terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Teologia, Ciências da Religião e Religião: esclarecimentos importantes

Aranauan, Saravá meus irmãos planetários,

 

Em nossa lista de discussão na internet e nos vários fóruns temos divulgado as ideias da Faculdade de Teologia Umbandista, única instituição na sociedade planetária que forma teólogos com ênfase nas religiões afro-brasileiras. Porém, nem sempre encontramos na internet fontes confiáveis. Ela é como um papel em branco: não escolhe, apenas recebe o que a pena do autor escreve. A responsabilidade de divulgar erros sobre o tema recai sobre eles. Por isso ainda lemos muito confusão sobre teologia, religião e ciências da religião. 

Não sou aluno da FTU, mas tenho pesquisado muito sobre teologia na condição de filho espiritual do sacerdote há mais de quatro décadas que fundou a primeira e única instituição do mundo que forma teólogos umbandistas com legitimidade espiritual, social e cultural. Também sou pesquisador, nível de doutorado, em Ciências da Religião que auxilia a discussão ora iniciada.

Teologia não é religião. Frases do tipo: "quem fala sobre religião fala sobre teologia" ou "explicar sua religião é teologia" demonstra esta falsa ideia de igualdade. Se no sentido geral não faz sentido estas sentenças, todos as suas aplicações fazem menos ainda. Logo, é um erro crasso considerar que quem pesquisa as religiões afro-brasileiras está pesquisando teologia das religiões afro-brasileiras. Vide os autores da sociologia, antropologia, história das religiões afro-brasileiras que nunca se enveredaram a fazer teologia, quando muito evocar a sua importância. Claro que nos referimos aos sérios pesquisadores.

 

A teologia tem como objeto de compreensão a religião, aplicando o senso crítico. Faz uso de critérios éticos e metodológicos consistentes. Logo a teologia atua na religião e está afeita ao discurso acadêmico. Tanto é verdade que todos os cursos de teologia reconhecidos no país são oferecidos por instituições de ensino superior (IES) e só podem emitir diplomas se aprovados nos processos regulatórios do MEC (Ministério da Educação). Por vontade dos nossos Ancestrais e pioneirismo do Pai Rivas hoje podemos todos nós das Escolas umbandistas/afro-brasileiras afirmar com satisfação: temos uma faculdade de teologia que respeita nossa fé e valoriza a nossa visão de mundo em isonomia com as demais confissões religiosas.

 

A teologia, sempre utilizando o senso crítico, parte do seio da religião que se interessa e ruma para o diálogo com as demais religiões e até mesmo outros pilares do conhecimento humano. Já a Ciência da Religião parte das várias disciplinas das Ciências Humanas, Filosofia e disciplinas afins para compreender o fenômeno religioso caminhando para "dentro" da linguagem religiosa específica de seu interesse.

Sabemos que existem muitas correntes de pensamento que ora colocam ambas as disciplinas em oposição, ora como apêndice uma da outra. Somos favoráveis ao pensamento de R. Otto, N. Söderblom e F. Heiler tão bem lembrando por Klaus Hock quando consideram as Ciências da Religião e Teologia como buscadores do sentido e da essência da religião, portanto possuem um ponto comum facilitador do diálogo com respeito mútuo. Aprofundando este raciocínio, encontramos a contribuição do Pai Rivas quando insere o conceito de Espiritualidade. Para maiores detalhes sugerimos a leitura do texto resenha disponível em: http://sacerdotemedico.blogspot.com/2010/02/resenha-dos-textos-postados.html

 

No curso de teologia, nível bacharelado, o aluno aprenderá na FTU disciplinas importantes para a reflexão crítica, além de conhecer os princípios que permeiam as várias escolas das religiões afro-brasileiras, bem como exercitar o contato com outras visões de mundo. Por esta proposta pacífica, não promovemos concorrência com nenhuma outra forma de compreender o sagrado, muito menos colocamos o nosso curso como o mais importante da Umbanda. Pelo contrário, nela aprendemos a respeitar e valorizar não este ou aquele grupo, mas o sacerdócio no terreiro independente da Escola que professa. Apenas pelo sacerdote dentro do terreiro é possível a transmissão da linhagem que garante a perpetuação da Tradição Oral.

PS: Para compreender o conceito de Escolas remetemos a publicação esclarecedora Escolas Umbandistas: As neutralizadoras do fundamentalismo endógeno. Vejamos um trecho paradigmático:

"O Princípio da Convergência explica o conceito de Escolas Umbandistas e da promoção de projetos de união, paz e concórdia entre as Religiões Afro-Brasileiras. O respeito é incondicional às diferenças das Escolas que são simples ângulos de interpretação diferentes da mesma verdade (essência). Sumarizemos e simplifiquemos as características das Escolas Umbandistas: a. Não valorizam uma só Escola; b. Não desvalorizam nenhuma; c. Contemplam ou valorizam todas(...)"

 

Leia na íntegra em: http://sacerdotemedico.blogspot.com/2011/01/escolas-umbandistas-as-neutralizadoras.html.


Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

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