Aranauan, Saravá, Axé!
A Faculdade de Teologia Umbandista(FTU) possui três frentes de atuação importantes para todos nós das Religiões Afro-brasileiras: ensino de excelência, pesquisa de ponta e levar a academia para as ruas através do diálogo. Se a faculdade ficasse apenas na academia, isto por si só já representaria uma ganho coletivo enorme. Porém a faculdade extrapola indo à rua tal qual Exu para promover a inclusão real e total. Isto trouxe e está trazendo benefícios significativos.
Um destes é refutar a codificação. Os irmãos que concordavam com esta abordagem, encontraram na visão crítica da FTU um ponto de apoio importante. Hoje este tema é facilmente resolvido com lógica e bom senso. Por este justo motivo muitos que eram contra já não conseguem apresentar isto publicamente, porém ainda existem focos ideológicos que não podemos olvidar e nossa posição a favor das Escolas, a favor da diversidade e, portanto, contrário à codificação estará sempre presente no nosso diálogo.
Não adianta olhar a história e evocar trechos de livros de autores ou eventos no passado que utilizaram a palavra codificação para sustentar esta ideologia. Se houvesse uma preocupação acadêmica, o autor deveria ter seu pensamento invocado na íntegra, considerando os problemas da época, enfim o contexto que foi apresentado à sociedade. Mesmo que não exista esta preocupação, surge algo muito mais sério.
O decoro umbandista ou das religiões afro-brasileiras pede que ao citarem nossos ancestrais avoengos em sua literatura ou ações na comunidade o façam com zelo, atenção e consciência dos objetivos que terreiro e mesmo a Escola dos mesmos possuíam como base para este ou aquele posicionamento. Sendo assim citar trechos isolados são apetrechos para quem não sabe mais como sustentar uma posição difícil que é a da codificação, pois vai de encontro com a harmonia entre as Escolas.
Dentro deste exemplo, utilizemos uma aplicação prática. Pai Matta e Silva (Mestre Yapacany) apresentou várias ideias que marcaram época e que ainda estão em pleno vigor. Pois bem, sobre a codificação nos termos que ora discutimos é óbvio que ele foi contra. Quando citava a palavra codificação, falava do que vem do Astral para os homens e isto é ponto pacífico. Mas não basta fazer uma interpretação das palavras, por mais claras e objetivas que são as esposadas na obra do referido autor. É importante ir à campo e conversando com o seu legítimo sucessor Pai Rivas (Mestre Arhapiagha), o mesmo reforça o exposto acrescentando que àqueles que buscam uma codificação entre os homens querem tomar para si a função do Astral.
Os irmãos agora devem entender porque é importante, para quem pretende fazer teologia de forma séria, cursar uma faculdade regulamentada pelo MEC (Ministério da Educação). Aprender a formular uma correta hipótese, realizar uma investigação do seu objeto de estudo com clareza, pesquisar provas e contraprovas para enfim dar publicidade sobre os resultados do trabalho ratificando ou retificando as possíveis respostas do problema inicial. Isto é básico para a academia, mas pelo incrível que isto possa parecer existe material que é publicado com notas referenciais, algumas erradas inclusive, e "boom": divulga o mesmo como conteúdo teológico. Pior, seus autores carregam o nome da Sagrada Corrente Astral de Umbanda.
Sinceramente existem assuntos que circulam na internet que não são apenas incipientes, mas insipientes com "s" mesmo. Alguém ainda acha ser possível fazer o povo do santo de bobo ou folk? Não se sustenta mais uma posição codificadora diante da conscientização que todos nós das religiões afro-brasileiras temos sobre a importância do respeito às diferenças.
A FTU trabalha esta visão plural para que exista reconhecimento não só na academia, mas também dos adeptos das religiões afro-brasileiras. Temos no site da faculdade (www.ftu.edu.br), blog Espiritualidade e Ciência (espiritualidadeciencia.wordpress.com), canal do Youtube (http://www.youtube.com/pairivas), o mais recente livro do Pai Rivas "Espiritualidade e Ciência na Teologia das Religiões Afro-brasileiras", entre outros materiais de qualidade que buscam socializar os saberes e fazeres com diálogo e alteridade.
Nas vídeo-conferências, como exemplo de pesquisa da FTU, conhecemos o trabalho de sacerdotes de todos os estados da federação, mais Argentina, Uruguai e até mesmo Portugal. Além disso, a faculdade mantém contato com dirigentes de outros lugares do mundo e, dentro de pouquíssimo tempo, esta vasta pesquisa de campo será disponibilizada para todos os internautas em seu site de forma gratuita.
Como diz Pai Rivas, não basta falar ou fazer é preciso também viver e ser. A FTU não tem um discurso vazio ou com viés ideológico, ela expressa em ações as suas ideias. É por isso que afirmamos tratar de uma prática teorizada e teoria prática interdependente.
Como pesquisador acadêmico e, principalmente, religioso me sinto realizado ao saber que em pleno século XXI temos uma faculdade de teologia com ênfase nas religiões afro-brasileiras autorizada e credenciada pelo MEC que contempla na sua grade curricular aulas e vivências que contemplam todas as Escolas, sem exclusão. Esta postura de vanguarda foi coroada com a diplomação dos primeiros teólogos do mundo considerando a chancela da USP dada ao documento. Isto é maravilhoso!
Qualquer colega sério que pesquisa não pode olvidar este fato histórico e igualmente os conceitos que estão influenciando positivamente o cidadão religioso afro-brasileiro. Neste caso, ir contra os fatos é academicamente inadmissível e religiosamente antiético.
Saravá, Axé!
João Luiz Carneiro (Yabauara)
Doutorando em Ciências da Religião e Mestre em Filosofia
Discípulo de Pai Rivas (Mestre Arhapiagha)
Ps: Não citei outras formações acadêmicas, pois estas não fazem menção direta ao objeto de estudo aqui discutido. Só citamos a titulação quando a mesma é condizente ao assunto abordado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário