Aranauan, Saravá, Axé!
Diante dos fatos, pedimos calma. Não adianta atacar, muito menos colocar as ideias de forma jocosa e ofensiva, pois estou calcando minhas colocações nos fatos, na lógica e no bom senso. Como religioso e pesquisador acadêmico das Religiões Afro-brasileiras sinto-me no dever, eu mesmo, de discutir os assuntos pertinentes a nossa religião e eventualmente criticar quando achar necessário para o bem das Escolas. Não podemos mais vivenciar estes ataques que lembram a lógica da escravidão e do domínio ideológico onde os senhores de engenho empurravam a maioria da população para a periferia social, multiplicando miseráveis, mantendo o status quo.
Esclarecido estes pontos importantes vamos aos fatos. Encontramos na obra de Rubens Saraceni uma perspectiva claramente codificadora e, mais, homogeneizante. Se assim não o fosse, não teria escrito o que escreveu. Seus asseclas, em especial o Cumino, também seguiram o mesmo rumo a ponto de explicitar, em que ponto chega o non sense, que não publicou em um material que se diz falar história da Umbanda um autor chave, sacerdote renomado porque "não lhe agrada", por interesse pessoal. Numa postura claramente codificadora também, ou seja, só faz parte da história quem ele assim julga. Pior, estimulado pelo próprio Saraceni. Já irei retomar a desconstrução ideológica do autor, que por consequência direta pega todos os seus ministradores de curso e congêneres, mas vamos rever os fatos.
Primeiro foram os cursos de sacerdócio e mediunidade. Diante da nossa ampla defesa das Escolas, ficou praticamente impensável pagar um curso de mediunidade ou mesmo sacerdócio vocacional (que dispensa mediunidade) distante do terreiro seguindo os erros crassos acadêmicos e da tradição religiosa da dita umbanda "natural" ou "sagrada". Restou apelar para ninguém, ninguém menos que Zélio Fernandino de Moraes e sua linhagem. Porém apresentamos fatos (inclusive registros em vídeos incontestes) que nunca esta casa espiritual e seus dirigentes fizeram médiuns ou sacerdotes em cursos. Neste ponto, lembramos que ficou constatado ser o "santo de barro".
Depois foi curso livre de "teologia". Enquanto não existia nenhuma instituição regulamentada pelo MEC que sustentasse a formação teológica, a posição comercial do Saraceni e seus filhos ministradores do curso estava confortável. Até elogiou quem promoveu a única iniciativa de regulamentação ao referido órgão. Foi só sair a autorização e credenciamento que tudo mudou. Agora no final do ano passado quando os primeiros teólogos se formaram então... É por isso que atacam o curso de bacharelado de teologia. Não foram eles que fizeram e não tem condições de fazer um. Neste instante o "santo era de barro e caiu".
Mais ainda existia o mercado literário como fuga. Dada a importância que nosso Pai Espiritual investiu em causas coletivas como a faculdade, o Centro de Cultura Viva das Tradições Afro-brasileiras e canais digitais de difusão sobre Religiões Afro-brasileiras e suas Escolas, outros focos foram priorizados. Agora com a publicação do livro "Espiritualidade e Ciência na Teologia das Religiões Afro-brasileiras" e a 4ª edição ampliada do clássico "Exu – O Grande Arcano" o que fazer? Agora sim, podemos afirmar: "O santo era de barro, caiu e quebrou".
Tudo que afirmamos sobre os livros do Saraceni tenho como comprovar. Já os equívocos colocados no livro do Cumino o próprio autor, pelo incrível que isto possa parecer, aprensentou para todos na lista de próprio punho. Por estarmos tranquilos e serenos sobre as afirmações feitas é que solicitamos ao mesmo que nos interpele judicialmente. Se tudo que disse sobre os livros em sua proposta codificadora e erros científicos básicos expostos com transcrições faltaram com a verdade, interpele-me judicialmente. Isto se estende ao Saraceni. Já que a AUEESP, fundada por você Saraceni, entrou contra meu Pai e perdeu nas duas instâncias, entre agora contra mim. Ratifico que estou seguro sobre o que podem vir a me perguntar, mas saibam que vocês precisam provar que quando divulguei a Revista Teologia de Síntese e mais recentemente o JD estava mentindo sobre a iniciativa inédita de difusão acadêmica na área de teologia com ênfase em religiões afro-brasileiras. Aí sim os fatos ficarão clarificados publicamente por meio de um ente imparcial que é a justiça do nosso país.
Voltando as obras, restou ao Saraceni jogar confete em si mesmo já que ninguém representativo o fez. Ele fez um texto no Jornal de Umbanda.com.br na edição de 1º de janeiro de 2011 na sessão "última página": "Livros que mudaram a visão sobre a Umbanda". Adivinhem de quem ele, Saraceni, irá dissertar? Livros que o próprio publicou.
