilatório que a Umbanda tem, variando entre o centro e a periferia e, agora, estabelecendo-se mais consistentemente no foco das manifestações culturais, intelectuais, sociais, políticas e econômicas, a revolução que podemos esperar é a de uma mudança pacífica mas profunda de paradigmas, arrastando toda a periferia ao centro e promovendo uma nova ordem social, mais igualitária e baseada em valores mais humanos.
O ineditismo e a coragem desta empreitada umbandista ficará indelevelmente registrada na história planetária e se constituirá como um dos fatores mais marcantes do início do século XXI.
A Faculdade, além de suas propostas pedagógicas, pretende exercer uma função de transformadora social, reduzindo as desigualdades em todos os âmbitos, acabando com as exclusões, promovendo a tolerância consignada na convivência pacífica, construindo a legitimidade paulatina do consenso livre.
Assim como a sociedade internacional reclama consenso no político e diplomático, também reclama no nível do Sagrado, alcançando todos os seres em busca de convivência pacífica que nos remeta à Paz Mundial."

Este trecho foi extraído dos Excertos Finais do livro, mais precisamente do item "A Faculdade de Teologia Umbandista", páginas 459 e 460 da edição publicada em 2003.

Seis anos depois constatamos os benefícios que a FTU ofertou e continua produzindo para nós umbandistas ou não em níveis emergenciais e – principalmente – estruturais. A Faculdade é um bem coletivo do qual todos nós, filhos de Pemba, temos a satisfação de saber da sua existência e conhecer seus frutos que cheiram a Arruda e Guiné.

Mais uma vez reitero meu convite aos irmãos que residem próximo da capital paulista à prestarem o vestibular 2009 da FTU, onde serão verdadeiros protagonistas das transformações profundas e atraumáticas que a Umbanda tem para o Mundo.


Salve a UMBANDA!

quarta-feira, 4 de março de 2009

A Umbanda do amanhã

Aranauam, Saravá meus irmãos planetários,
O conceito de Escolas Umbandistas foi apresentado à Sociedade Civil por Pai Rivas através de livros publicados no início deste século como o "Sacerdote, Mago e Médico"ou mesmo as recentes vídeo-aulas produzidas pela FTU. Escolas são formas de compreender e praticar a Umbanda.
Além de permitir um novo olhar para a Umbanda do passado e do presente, este mesmo conceito pode ser utilizado para vislumbrar o futuro de nosso movimento religioso. Desta forma, o gráfico acima é uma representação do símbolo desenhado por Pai Rivas na lousa da FTU durante a gravação da vídeo-aula de número 14: "Terapia e Liturgia dos Minerais, Vegetais e Animais - Parte II"*
Considerando a circunferência uma representação do Todo, entenda-se Unidade, temos cada Escola umbandista representada por uma cor específica no Gráfico. No entanto, perceberemos que só metade da circunferência está preenchida. O que isto significa?
Para Pai Rivas, e nós concordamos, o não preenchimento de toda a Gnose umbandista pelas atuais Escolas é a prova cabal de que a Umbanda é uma Unidade Aberta que está em construção. Isto se deve ao próprio mundo estar em constante construção. Além disso, esta demonstração nos conduz a um processo lógico de raciocínio que não permite aceitarmos a codificação da Umbanda. Afinal, parafraseando Pai Rivas, não temos a última resposta, pois não sabemos a última pergunta...
Observem meus amigos que este gráfico realmente permite uma série de desdobramentos.
No entanto, voltemos ao tema "Umbanda do futuro". O não preenchimento de boa parte da Unidade representada na circunferência nos leva a vislumbrar algumas possibilidades. A primeira é que novas Escolas surgirão e permitirão aos cidadãos planetários penetrar neste Espaço não desvendado. A outra e não menos importante é a reformulação de algumas das Escolas Umbandistas, o que aumentaria sua abrangência e abarcaria estes pontos ainda velados da Umbanda. Também não podemos negar que ambas podem acontecer mutuamente. A quarta via seria uma fusão inicial de Escolas que fomentaria a inexorável Convergência entre Elas.
Independente destas ou outros inúmeros meios de desenvolvimento do Movimento Umbandista, temos certeza que o maior ou menor aprofundamento deste processo de condução do Homem à harmonia, estabilidade e equilíbrio de seus pensamentos, sentimentos e ações dependerá essencialmente de como nós agiremos daqui para frente.
A Umbanda trouxe ferramentas de aproximação dos Saberes Acadêmicos e Religiosos visando o Saber Popular. A Faculdade é uma Institucionalização desta Vontade do Astral. Com pensamento humilde, sentimento puro e ação efetiva teremos um belíssimo futuro pela frente. Viva a Era de Aquário!

