domingo, 6 de fevereiro de 2011

Sobre a polêmica iniciada pelo Saraceni: mais um texto que faltou com a verdade

Aranauan, Saravá, Axé,

 

Nestes últimos dias discutimos alguns textos do Saraceni estimulados pelas inverdades trazidas na sua recente publicação intitulada de "O Início do Estudo Teológico dentro da Umbanda". Pelo título nós já podemos perceber que sua tentativa é marcar comercialmente e historicamente o início do estudo de teologia dentro da Umbanda por meio dos seus cursos livres. Aliás, o título afirma outra coisa que não esta.

 

Como o primeiro curso livre de teologia, enfatizando que em tal condição o mesmo não possui nenhuma legitimação na sociedade, apenas emite certificados que não tem validade pública, ele estava confortável que viessem a surgir outros. Afinal, garantiu para si este feudo e poderia utilizá-lo ao seu bel prazer. Mesmo que surgissem outros cursos livres não teria problema. Ele se colocou como o primeiro e em tal condição seria a referência. Observem meus irmãos que aqui não existe nenhuma preocupação com o que se é passado e nem para quem. Basta marcar comercialmente o seu projeto como inédito, sem condições de ser plagiado.

 

Isto se observa no texto quando afirma:

"Crie um curso inédito e ainda inexistente na Umbanda para que amanhã ninguém diga que você copiou ou plagiou algo de alguém, meu filho. Só você criando um curso inédito fundamentado nos conhecimentos que estamos lhe transmitindo dará a ele a credibilidade que toda inovação traz em si mesma e nunca, mas nunca mesmo, alguém poderá dizer que você copiou, plagiou ou serviu-se da ideia ou da criação de outra pessoa sem dar-lhe o devido e merecido credito, fato muito comum dentro da Umbanda, meu filho!"

Em tempo, estas seriam as palavras do "preto-velho" que trabalha com ele. Mais a frente este interesse comercial vem novamente à tona com a seguinte passagem:

 

"Poucos dias depois entrei com um pedido de patente do meu Curso de Teologia de Umbanda Sagrada, que 5 anos depois foi negado com a justificativa de que tanto o termo Teologia quanto Umbanda são de domínio público. Mas isso eu já sabia desde 2002, quando um advogado especialista no assunto revelou-me que patente de um nome ou marca só é concedida se não for de domínio público".

Não vou e nem é preciso comentar o fato de dizer que entrou para patentear uma marca sabendo que não ia ganhar... E como os fatos mostraram, perdeu.

 

Acontece que chegou a FTU como uma proposta de curso universitário. Aliás, uma proposta séria, pois a teologia no nosso país é estudada em curso superior. No cenário brasileiro possuíamos até então apenas faculdades cristãs e não tínhamos, até então, inserção alguma na Academia como promotora do ensino. Por seu ineditismo, aqui sim cabe o termo, muitas pessoas acharam que não iria à frente, não daria certo.

 

Por isto não existia o problema em elogiar a iniciativa do Pai Rivas com a FTU, fato este que o Saraceni elogiou em 2003 no mês de abril. Detalhe oito meses antes de sair a portaria autorizando e credenciando o MEC.

 

Com a regulamentação da FTU, ela abriu portas inclusive para outras confissões religiosas que pleitearam suas faculdades de teologia, e a formação de seus primeiros teólogos diplomados pela própria instituição, chancelado pela USP e com aval do MEC, ou seja, com reconhecimento público, com legitimação social, inserindo as religiões afro-brasileiras no rol de construtoras de políticas educacionais para a população ele perdeu, na perspectiva mercadológica a chance de ter a primazia, de ser senhor da teologia umbandista. Leiam atentamente o que ele escreveu no pedido de desculpas em 2003, antes de sair a regulamentação:

 

"Após concordarmos que a Umbanda está acima de posições individuais, parabenizei pessoalmente o Dr. Rivas pela sua iniciativa de criar uma Faculdade de Teologia, assim como, o parabenizei pelo novo visual e novas colocações (as colocações eram as mesmas) na nova Edição do seu livro "Umbanda A Protosíntese Cósmica", um livro fundamental para a Umbanda".

 

Já no texto em 2011, após a diplomação:

"Se relatei tudo isso é porque, justo, dito e feito, tal como me alertara Pai Benedito, o tal cidadão anunciou com estardalhaço que havia conseguido a autorização do MEC. para abrir a primeira faculdade de teologia umbandista. E começou a alardear, por meio de seus discípulos, aos quatro ventos que apenas o seu curso tem valia, desmerecendo o Curso Livre de Teologia de Umbanda".