A demonstração de grandeza surge logo no primeiro parágrafo: "(...)fiz uma reflexão sobre toda a obra literária já publicada e que alcança o expressivo numero de sessenta títulos, talvez o maior número de livros já publicados por um umbandista". Como se quantidade quisesse dizer qualidade. Sua auto-afirmação continua no trecho: "(...)amealhei uma grande legião de leitores, amigos e admiradores quanto outra de adversários, críticos e inimigos gratuitos".
Apesar de se colocar como "bom moço", ele continua a afirmar sem titubear: "O tal de respeito às "escolas umbandistas" não passa de mero marketing enganoso, no qual crê quem for ingênuo ou desinformado. No cerne de tudo estão interesses contrariados e nada mais, demonstrando que o tal respeito à diversidade não passa de puro marketing e de hipocrisia mal disfarçada". Ataca quem defende a diversidade e trata mais uma vez assuntos importantes para as religiões afro-brasileiras, que por sinal ele quer separar da Umbanda, de forma comercial, preocupado com marketing e não com o benefício do conceito para a comunidade.
Se não bastasse o exposto, encontramos aqui o ponto alto da auto-afirmação e ideologia dominadora colocando "aai Benedito", que escreve pelo Saraceni, como referência: "Já não se é possível escrever qualquer coisa sobre as Sete Linhas de Umbanda, os Exus da Umbanda, a Escrita Sagrada da Umbanda, os Guias Espirituais Umbandistas e sobre uma vasta gama de assuntos relacionados à Umbanda porque os livros de Pai Benedito os fundamentaram e quem escrever algo esdrúxulo esta fadado ao fracasso literário porque hoje o leitor umbandista tem um referencial ao qual podem comparar o que lhes chegar às mãos".
Olhem o receio de que os seus leitores acessem outras obras, percebam a forma impositiva que ele escreve. Colocando seu livro como referência sobre Sete linhas da Umbanda, Exu, Pemba, Mentores Espirituais, enfim tudo que é central para a nossa religião, fundamentado por ele. Lembrando que é nesta fundamentação que encontramos átomos de maçã, ondas neutrônicas que causam frio, Oyá, Egunitá e Yansã como Orixás diferentes, Tempo sendo cultuado de forma totalmente diferente do Inkice que origina o termo... Enfim, isto é colocado como referência. Então tudo que todos nós que temos a nossa Raiz, o nosso terreiro e que não se coaduna com estas questões esdrúxulas estamos fadado ao referencial codificador dele. Isto é inadmissível e por isso nos posicionamos de forma serena, mas não menos indignada.
A tentativa de domínio é tão grande que ele, leiam bem meus irmãos, ele mesmo afirma na sequência: "De fato, os leitores e admiradores da obra de Pai Benedito têm do que se orgulharem, pois ela retirou a literatura umbandista de um patamar e a elevou a outro, muito mais elevado e fundamentador da religião Umbanda, patamar esse ainda não alcançado por nenhum outro autor umbandista (espiritual ou encarnado) e que descreve a Umbanda como uma religião genuína, elevando-a a altura das outras existentes em nosso país e enaltecendo-a no seio da nossa comunidade de médiuns e frequentadores dos centros de Umbanda".
Vejam meus irmãos que a atitude aqui é novamente impositiva, determinante, dogmática. Todos os autores da literatura umbandista, todos mesmo sem exceção inclusive outras entidades que psicografaram, estão "abaixo" de "Pai Benedito", pois foi ele que colocou em um patamar mais elevado e "fundamentador" da nossa religião.
Insisto na questão. Observem meus irmãos que as entidades que vocês recebem, as entidades que seus pais e mães de santo recebem e por ventura tudo que um autor umbandista que você se afiniza escreveu, todos – sem exceção – estão errados. Estão "abaixo" do "pai Benedito" que o Saraceni recebe.
Olhem como a lógica do senhor de escravo citada inicialmente se encaixa aqui perfeitamente, mantendo as pessoas ignorantes, rezando uma mesma "cartilha", excluídas socialmente da educação. Afinal, a literatura umbandista se balizaria neste modelo por um autor que produziu inúmeros erros contra a Ciência, contra o que aprendemos no colégio. Pior trazido por alguém que se diz iniciado pelo próprio Deus.
Por tudo que foi exposto, não adianta agora o Cumino voltar para uma visão de diversidade se toda a sua base está na codificação proposta pelo Saraceni. Ao mesmo tempo não pode negá-lo, pois foi com o Saraceni que se tornou filho de santo. Então entra no dilema: se negar o que o Saraceni disse, o Cumino se nega, mas se seguir o Saraceni o Cumino se perde... Dito de outra forma, se correr o bicho pega e se ficar o bicho come. E agora?
E deixa a Gira girar!
Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)
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