*Maiores informações, acesse: http://www.ftu.edu.br/

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Diminuindo distâncias através do Movimento Oscilátório da Umbanda


Aranauam, Saravá meus irmãos umbandistas,

Recentemente temos trazido alguns conceitos sobre a Umbanda, o movimento umbandista e seu relacionamento com a Sociedade desde seus aspectos superficiais até os mais essenciais de tal forma que não existam privilégios de nenhum ângulo de interpretação específico. Somos a favor de todas as formas de se compreender e praticar a Umbanda.

Também não poderia deixar de comentar que boa parte dos conceitos trazidos neste blog são desdobramentos naturais de dois presentes que o nosso movimento umbandista recebeu da FTU: Vídeo-aulas gratuitas e I Congresso de Umbanda do Século XXI.



Estes bens socializáveis só foram concretizados por um motivo simples: as pessoas que participam destas iniciativas possuem uma profunda vivência naquilo que apresentam. Ou seja, só existe uma teoria qomualidade, pois ela é praticada dentro e fora das dependências da faculdade.

A 15ª vídeo-aula, da série 2008 da FTU, é simbólica neste sentido. Após uma profunda explanação sobre conceitos metafísicos, por exemplo ao demonstrar a vida através dos Orixás e Ancestrais no mundo sobrenatural e da Natureza e do Homem no mundo natural, Pai Rivas apresenta como estes podem ser aplicados na saúde dos irmãos planetários através de Garrafadas, Rezas, Mandingas e Simpatias. Tudo de forma gratuita! Disponíveis para quem quiser buscar a saúde espiritual, profissional, emocional e material. Não podemos esquecer da explanação de 75 ervas com suas propriedades medicinais e, principalmente, rituais.

E como deixaríamos de lado o Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras? Esta casa espiritual busca na vivência dos ritos de Candomblé de Caboclo, Catimbó, Encantaria, Pajelança, Toré, Xambá, Terekô, Babaçuê, Xangô do Nordeste, Mabassa, Culta ao Exu, além das diversas Escolas Umbandistas, resgatar a essência das Tradições com respeito pelas diferenças.

Finalizando, sobre o movimento oscilatório da Umbanda entre o Centro e a Periferia, gostaríamos de disponibilizar um link onde nossa apresentação poderá ser acessada visando uma melhor compreensão dos conceitos esposados: www.conub.org.br/material/Grafico_Umbanda.pps

E deixa a Gira girar!

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Frutos do I Congresso de Umbanda do Século XXI

É muito comum observamos citações sobre os Congressos de Umbanda que aconteceram ao longo do século passado. De fato, estes eventos são importantes na demonstração das idéias que permeavam importantes comunidades umbandistas daquela época. E um destes sinais de "vida" do movimento umbandista foram dados neste final de semana no I Congresso de Umbanda do Século XXI. Considerando o que falamos dos congressos passados, podemos afirmar que a Umbanda está em um ótimo caminho.

A tônica do Congresso realizado nas dependências da FTU foi a diversidade umbandista e sua aproximação da Academia visando o Saber Popular. Sim meus irmãos. A Umbanda, mais uma vez agindo de forma inclusiva, neutralizou as desigualdades e colocou em pé de igualdade o povo e a elite intelectual do nosso país através de um verdadeiro processo dialético.

Aquilo que parecia impossível foi concretizado pelo movimento umbandista através da FTU: a comunicação efetiva entre os Saberes Acadêmico e Religioso. Através de um clima sincero e fraterno, cientistas e umbandistas sentaram literalmente lado a lado para compartilharem visões profundas da Umbanda, dos Cultos Afro-brasileiros e da própria nação brasileira. A cosmética social saiu de cena e deu lugar para questões essenciais.

Isto sem falar da organização do evento que, de fato, foi impecável. Palavras estas que não foram apenas dos Conselheiros do CONUB presentes, mas dos próprios acadêmicos que participaram ativamente do Congresso. Lembrando que estes mesmos acadêmicos de alto nível como o prof. Dr. Camurça e prof. Dr. Luiz Assunção colocaram-se à disposição da Umbanda para a produção de parcerias entre a Ciência e a Religião. Que notícia alvissareira!

