Aranauan, Saravá, Axé,
Bem, sobre as discussões recentes, percebi que um grupo de pessoas não optou pela união. Pior, continuou faltando com a verdade evocando físicos renomados para legitimar um conjunto de conceitos que não tem sentido para um aluno do ensino primário, quiçá para a física quântica.
Alertamos que o castelo era de cartas e tinha desmoronado não só desta vez, mas em outra circunstância que o nosso interlocutor novamente faltou com a verdade e tergiversou nas questões críticas.
Como disse anteriormente, sempre que algum conceito que vá contra a minha ou qualquer Escola apareça, imediatamente me posicionarei. Com tranquilidade, serenidade, coerência e bom senso. Fora isto, nada a declarar. Não estamos na terra para perder tempo, mas sim fazer amigos. Já dizia o Exu Sr ... . Laroyê!
Então gostaria de encerrar este texto trazendo coisas boas, assuntos que nos beneficiam verdadeiramente. Gostaria de transcrever o Manifesto dos Teólogos com ênfase nas Religiões Afro-brasileiras para mostrar o que é uma formação acadêmica de fato, uma vivência de quatro anos com disciplinas das mais variadas e a força da teologia das religiões Afro-brasileiras. Como todos nós que estamos em São Paulo ou não, que fizemos o curso ou não somos igualmente beneficiados.
Este manifesto pode ser lido também no sítio: http://sacerdotemedico.blogspot.com/2011/02/manifesto-dos-teologos-com-enfase-nas.html
Boa leitura e reflexão!
Manifesto dos Teólogos com ênfase nas Religiões Afro-brasileiras
À Sociedade Civil,
1. Quem somos
1.1 Antes de iniciar este diálogo, gostaríamos de nos apresentar. Somos formados em teologia com ênfase nas Religiões Afro-brasileiras pela FTU – Faculdade de Teologia Umbandista, uma instituição de ensino superior credenciada e autorizada pelo MEC (Ministério da Educação) por meio da portaria 3864 de 18 de dezembro de 2003. Esta formação é única na história da Teologia brasileira e também no cenário mundial.
1.2 Aproveitamos este manifesto para agradecer publicamente ao Governo Federal e ao Ministério de Educação pela sensibilidade e apoio no processo de isonomia da teologia no campo acadêmico brasileiro.
1.3 Nossa formação se deu ao longo de quatro anos, com aulas de segunda à sextas-feiras no período noturno. Durante este período cursamos as disciplinas das mais variadas tendo como foco a compreensão teológica do pensamento humano em sua rica diversidade.
1.4 Ainda sobre a diversidade, esta necessidade decorre da realidade das Religiões Afro-brasileiras. Seu gradiente de cosmovisões recebe influências das matrizes formadoras do Brasil que são o ameríndio, indo-europeu e africano, bem como de todo o processo de miscigenação cultural-religiosa decorrente destas aproximações em solo brasileiro.
1.5 Na diversidade destas mesmas religiões é possível verificar como ela se estabelece com naturalidade. Esta naturalidade nos estimula a olhar o Outro, como um outro real e que precisa ser respeitado em todas as suas características. Logo, quando dialogamos com teologias que possuem ênfase em outras confessionalidades ou outros setores da sociedade nos colocamos em uma posição distanciada de objetivos homogeneizantes ou pretensões de qualquer tipo de hegemonia, que geram inevitavelmente conflitos, pelo contrário, entendemos a diversidade como necessária e de caráter complementar.
1.6 Pelas profundas contribuições de várias culturas ancestrais, aprendemos uma visão não apenas ocidental de mundo,mas multirreferencial, policêntrica que expressa o pensar das Religiões Afro-brasileiras.
1.7 Este pensar teológico baseado em tradições avoengas nos permitem uma abordagem paradigmática da cultura e religiosidade brasileira. Compreender e levar à sociedade esta abordagem é fundamental para exercer a função social e científica na qual fomos formados.
1.8 Além da pesquisa acadêmica, somos capacitados para trabalhar em equipes multifuncionais. Lidamos com o diferente sem criar relação de desigualdade, entendemos que o Outro possui uma visão específica sobre um assunto que pode ser diferente da nossa. Contudo, o objeto é o mesmo e, se trabalhado adequadamente, as aparentes diferenças podem ser o início de um processo de aprendizado intersubjetivo.