 

Certamente o Saraceni ficou em uma "sinuca de bico", pois para quem tinha interesses outros que não a Espiritualidade tratando a Umbanda como mercado o advento da FTU foi um tiro no pé. Poderia ele pensar: o que fazer? Realmente, não tem mais nada para fazer. A FTU é um fato, em 2011 está iniciando a sua oitava turma (laroyê Exu!) e os primeiros teólogos com ênfase nas religiões afro-brasileiras estão diplomados.

 

Restou apelar para as falácias, sofismas e desculpas sem noção. Vejamos o trecho final deste mesmo texto:

 

"O fato é que, tal como havia previsto por Pai Benedito, tudo aconteceu e até hoje vemos ataques ao nosso já tradicional Curso Livre de Teologia de Umbanda Sagrada, que não dá a ninguém o diploma de Teólogo e sim, apenas, um certificado de conclusão do mesmo.

Afinal, as maiores forças e autoridades espirituais da Umbanda são os caboclos, os Pretos Velhos, as Crianças, os Baianos, os Boiadeiros, os Marinheiros, os Exús, as Pomba giras e os Exús Mirins e, segundo eles mesmos, nenhum deles formado em uma academia ou faculdade de teologia umbandista. Mas são todos formados e muito bem formados na riquíssima Escola da Vida, regida por Deus e os Sagrados Orixás.

 

Eu também não sou formado em nenhuma universidade, faculdade ou academia, mas assumi esta missão junto a espiritualidade à qual agradeço pela inspiração destes mentores que me assistem e amam a Umbanda e os umbandistas, fazendo o possível para transmitir-lhes através de livros e cursos um conhecimento que ajude na compreensão dos reais fundamentos de nossa religião."

Meus irmãos, só pode ser mesmo o desespero para alguém afirmar tamanho absurdo. De fato, as entidades não se formaram em teologia, mas também não se formaram em nenhuma outra faculdade. Porém não é isto que está em questão. Faculdade é faculdade, terreiro é terreiro. Dentro do terreiro aprendemos com os guias e nossos pais e mães de santo e na faculdade cursamos disciplinas visando uma formação acadêmica.

 

Quem faz confusão com este tema é justamente o Saraceni e seu grupo ao tirar do terreiro a formação sacerdotal e colocá-la em um curso livre. De mesma forma não quer a legitimidade da teologia, quer empurrá-la para o amadorismo de curso livre. E ainda usar os nossos Mentores, nossos Orientadores Espirituais para legitimar tamanha sandice!!!

 

A sensação que temos é que as pessoas ficam esperneando atrás do computador tentando empurrar uma mentira várias vezes para ver se cola. Mas os fatos estão aí. A FTU trouxe uma contribuição inestimável às religiões afro-brasileiras, inserindo-as na educação. Em vez de privilegiar um ou outro setor, em vez de disputar mercado como se a Umbanda fosse uma feira de produtos, optou por contemplar todas as Escolas e valorizá-Las com o sacerdócio no terreiro e o teólogo na academia.



Aranauan, Saravá Fraternal,
Yabauara (João Luiz Carneiro)
Discípulo de Mestre Arhapiagha (Pai Rivas)

Um comentário:

  1. Jorge Bastos lengruber23 de março de 2011 às 16:30

    Interessante e inteligente os comentarios. O que pergunto é: Inteligente até que nível? Interessante a quem ou para quem? Os conceitos e fundamentos de Umbanda são anteriores ao inicio de qualquer formulação de ideias e propostas acadêmicas e filosóficas tentando explicar sua essencia. A essencia esta na existencia. A existencia esta na afirmação. A afirmação na palavra e a palavra na fé.
    Muito louvavel a criação de cursos e centros de estudos avançados. Òtima a existencia de vários livros e artigos sobre religiões afro-brasileiras. Cada escritor, palestrante, estudioso do assunto expõe suas idéias e pensamentos de acordo com seu grau de entendimento do mesmo , vivencia fisica e espiritual.Pelo que pude observar falta muita coisa a ser apresentada. Ai está a essencia da Umbanda.
    Conhecimento é sempre bem vindo. A pergunta que se faz é: Será que os insatisfeitos e visionários das oportunidades$$ não encontrarão uma forma de normatizar a Umbanda e outros cultos afro-brasileiros como se tem visto em outros seguimentos religiosos nos ultimos séculos?
    Para que isso não ocorra , permito-me utilizar sua observação "sacerdócio no terreiro e o teólogo na academia".
    Saravá Umbanda Sagrada.
    Jorge Bastos

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