Vale lembrar também que este evento foi muito importante, mas não deixou de acontecer dentro do terreiro! Isto mesmo meus irmãos. O evento aconteceu dentro do santuário da FTU. Nas fotos divulgadas pelo comunicado do CONUB, vocês observarão o carpete azul que serviu para proteger o solo sagrado do terreiro e as telas enormes que velavam o Congá da faculdade. Afinal, o principal evento umbandista do século XXI precisava acontecer no interior de um templo umbandista! Além de todo o exposto, que não representa um décimo do que foi o Congresso, não poderíamos deixar de encerrar este email sem mencionar a equipe de trabalho.

Os voluntários da faculdade (professores, alunos e umbandistas em geral) demonstraram a importância e o resultado de uma verdadeira militância ao transformar todas as dependências do estabelecimento em um lugar adequado para recepcionar um Congresso de tanta relevância para a nossa religião.

Estamos ansiosos para participar do II Congresso de Umbanda do Século XXI que, segundo Pai Rivas, já está marcado para o ano que vem nos dias 13, 14 e 15 de novembro! A comissão organizadora já está formada e caberá a cada um de nós, em nossas respectivas cidades, organizarmos e produzirmos conteúdo para apresentar a este grupo. E deixa a Gira girar!

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Quimeras Economicistas (parte VI)

Paó para ti!

Chegamos na síntese da nossa discussão, passando pela hipótese e antítese.

Quanto a demanda. Ok. Em linhas gerais penso exatamente o que você descreveu considerando a aplicabilidade da "lei" apenas em casos específios, quase sempre distante da realidade humana. Daí eu ter chamado a mesma como assíntota, percebe?

Quanto ao consumo-desejo-necessidade. Perfeito! Minha abordagem foi mostrar que o sofista capitalista utiliza necessidades reais para empurrar produtos através de um falso desejo, tal qual você falou. Em outras situações, o agente capitalista empurra mesmo a oferta e o consumidor compra de qualquer jeito mesmo.

Perceba que em ambos os casos todo mundo sai perdendo mesmo. Como bem lembrado por ti os Economistas poderia utilizar sabiamente as analogias da Ciência Médica afirmando que o modelo vigente é um câncer espiritual e material.

João Luiz

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Quimeras Economicistas (parte V)

Vamos ao terceiro item.

Quanto a "lei da oferta e da procura" e as "religiões afro-brasileiras". O ponto comum entre ambas é que as duas são construções ideológicas. Explico.

A tal lei foi construída ao longo do tempo, substituindo a noção quase religiosa de "mão invisível" de Adam Smith. Esta construção teórica procura justificar o capitalismo como um sistema justo e auto-corretivo - por tender "naturalmente" ao equilíbrio. Esta construção foi se expandindo para além das fronteiras da relação entre produtores e consumidores, abrangendo também salários e lucros, poupança e investimento, entre oferta e demanda por emprego, entre receitas e despesas etc. A construção apoiou-se em duas ciências - a matemática e a fisiologia, que instrumentalizam a noção de igualdade e equilíbrio natural (quem já não ouviu algum economista fazendo analogias médicas ou apelando ao discurso matemático?). É bom que se diga que esta extrapolação da noção de homeostasia - enxertada da fisiologia na economia, é completamente indevida e não tem outro papel que não o ideológico.

Refiro-me a ideologia no sentido de ocultamento do que é real. O aluno de Ciências Econômicas para entender a existência da "lei" precisa aceitar certos pressupostos (aí começa o imbróglio): liberdade, racionalidade, "onisciência" - dos seus desejos, das disponibilidades de mercadorias, de seus preços, dos custos e das vantagens relativas de postergação de consumo, etc., só para falar de alguns aspectos ligados à demanda. Do lado da oferta o raciocínio é mais ou menos similar: onisciência - de todos os custos e disponibilidades de fatores de produção (mão-de-obra, matérias-primas, capital fixo, investimentos, etc.) e ter onisciência das chamadas curvas de preferências do consumidor.

Veja João, estou falando em onisciência - lógico que no curso eles não dizem isto aos alunos, pega mal! Então, é pressuposto que os ditos agentes econômicos "conhecem" o mercado. Mas, e o tal equilíbrio "onipresente" no capitalismo como é justificado? Surge outro problema. Os arautos e "sacerdotes" do capitalismo ficam diante de um dilema tautológico ("síndrome Tostines"): explicar o equilíbrio de mercado pela lei da oferta e demanda e, ao mesmo tempo, explicar a lei da oferta e da demanda pelo equilíbrio de mercado.