2. Interação com a Sociedade
2.1 Uma vez formados em teologia com ênfase nas religiões afro-brasileiras, como apresentado no primeiro item, assumimos a responsabilidade de levar estas ideias à sociedade civil como um todo, bem como seus órgãos representativos, por meio do diálogo.
2.2 Concomitantemente a esta iniciativa, apresentamos o início de pesquisas acadêmicas sistematizadas em Teologia com ênfase nas Religiões Afro-brasileiras, considerando este novo paradigma e a realidade na qual elas estão inseridas. Com estas pesquisas em diálogo constante com a sociedade poderemos oferecer melhores condições para que a sociedade brasileira conheça melhor as Religiões Afro-brasileiras e, ao mesmo tempo, receber dela contribuições para que estas pesquisas produzam uma unidade de conhecimento aberta, por tanto, dinâmica.
2.3 Em um primeiro momento dialogaremos por meio de um Instituto de Estudos e Pesquisas em Teologia a ser criado pela FTU onde teólogos das mais diferentes confissões do nosso país poderão apresentar e pesquisar temas de interesse coletivo, em conjunto conosco. Em um segundo momento, ampliaremos este plano de trabalho para demais áreas do saber acadêmico que se interessem por esta proposta e, finalmente, no terceiro momento com todas as áreas da gnose humana - Religião, Filosofia, Ciência e Arte.
2.4 Como o diálogo está no cerne desta relação que ora pretendemos estabelecer, naturalmente, os seus frutos podem e deverão ser pacíficos. A cultura de paz e a convivência pacífica se tornam possíveis na justa medida em que apresentamos uma nova cosmovisão, porém sem querer se sobrepor ou ser sobrepujada pelas existentes. Queremos e podemos dialogar entendendo a visão do Outro e aprendendo mutuamente de tal forma que gradativamente este "Eu" e "Ele" se torne "Nós", sem desigualdades ou exclusão.
3. Comunidades das Religiões Afro-brasileiras
3.1 Os adeptos das Religiões Afro-brasileiras historicamente sofreram, muitos ainda sofrem, um distanciamento das esferas de ação do poder público, do acesso à educação e saúde. Esta é uma realidade que tem melhorada sensivelmente nos últimos anos, porém ainda persiste.
3.2 O advento da FTU marca um avanço significativo na história das Religiões Afro-brasileiras para colaborar com o poder público na transformação desta realidade. Afinal foi por ela que nós somos hoje os primeiros teólogos com ênfase nestas religiões no mundo, condição esta que coloca os adeptos das Religiões Afro-brasileiras em situação de isonomia com as demais confissões religiosas.
3.3 A FTU nos mostrou como podemos utilizar a Teologia e a Educação para fomentar a Inclusão Total, respeitando-se as diversidades de culto e – concomitantemente – valorizando as suas semelhanças de essência. Em nossa pesquisa e discussão pública desenvolveremos estas perspectivas de estudo sistematizado.
3.4 No que diz respeito à pesquisa acadêmica, somos sabedores da existência de várias áreas que se interessam pelas Religiões Afro-brasileiras. Citamos a História, Antropologia, Sociologia, Etnobotânica, Ciências da Religião, Psicologia, entre outras. No exato momento em que apresentamos um estudo sistematizado teológico abrimos possibilidade ao religioso e ao cidadão em acessar um conteúdo de nível que contempla uma episteme"desde dentro", ou seja, que não o observa apenas como objeto, mas como sujeito construtor desta realidade.
Com esta formação teológica, temos perspectivas de ação em conjunto com a sociedade civil e com a comunidade das Religiões Afro-brasileiras, almejando o início de um profícuo projeto de Cultura de Paz. Podemos dialogar em favor da humanidade sem exclusões, construindo pontes que neutralizam as desigualdades, respeitam as diferenças e valorizam as suas semelhanças.
Maria Elise Rivas
Teóloga com ênfase nas Religiões Afro-brasileiras
Representante da Comissão dos primeiros Teólogos com Ênfase nas Religiões Afro-brasileiras que assinam este manifesto
Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
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