Como disse anteriormente, o grande problema de todas as teorias não está normalmente no corpo teórico, mas nos supostos - axiomas, paradigmas e dogmas. A suposta liberdade, "onisciência", racionalidade econômica e equilíbrio não são verificáveis, não são fatos, mas pressupostos. Daí a ideologia.

Tirando os véus da ideologia, você teria que dizer que no sistema capitalista a "lei" não é do equilíbrio, mas é a o do mais forte, mas isso não é palatável, não oculta, revela o cerne da realidade. Mas quem é que tem interesse na realidade?

Não existe demanda ou oferta que se equilibram, existe o poder de pessoas ou de grupos (empresas, instituições, classes, partidos, países, blocos econômicos etc.) operando por persuasão, dissuasão ou por imposição, construindo e desconstruindo valores a partir do desejo (que é a tentativa de preencher a "sensação" de vazio).

No seu exemplo: você não desejou o telefone, o seu desejo era de comunicar-se. Se fosse possível fazê-lo telepaticamente você ficaria satisfeito, mas quem iria ganhar com isso? Não só economicamente, mas inclusive em termos de prestígio social.

Há uma questão essencial no poder - a sujeição ou dependência. Veja, o telefone não foi "empurrado", mas se impondo magicamente e você adquiriu um com a impressão de que o teria desejado - eis o mecanismo da ideologia, nada parece "empurrado" mas desejado. O desejo de se comunicar se transfigurou num aparelho. Um telefone que precisa ser comprado, validado, carregado de créditos, trocado por modelos que aparentam "status" - com agenda, mp3, mp4, televisão e máquina fotográfica, com acesso rápido à internet, num sem fim de recursos para atender um sem fim de "desejos". Espectros inicialmente produzidos pela "usina" do inconsciente, mas que o capitalismo exponencial e dá-lhe figuração própria "adesivando-os" momentaneamente em objetos criados e recriados continuamente (daí sua especificidade). O capitalismo é voraz e autofágico, precisa expandir continuamente o consumo (não interessa uma demanda de crescimento vegetativa), criar novas necessidade, novos desejos - eis o motor e "mola" do sistema. Neste sentido a "oferta" cria a demanda e não o contrário.


Aratish

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Quimeras Economicistas (parte IV)

Vamos aos conceitos trazidos por ti.

1) Concordo. Equilíbrio de mercado não pode existir enquanto os players são orientados ao acúmulo de riquezas. Esse pensamento é um verdadeiro câncer no sistema econômico mundial.

2) A questão é que aplicaram às teorias econômicas uma lógica matemática superficial. Deixaram de lado os conceitos mais cósmicos em detrimento de resultados imediatos. Coloca-se tudo aquilo que é Imanifesto dentro dos famosos "y = f (x)" e fica por isso mesmo... Dito de outra forma, fomentam a racionalização do homem com meios e justificativas irracionais. Cadê a tão propalada lógica de Mercado?

3) Concordo e discordo de você nesse item meu caro. Tentarei ser mais específico. Se analisarmos ipsi literi os conceitos "religiões afro-brasileiras" e "lei da oferta e da procura" certamente nada ou quase nada seriam úteis. Porém, na prática, esses conceitos são aplicáveis em casos específicos. Não vou enveredar pela questão "afro-brasileira" para não correr o risco de sair do cerne da temática.

Observe que para a "lei da oferta e da procura" ter aplicação, devemos imaginar um mundo regido por um modelo grotescamente construído de equações aritméticas. Também deveríamos partir da premissa que toda a humanidade é egocêntrica e, na dúvida, sempre optará pela vantagem individual frente ao modelo competitivo vigente. Mais do que isso, para ser uma "lei" de fato deveria ser comprovado em quase todos os casos com exceções raríssimas o que justificaria que a "lei" é de fato. Certo?

No entanto, observamos que em alguns setores essas premissas são comprováveis. Não existe um pensamento maquiavélico por parte da minoria detentora do Poder Político e Econômico? Esses mesmos ególatras não utilizam a publicidade, propaganda e outros artefatos mercadológicos objetivando incutir na Sociedade o pensar, sentir e consumir de forma geométrica e até mesmo exponencial? Nessa realidade as contra-ideologias, como a própria Umbanda, não são exceções da mediocridade do pensamento capitalista?

Por isso que a lei da oferta e da procura foi justificada naqueles exemplos trazidos por mim. Podemos afirmar que essa "lei" funciona como assíntotas da realidade humana, entende?

Sobre a questão do desejo. Concordo com você, apenas vou ampliar a discussão. Antes de existir o telefone eu não o desejava, mas queria poder me comunicar com certas pessoas a qualquer tempo e hora. O que quero afirmar com isso? Que apesar da necessidade de consumo existir por fatores exógenos à minha vontade, a demanda essencial (comunicação com os outros) não foi "empurrada" para mim. Eu queria efetivamente isso.

Acontece que o "agente mercantilista" capta essas necessidades "verdadeiras" e cria uma gama de produtos e serviços que atendam, ampliem e desdobrem essas e outras necessidades ilusórias que aumentam a demanda essencial e, conseqüentemente, a cadeia de produção. Pronto! Está criado o círculo virtuoso, considerando apenas o material, e o vicioso, partindo da visão espiritual.

Pior do que criar necessidade é basear-se em uma real necessidade para iludir o homem. O sofismo foi aplicado ao ganho de capital e deu $$$.

4) O equilíbrio, a racionalidade surgirá na justa medida que todos os valores humanos são trabalhados em sua Ordem natural. Definitivamente o modelo atual não só impossibilita como inverte essa que, para mim, é uma condição sine qua non.

João Luiz

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Quimeras Economicistas (parte III)

Aranauam João,

Perfeito, acrescentaria:

1) O tal equilíbrio de mercado na concorrência perfeita é isso: fábula. Nunca existiu. Não passa de uma formulação ideológica. É contrária à lógica da acumulação.(daí meu questionamento sobre um suposto ideal de justiça embutido na idéia do equilíbrio de mercado capitalista)

2) A ideologia (velamento/ocultação) sempre se manifesta debaixo da roupagem dos axiomas, paradigmas, leis e dogmas. O discurso economicista parte de uma racionalidade dos agentes econômicos (produtor e consumidor) que não existe , de um modelo de concorrência que não existe, de um mercado que não existe e de um homem igualmente inexistente (racional, onisciente do mercado, livre em suas escolhas e eficiente no uso de sua renda e de seu capital, sabe encontrar o ponto de equilíbrio perfeito nas suas e em outras curvas de indiferença).

Formulam-se doutrinas, planos e políticas a partir de uma ilusão e vendem-se assim receitas, entregam-se prêmios (até Nobel) e cargos aos formuladores destes devaneios, que de tão longe da realidade parecem mais delírios esquizóides. Neste "mundo de Alice" alguns economistas são contratados a peso de ouro por empresários, especuladores e governos, mas ao fazerem seus vaticínios espertamente não esquecem do bordão acadêmico: "ceteris paribus".

Incrível é o desprezo dos economistas para a com a Religião. Justo eles que vivem de vender crenças!

3)Para mim, do mesmo jeito que não existem religiões afro-brasileiras, não existe também a dita "lei da oferta e da procura" - pura ficção.

Antes do celular existir eu não desejava o celular, antes do autorama existir eu nem sonhava com ele, o mesmo para o jeans, para a "calça rancheira" (antecessora do jeans), as "havaianas", para a "baguete" que substituiu a "bengala"... tudo isso se impôs ao tal mercado: cadê a tal da "demanda", o "rei do mercado" (consumidor)?

4) Onde fica a poluição, a brutal taxa de desemprego, a produção para o desperdício e obsolecência programada, a indústria de armas, a fome, a assimetria econômica entre classes e países... cadê o equilíbrio, a racionalidade?

Aratish

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Quimeras Economicistas (parte II)

Aratish. Suas palavras foram muito precisas. Gostaria de desdobrar alguns pontos importantes.

Sobre o equilíbrio de mercado. O modelo de concorrência perfeita diminui a taxa de lucro. Isso significa aumentar o custo de oportunidade e, naturalmente, diminui o dinheiro no bolso do acionista. Conclusão? Equilíbrio de mercado fomentando pela livre concorrência, ou mesmo subsidiado pelo Governo, é tudo que o modelo capitalista não quer!

A questão de cada um buscar maximizar o lucro em se tratando de Mercado é regida pela velha Lei de Oferta e Demanda. Partindo dessa premissa temos no acionista um ator econômico que sempre colocará seus recursos em produtos com maior demanda e retirará o capital dos produtos com muita oferta.

De uma maneira rudimentar podemos afirmar que - dentro do conceito de maximização do lucro - vale a pena fomentar a miséria em alguns pontos do orbe para abastecer países com maior demanda por comida. O momento atual da economia mundial e o aumento exponencial dos preços dos alimentos é uma prova cabal. Para os países miseráveis utiliza-se uma falsa "responsabilidade social" onde o Poder Econômico cria programas de capacitação profissional adequados as suas necessidade (você nunca
viu algum programa técnico para formação de teólogo, não é mesmo?) que entregam trabalhadores padronizados com baixo custo. Não podemos esquecer as ações emergenciais que mantém a comunidade local adormecida frente ao caos social visando exclusivamente permanecerem inalteradas as Operações destas mesmas empresas naquela região.

Falamos de Demanda, mas vamos exemplificar Oferta também. Os investimentos estruturais em educação e saúde para a população como um todo possuem muita procura na figura do Estado. O custo do investimento, TIR, PayBack Descontado e outros indicadores econômico-financeiros inviabilizam o "investimento social". O paliativo é explorar o atendimento dessas demandas apenas para os setores lucrativos, leia-se classe "A". Surgem os planos de saúde extremamente caros, hospitais "top", escolas que criam "alunos padrão" em escala industrial...

As duas grandes guerras mundiais não salvaram o sistema. Ao contrário, criaram uma "promissória" mundial que está para ser liquidada a qualquer momento. Esqueceram que ao desequilibrar o Meio Ambiente, no sentindo latu da expressão, construíram um buraco negro social que tende a crescer na exata proporção da ação nefasta do capitalismo selvagem. O "11 de setembro", as doenças "inéditas", os genocidas suicidas e tantos outros "agentes neo-sociais" são exemplo disso.

Por isso que escrevemos agora e observamos no seu último texto, estamos convictos que um sistema baseado na inversão de valores espirituais e no lucro nunca permitirá o equilíbrio do homem com ele mesmo e, naturalmente, com a própria sociedade.


João Luiz

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Quimeras Economicistas (parte I)

Existe Equilíbrio de Mercado?

O tal equilíbrio de mercado é uma criação ideológica que remonta a noção de "mão-invisível" criado por Adam Smith (cônego presbiteriano), que defendeu a classe emergente ligada ao comércio que se fazia representar na Câmara dos Comuns Inglesa, contra os privilégios dos Lordes e do Rei Inglês. Por ser, na origem, um conceito quase religioso foi paulatinamente substituído pela idéia de mercado "homeostático" (de homeostasia corporal), que tendia naturalmente ao equilíbrio. Este equilíbrio só era obtido se cada um dos agentes econômicos buscasse maximizar o lucro (self-interest), dito de outra forma, o cônego em questão advogava a mais incrível contradição: os homens dando vazão ao seu egoísmo e competindo entre si, produziriam o melhor para a sociedade: a riqueza das nações.


A "mola" do sistema é o lucro (egoísmo) e não o mercado (conseqüência).

O sistema capitalista não foi teorizado e depois inventado - uma boa teoria que se maculou em má prática. O sistema foi se constituindo e, ao mesmo tempo, surgiram teorias em sua defesa e umas poucas para criticá-lo. A concorrência perfeita - paraíso da econometria e dos discursos ideológicos mostrou-se pouco aplicável. A quimera mutante capitalista se impunha aos inebriantes sonhos de perfeição teórica – constituíam-se oligopólios, cartéis, monopólios, monopsônios, etc. Longe do equilíbrio, o “Leviatã” capitalista vive crises cíclicas. O tão decantado equilíbrio fez-se flôr-do-vento - inflação, hiperinflação, sub-emprego, desemprego em massa, trabalho semi-escravo, má distribuição de renda, miséria e desperdício. O "crack" da Bolsa de Nova York foi sintomático e não à toa surgiram as políticas intervencionistas (dos Estados nas economias) e salvacionistas para o capitalismo autofágico. Onde estaria o equilíbrio de mercado?


As duas grandes guerras mundiais e as guerras posteriores salvaram o sistema (do egoísmo), mas a que preço? O eixo capitalista desloca-se de continente, europa para o USA.


A frase o "equilíbrio de mercado é uma forma de igualdade no pensamento capitalista" supõe que a plutocracia produz justiça social. Será possível o impossível? Lembro-me do Sr. Delfim Neto, economista da ditadura propor que a economia era como um bolo, precisava primeiro crescer para depois ser dividido. Como qualquer economista ele sabia que o "bolo" nasce dividido entre salários e lucros, qual seria então a motivação daquele discurso?


A observação atenta e isenta dos fatos da realidade e da trajetória histórica do capitalismo leva-nos a conclusão inexorável de que o equilíbrio de mercado é uma peça ideológica forjada para ocultar os desequilíbrios que o sistema capitalista cria. O equilíbrio e a “homeostasia” capitalista não passam de ficção, ideologia com o intento de justificar o sistema de competição selvagem, da apropriação privada da riqueza social (lucro) e manutenção do "status quo" - da riqueza de poucos se fazer pela miséria de muitos.


Em resumo, o paradigma básico do sistema não mudou, continua sendo o lucro (apropriação privada da riqueza coletiva, ou seja, egoísmo institucionalizado). Os desequilíbrios econômicos e ambientais, as assimetrias sociais e culturais não condizem com alguma noção de igualdade ou de equilíbrio, concorda?


Aratish

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Tolerância já não basta, precisamos Viver as Diferenças

Após assistir a 1ª parte do vídeo sobre o Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras, conversarmos com Pai Rivas por telefone sobre o assunto e esse contato permitiu desdobramentos interessantes dos quais gostaria de dividir e dar continuidade nas listas.

Todo o trabalho do Centro de Cultura Viva é fruto direto da percepção da humanidade como uma realidade plural em todos os seus sentidos. As afinidades espirituais e materiais, suas relações sociais, suas histórias definem como as comunidades se formam e habitam os dois lados da vida. Assim, para o Centro de Cultura Viva reunir a Pajelança, Caatimbó, Toré, Encantaria, Terekô, Mabassa e tantos outros elementos ligados a Tradição Afro-brasileira é necessário refletir sobre o convívio pacífico de todos.

Para ajudar essa reflexão, Pai Rivas lembra que não é de hoje que temos no conceito de "Tolerância com as Diferenças" uma referência para a busca da Paz em seus diversos e complementares aspectos. Todavia só ela não é suficiente para atender nossa necessidade coletiva de harmonia, equilíbrio e estabilidade seja espiritual ou material.

Assim Pai Rivas identifica três níveis de compreensão sobre o assunto.

Androgônico. Tolerar a Diferença. Cabe ao indivíduo entender e admitir o outro com seu arcabouço de pensamentos, sentimentos e ações. É uma percepção positiva.

Cosmogônico. Respeitar a Diferença. Mais do que tolerar, o indivíduo compreende que o conjunto pensamento/sentimento/ação do outro faz parte da diversidade humana e do ângulo de interpretação de cada um. Encontramos a percepção relativa.

Teogônico. Viver a Diferença. Nesse estágio, o indivíduo se integra harmonicamente à pluralidade sem perder suas características ou, dito de uma outra forma, reforçando o elo pelas semelhanças. Estamos falando de uma percepção superlativa.

Essa visão didática também demonstra que os níveis androgônico e cosmogônico estão mais relacionados ao "estar" tolerante e respeitoso. São condições passíveis de mudança a qualquer momento. Já o nível teogônico se relaciona ao "ser", pois afinal viver é algo inerente ao Espírito.

Quando citamos as diferenças, não nos referimos as desigualdades. A "diferença" nos leva a pensar em elementos dentro de um mesmo plano. A "desigualdade" remete elementos em planos diferentes. Pai Rivas exemplifica através das cores. Dizer que o azul não é igual ao amarelo demonstra uma diferença. Afirmar que o azul é melhor que o amarelo incita a desigualdade.

Uma outra forma de entender o conceito é observar que a Diferença gera Diversidades e a Desigualdade gera Adversidades.

Talvez alguns irmãos listeiros estranhem esses conceitos. Podem até mesmo vir a perguntar se Pai Rivas está se contradizendo, pois até ontem defendia com segurança o conceito de Tolerância com as Diferenças.

Com naturalidade respondemos que estas palavras estão complementando o entendimento inicial. Não é a toa que Pai Rivas afirma para seus filhos espirituais pararem de ouvi-lo no dia que ele começar a repetir as mesmas coisas. Afinal, a Umbanda é uma Unidade Aberta e em constante construção.